Faltam cinco etapas para o fim da edição de 2021 da Volta a Itália em bicicleta. Na geral, o colombiano Egan Bernal (INEOS) lidera com 2.24 minutos de vantagem frente a Damiano Caruso (Bahrain Victorious), segundo, e 3.40 sobre o britânico Hugh Carthy (Education First-Nippo), terceiro classificado. A época tem sido de sonho para Bernal, que, recorde-se, venceu a 16.ª tirada da competição, a sua segunda conquista nesta edição da Volta a Itália. O colombiano, que venceu o Tour de France em 2019, lidera a classificação geral desde a 9.ª etapa, mas as cinco tiradas que se aproximam serão um teste à sua disciplina e à sua capacidade de se manter na cabeça da classificação.
Sprint em direção à final
Hoje, o pelotão arranca na 17.ª etapa da Volta a Itália. São 193 difíceis quilómetros entre Canazei e Sega di Ala. A tirada montanhosa começa com uma fase de descida até à cidade de Trento, com uma pequena subida na zona de Sover pelo caminho. Ainda assim, só ao fim de 140 quilómetros de percurso é que os ciclistas vão arrancar numa exaustiva subida pelo Passo San Valentino, ao longo de 15 quilómetros, que atinge o seu pico a 1315 metros de altitude. Depois, no esforço final, surge uma nova subida de 11 quilómetros, entre Sdruzzinà e a meta em Sega di Ala, onde se medem inclinações de até 17% nos últimos quilómetros da etapa.
Esta será definitivamente uma das tiradas mais difíceis da competição, onde beneficiarão os ciclistas mais treinados para o ambiente montanhoso e as difíceis e longas subidas, mas também os sprinters que saibam aproveitar as planícies da Lombardia, nos primeiros quilómetros da etapa, para ganhar uma importante vantagem de tempo antes das subidas montanhosas.
Mas esta é só a primeira das últimas cinco etapas da competição, que finda com um contrarrelógio em Milão. Os ciclistas vão invadir, a 30 de maio, o centro da cidade transalpina, onde 30,3 quilómetros poderão decidir quem será o vencedor. Até lá, no entanto, ainda há muitas montanhas para subir, e muitos quilómetros para rodar.
Portugueses no giro
Na competição, a representação portuguesa ficou a cargo dos ciclistas João Almeida, Rúben Guerreiro, e Nélson Oliveira. Guerreiro, no entanto, acabou por desistir do Giro após uma queda em massa na 15.ª etapa da competição. O ciclista, que em 2020 venceu a 9.ª etapa da Volta a Itália e a maglia azzurra (classificação da montanha), estava no 15.º lugar na classificação geral, mas um aparatoso acidente, que obrigou à neutralização temporária da corrida, viu o ciclista ser obrigado a desistir.
Já João Almeida (Deceuninck – Quick-Step), que em 2020 liderou durante 15 dias a classificação geral da Volta a Itália, e acabou no quarto lugar da classificação geral, teve, até agora, uma série de altos e baixos. A performance na 16.ª etapa, no entanto, permitiu ao ciclista de 22 anos entrar no top-10 da classificação geral, ao cruzar a meta em sexto lugar, a apenas 1:21 minutos de Egan Bernal. Assim, Almeida conseguiu colocar-se no 10.º lugar da classificação geral, a 10:01 minutos do colombiano.
A etapa rainha, entre Sacile e Cortina d’Ampezzo, foi verdadeiramente uma lição dada por Almeida. O jovem ciclista, que é quinto classificado na luta pela maglia bianca (classificação dos jovens), esteve na luta pela liderança durante todos os 153 quilómetros de percurso, e a vontade, garantiu em entrevista após a corrida, era mesmo a de vencer. “Senti-me bem hoje, apesar da chuva e do frio. Queria tentar a vitória na etapa, por isso é que ataquei e me juntei à fuga”, revelou, citado pelo site oficial da Deceuninck-QuickStep. Ainda assim, admitiu que o pelotão “estava muito forte e endureceu a corrida”. “Ainda falta muito até Milão, assim como muitas etapas duras, mas vamos continuar dia-a-dia e ver onde isso nos leva”, concluiu ainda o ciclista.
João Almeida batalhou até ao último segundo da 16.ª etapa da Volta a Itália, mas o português também lucrou do pobre desempenho do seu colega de equipa, Remco Evenepoel. O belga perdeu mais de 24 minutos para Bernal, e acabou por cair para o 19.º lugar na classificação geral, o que abriu caminho para que Almeida brilhasse e, consequentemente, se tornasse o ciclista melhor classificado, à entrada da 17.ª tirada, da sua equipa. “Não foi um bom dia se perdi 25 minutos. Tive um dia completamente off. Nós sabíamos que isto poderia acontecer. Não é nada que me envergonhe”, começou por explicar Evenepoel, em declarações à comunicação social. “Treinei apenas durante dois meses, não podia estar entre os 10 melhores”, continuou.
Evenepoel não competia desde a sua queda na Volta à Lombardia, em 2020, e aproveitou ainda as declarações para enaltecer a “grande etapa de João Almeida”, colega de equipa com quem tem batido uma autêntica novela em luta pelo melhor lugar dentro da Deceuninck-QuickStep.
A história de Nélson Oliveira é outra. O ciclista da Movistar findou a 16.ª etapa no 38.º lugar, a 17.55 minutos da liderança, e acabou por perder uma posição na classificação geral, caindo para o 27.º posto, onde roda a mais de 45 minutos de distância do colombiano.
Egan Bernal lidera
Bernal conquistou, até agora, duas etapas na competição, mas a liderança na classificação geral tem sido assegurada por um constante distanciamento temporal face aos restantes candidatos ao título, em praticamente todas as etapas. Na 16.ª tirada, que augurava tragédia devido ao mau tempo – o percurso foi reduzido de 212 quilómetros para 153 como consequência – Bernal sobressaiu na corrida à liderança, nos últimos 20 quilómetros da tirada. Na fuga chegaram a estar envolvidos ciclistas de 15 equipas diferentes, entre eles João Almeida, o português da Deceuninck-QuickStep. O colombiano aumentou a pedalada, atingiu o Passo Giau isolado, e a partir daí a descida até Cortina d’Ampezzo garantiu a conquista, alcançando aquela que foi a 31.ª vitória de um ciclista colombiano numa etapa da Volta a Itália, igualando o registo dos ciclistas britânicos. Para trás no pódio ficaram Romain Bardet (Team DSM) e Damiano Caruso (Bahrain Victorious), ambos a 27 segundos do colombiano.
Mudanças inesperadas
A tragédia bateu à porta dos italianos no domingo, dia 23, quando uma cabine do teleférico que liga a localidade de Stresa, na região de Piemonte, ao monte Mottarone, caiu, vitimando 14 pessoas. Acontece que a 19.ª etapa da Volta a Itália tinha prevista a passagem pelo Mottarone, o que tem levantado algum debate no país sobre se o circuito deverá ou não ser repensado para evitar a passagem por este local. Enrico Giovannini, ministro italiano dos Transportes, aliás, anunciou em comunicado que requisitou à organização o redesenho da etapa, pedindo “respeito pelas vítimas da tragédia do teleférico”. Giovannini pediu também à organização do evento a inclusão de “um momento de recolhimento, em memória das pessoas que perderam a vida neste trágico acidente”. Pedido este que a organização acabou por aceitar, encurtando o circuito em 10 quilómetros.