A taxa de poupança dos portugueses fixou-se nos 14,2% no primeiro trimestre. Trata-se de um máximo histórico, de acordo com os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). A aliar a isto há que contar ainda com o facto de a maioria dos portugueses já ter recebido o reembolso do IRS e de estarem prestes a ter na sua mão o subsídio de férias. A pensar naqueles que não querem gastar essa verba extra, há uma decisão para tomar: amortizar dívidas – relacionadas com o crédito, nomeadamente o de habitação – ou investir numa aplicação financeira. Mas antes de tomar uma decisão, faça bem as contas porque nem sempre é fácil escolher a melhor solução.
Entre amortizar e investir, o consumidor consegue sempre poupar, seja por via dos juros que deixa de pagar no crédito, seja pelos ganhos ao investir. Claro que na primeira linha de análise deve estar o perfil da família e aquilo que mais valoriza: se a redução dos encargos ao amortizar o crédito à habitação ou pessoal, se a segurança de tempos futuros.
No caso do crédito à habitação, e considerando os reduzidos juros atualmente praticados, na maior parte das vezes não compensa amortizar, sobretudo se o spread for muito baixo – uma situação comum nos empréstimos contraídos até há cerca de cinco ou seis anos.
Neste caso, o dinheiro dará mais frutos investido numa aplicação sem risco mas, aí, o desafio é encontrar o produto que apresente a melhor taxa de remuneração (ver coluna ao lado). Porém, se a Euribor subir, a amortização pode passar a ser a melhor opção. Já no caso do crédito pessoal, é quase sempre preferível amortizar, devido às elevadas taxas de juro aplicadas.
Como comparar taxas A primeira regra de ouro passa por comparar as taxas de juro do crédito e do produto de investimento anualmente, já que a situação pode mudar em pouco tempo.
A fórmula é simples: analise a taxa de juro aplicada ao crédito – a TAN (taxa indexante mais o spread) – e tenha também em consideração a taxa da aplicação que pretende fazer, a TANL (taxa anual nominal líquida). Para melhor compreender esta análise, considere a TAN do crédito como o custo que suporta pelo crédito e a TANL como o ganho obtido pelo investimento. Conhecendo as duas taxas, opte pela amortização se a TAN for superior à TANL, na medida em que a poupança obtida nos juros a pagar pelo empréstimo será superior à remuneração do investimento.
Se tiver um crédito à habitação com uma taxa fixa, em princípio, não precisa de se preocupar com a variação das taxas, resultado da subida da Euribor, o que torna a comparação mais fácil. No entanto, deve ter em conta que, neste caso, a comissão por amortização antecipada é superior: 2%, contra os 0,5% dos créditos de taxa variável.
Caso amortize uma parte da dívida, ela deve coincidir com a data de vencimento da prestação. Se o reembolso for motivado por morte, desemprego ou deslocação profissional, está isento de comissões. Os bancos não podem cobrar encargos adicionais ou aumentar a penalização para o máximo nos contratos que prevejam uma percentagem inferior ou a isenção. E estas regras são válidas para os contratos novos e antigos, para compra, construção e obras em habitação própria e permanente, secundária ou arrendamento e aquisição de terrenos para construir casa própria.
Feitas as contas, se amortizar parcialmente 20 mil euros, a comissão não pode ultrapassar 100 euros num crédito com taxa variável e 400 euros se tiver taxa fixa. Tem até sete dias úteis para informar o banco, por carta registada com aviso de receção.
No entanto, se tiver um crédito à habitação com taxa variável e spread até 2,5%, então opte por investir o dinheiro numa aplicação sem risco (ver coluna ao lado), capitalizando os juros para aumentar o rendimento. Já no caso do crédito pessoal, a amortização representa quase sempre a melhor alternativa.
Produtos para investir sem risco
Rendimentos anuais de 3%, 4% ou até mesmo 5% em produtos de poupança com capital garantido e baixo risco fazem parte do passado. Os juros atualmente praticados são em ponto pequeno e há bancos que já nem remuneram os depósitos a prazo. Ainda assim, veja as alternativas.
