Espanha-Itália. O Clássico do Mediterrâneo 97 anos depois, em Wembley

Espanha-Itália. O Clássico do Mediterrâneo 97 anos depois, em Wembley


É hoje a primeira das meias-finais do Euro2020. Frente a frente dois rivais que se defrontaram pela primeira vez em 1924.


LONDRES – Tem início, hoje mesmo, a partir das 20h, que o Meridiano de Greenwich manda ser a mesma hora do que em Portugal continental, a primeira meia-final do Campeonato da Europa que viveu, até este momento, espalhado por 11 cidades do continente, desde a fervente Andaluzia e de Sevilha, a magnífica, a São Petersburgo, capital dos velhos czares, a cidade das Noites Brancas de Fédor Dostóievski. E o cartaz é de luxo, colocando Espanha e Itália frente a frente, duas equipas cujos treinadores têm vindo a reconstruir numa base de juventude e experiência de forma a contrariar desaires recentes que meteram até o exagero de não termos tido os italianos na fase final do Campeonato do Mundo de 2018, na Rússia.

É velha como a noite dos tempos a rivalidade entre espanhóis e italianos nos campos de futebol. Teve início há quase 97 anos quando, em Milão, no dia 9 de Março de 1924, se ficaram por um mazombo zero-a-zero. A  partir daí, jogaram 33 desafios, estando muito equilibrados – 12 vitórias para a Itália, 9 para a_Espanha e 12 empates. Curioso também o equilíbrio nos resultados, sendo o 4-0 o mais alto que se verificou até ao momento, embora em condições muito díspares: enquanto os italianos conseguiram uma goleada por esses números num amigável datado de 19 de Abril de 1942, os espanhóis conseguiram-no na inesquecível final do Campeonato da Europa de 2012, na Ucrânia e Polónia, sendo o jogo decisivo jogado em Kiev no dia 1 de Julho.

Há cinco anos, no Europeu de França, no Campeonato da Europa do nosso contentamento, a Itália despachou a Espanha no Estádio de França, em Saint-Denis, por 2-0, com golos de Chiellini e de Pelle, logo nos oitavos-de-final. Depois, na tal qualificação escandalosamente falhada dos italianos para o Mundial da Rússia, os espanhóis assinaram a sua vingança com um toque de sadismo, empatando em Itália (1-1) e vencendo em casa por inequívocos 3-0. Como se vê, entre ambos, há sempre contas para serem feitas. Hoje é um bom dia para as saldarem.

 

Invencíveis.

Orgulhosamente invencíveis até esta meia-final farão tudo para assim continuarem. Há no entanto uma diferença. Se a Itália ganhou todos os jogos até ao momento (só sendo obrigada a trabalho reforçado na eliminatória dos oitavos-de-final frente à Áustria, que meteu prolongamento após o 1-1 nos 90 minutos – terminou 2-1), a Espanha tem metido, aqui e ali, os pés pelas mãos, o que pode ser sinal que a sua reconstrução como grande equipa mundial esteja numa fase menos adiantada. Na fase de grupos, consentiu dois empates nos dois primeiros jogos – Suécia (0-0) e Polónia (1-1) – antes de desmembrar a Eslováquia no jogo derradeiro (5-0). Depois viram-se metidos num dos mais espetaculares jogos deste torneio, face à Croácia (5-3). Os quartos-de-final foram, como eles gostam de dizer, um “follón”. Apesar de terem caído sobre os suíços com a gana dos tempos em que lhe chamavam A Fúria, e terem jogado quase uma hora com um jogador a mais por expulsão de Zakaria, viram-se na contingência do desempate por grandes penalidades e bem podem agradecer à Nossa Senhora de Covadonga a forma desastrada como os suíços marcaram as suas.

Se Luis Enrique tem tentado manter as características da sua seleção, assente no tal tiki-taka do qual ele também foi um dos protagonistas, em Barcelona, Roberto Mancini resolveu impor na “squadra azzurra” um estilo bem mais ofensivo do que aquele que os italianos sempre nos habituaram. Não certamente por acaso, já que é um futebol que ele gostava de jogar e pelo qual ganhou fama. Mas a verdade é que, apesar da atitude mais corajosa, a defesa italiana, baseada na experiência de Bonucci e Chielini, não cede grandes espaços aos adversários. O Clássico do Mediterrâneo, como já lhe chamaram, tem hoje, significativamente o seu quarto jogo consecutivo em fases finais de Europeus. E se há jogo que nem um nem outro esquecem, foi o que os pôs em disputa no Campeonato do Mundo de 1934, em Florença. Os italianos de Mussolini esperavam um passeio, mas nos quartos-de-final, depois de estarem a perder por 0-1 (golo de Luis Regueiro, aos 30 minutos), lá conseguiram o empate por_Ferrari (aos 44). O desempate foi logo no dia seguinte, de novo no Estádio Giovanni Berta. Para glória do regime fascista das camisas negras italianas, o menino bonito do público, Giuseppe Meazza, resolveu a contenda com um golo logo aos 11 minutos (1-0). O Espanha-Itália anda de mão dada com a História.