Pelos carris da noite…


Olho carinhosamente para o menino com a cara pintada com a bandeira da Dinamarca que entra, adormecido, ao colo do pai em Moorgate, ele que ainda não tem idade para saber o que é a tristeza.


LONDRES – Gosto da noite e dos fantasmas que a povoam. Gosto particularmente dos regressos tardios de Wembley para Wimbledon, onde o meu amigo Michael Fernandes me dá cama lavada e umas Kingfisher que bebemos pela tarde com saudades da nossa mãe Índia. Viajo nesta maravilha dos transportes à qual eles chamam simplesmente The Tube. Vejo o grupo de barrigudo de encervejados que entra na estação de King’s Cross cantando desafinados: “Please don’t take me home/I don’t want to go to work/I want to stay here/And have one more beer”.

Olho carinhosamente para o menino com a cara pintada com a bandeira da Dinamarca que entra, adormecido, ao colo do pai em Moorgate, ele que ainda não tem idade para saber o que é a tristeza.

Perco tempo a observar as três figuras absurdas, com botas até aos joelhos carregadas de pregos e camisas cor-de-rosa ou negras retintas, tão actualmente assexuadas que se sentam na minha frente de Elephant & Castle em diante, o sítio no qual, pela janela do comboio da manhã, vejo crescerem prédios espelhados no velho bairro de Blackfriars como se quisessem transformá-lo num Dubai ou em Abu-Dhabi. Escuto com paciência as queixas do paquistanês que me apareceu em Kennington para dizer: “I hate football. I only like cricket”.

Por que ela mo exige, com um olhar que não admite réplicas, passo as mãos pelas canelas da rapariga loura com fiapos ruivos de trajes muito diminutos que se queixa de ter caído nas bancadas, empurrada pelos amigos, no momento do segundo golo inglês.

Lamenta-se de uns inchaços logo abaixo dos joelhos e quer que eu garanta que eles lá estão, como se fosse o seu médico de família. Dou-lhe um conselho de amigo antes de sair em South Wimbledon: “You have to put some ice there”. O velho com uma camisola da Inglaterra do Euro96 mira-me entre o invejoso e o ofendido. Na verdade devia ter-lhe dito: “It’s time to shave your legs, gal…”

Pelos carris da noite…


Olho carinhosamente para o menino com a cara pintada com a bandeira da Dinamarca que entra, adormecido, ao colo do pai em Moorgate, ele que ainda não tem idade para saber o que é a tristeza.


LONDRES – Gosto da noite e dos fantasmas que a povoam. Gosto particularmente dos regressos tardios de Wembley para Wimbledon, onde o meu amigo Michael Fernandes me dá cama lavada e umas Kingfisher que bebemos pela tarde com saudades da nossa mãe Índia. Viajo nesta maravilha dos transportes à qual eles chamam simplesmente The Tube. Vejo o grupo de barrigudo de encervejados que entra na estação de King’s Cross cantando desafinados: “Please don’t take me home/I don’t want to go to work/I want to stay here/And have one more beer”.

Olho carinhosamente para o menino com a cara pintada com a bandeira da Dinamarca que entra, adormecido, ao colo do pai em Moorgate, ele que ainda não tem idade para saber o que é a tristeza.

Perco tempo a observar as três figuras absurdas, com botas até aos joelhos carregadas de pregos e camisas cor-de-rosa ou negras retintas, tão actualmente assexuadas que se sentam na minha frente de Elephant & Castle em diante, o sítio no qual, pela janela do comboio da manhã, vejo crescerem prédios espelhados no velho bairro de Blackfriars como se quisessem transformá-lo num Dubai ou em Abu-Dhabi. Escuto com paciência as queixas do paquistanês que me apareceu em Kennington para dizer: “I hate football. I only like cricket”.

Por que ela mo exige, com um olhar que não admite réplicas, passo as mãos pelas canelas da rapariga loura com fiapos ruivos de trajes muito diminutos que se queixa de ter caído nas bancadas, empurrada pelos amigos, no momento do segundo golo inglês.

Lamenta-se de uns inchaços logo abaixo dos joelhos e quer que eu garanta que eles lá estão, como se fosse o seu médico de família. Dou-lhe um conselho de amigo antes de sair em South Wimbledon: “You have to put some ice there”. O velho com uma camisola da Inglaterra do Euro96 mira-me entre o invejoso e o ofendido. Na verdade devia ter-lhe dito: “It’s time to shave your legs, gal…”