Depósitos a prazo
Se a simplicidade deste produto de poupança é uma das suas vantagens, a taxa de remuneração oferecida torna a aplicação cada vez menos atrativa. Apesar de ter vindo a perder adeptos nos últimos anos, continua a ser um dos instrumentos de poupança preferidos dos portugueses. O rendimento mensal mais curto dos consumidores, a concorrência de outros produtos de poupança e as reduções de remuneração praticadas explicam esta tendência de queda.
Certificados de aforro
Este produto, que em anos anteriores foi considerado uma verdadeira alternativa de poupança, tem vindo a perder cada vez mais terreno devido à sua baixa taxa de remuneração. Esta é calculada com base na média dos valores da Euribor a três meses observados nos dez dias úteis anteriores, acrescida de 1%. Mas conte com remunerações pequenas.
Certificados do tesouro Poupança Crescimento (CTPC)
A taxa de juro é crescente: no primeiro e segundo ano são pagos 0,75% (remuneração bruta), que sobem para 1,05% no terceiro ano, 1,35% no quarto, 1,65% no quinto e 1,95% no sexto, até atingirem no último ano 2,25%. A taxa de juro a partir do segundo ano é acrescida de um prémio correspondente a 40% do crescimento médio real do PIB, a preços de mercado nos últimos quatro trimestres conhecidos no mês anterior à data de pagamento de juros.
Dicas para investir
1.Ter em conta o imprevisto
Rentabilizar valor extra. Antes de investir, pense se realmente precisa desse dinheiro. Se chegar à conclusão de que não precisa, então poderá começar a aplicar essa verba extra de forma a rentabilizá-la da melhor forma. Não se esqueça de que deve reservar dinheiro para despesas de três a seis meses do agregado familiar para que consiga enfrentar eventuais imprevistos. É o caso, por exemplo, dos custos de saúde.
2. Investir a longo prazo
Mercado bolsista. Pense sempre a longo prazo, principalmente se estiver a pensar em apostar no mercado bolsista. A explicação é simples: quanto mais tempo der aos seus investimentos, mais pode arriscar e, como tal, mais pode rentabilizar. Deve investir no mínimo a cinco anos – dez anos é bom e 20 ainda é melhor – para que o montante aplicado em ações seja maximizado e possa minorar perdas temporárias.
3. Evitar investir tudo no mesmo
Diversificar investimentos. Não colocar todos os ovos no mesmo cesto é uma das regras de ouro que deve seguir sempre que está a pensar em investir. Isso significa que não deve deter apenas um título ou títulos de empresas cujos lucros dependem de negócios semelhantes. Caso aconteça uma alteração no regime legal, o seu património pode sofrer profundas alterações.
4. Não apostar no que não percebe
Informação. Se não percebe o produto que uma empresa vende, não compre ações. Se quer investir em dívida pública mas não percebe como funcionam as obrigações do Tesouro, compre certificados de aforro. Se não percebe a descrição da política de investimento no prospeto de um fundo, não o subscreva. Se o depósito a prazo que lhe propõem tem uma fórmula de cálculo para aferir a taxa de juro, troque-o por um depósito de taxa simples.
5. Evite endividar-se
Compare propostas. É um pecado capital para o investidor: financiar-se para investir. Se os seus investimentos desvalorizarem, o crédito tem um efeito multiplicador dos prejuízos. Se as suas aplicações subirem, o crédito amortiza o efeito dos ganhos. Qualquer que seja o resultado, os empréstimos para investir nunca têm os efeitos que se desejavam à partida. Só há uma entidade que ganha sempre: o banco, quer o investidor ganhe ou perca.
6. Ter em conta o perfil
Risco ou não. Se tiver um perfil conservador, o investidor pretende preservar o valor investido e opta por produtos de baixo risco. Se for moderado, já está disposto a assumir um risco considerável nos investimentos e a sua escolha recai, por exemplo, em fundos imobiliários. Se for dinâmico, assume um risco elevado nas soluções e aposta em ações.