25 de Maio de 1961. O carniceiro Eichmann conseguiu o que Moisés não foi capaz…

25 de Maio de 1961. O carniceiro Eichmann conseguiu o que Moisés não foi capaz…


A 52.ª sessão do julgamento de Adolf Eichmann, que os serviços secretos israelitas foram buscar clandestinamente ao seu exílio na Argentina, foi das mais acaloradas. Houve quem não resistisse em gritar, em pleno tribunal, os crimes perpetrados pelo antigo coronel das SS.


Entrávamos na 52ª audiência do julgamento de Adolf Eichmann, antigo coronel das SS, um dos maiores carniceiros do regime nazi e que os serviços secretos israelitas tinham conseguido capturar em segredo na Argentina para o trazerem para se apresentar perante um juiz em Jerusalém. Dezenas e dezenas de testemunhas foram ouvidas, pelo que as sessões se prolongavam muito para além do programado.

“Encontrou-se com Eichmann em Budapeste? É capaz de o reconhecer?”, perguntava o procurador. “Sem dúvida!”, respondia o inquirido, o dr. Fraudiger. “Andava sempre com uma pistola à cintura. Reconhecê-lo-ia em qualquer lado!” Cada sessão do julgamento servia para trazer à superfície a barbárie em que Eichmann se movimentara com o maior dos à vontades. Mas essa sessão nº 52 ficou marcada por uma série de incidentes. Tudo começara no dia 11 de Abril de 1961, no Tribunal Distrital de Jerusalém, depois de dias e dias a fio de interrogatórios ao criminoso nazi que se limitava à lengalenga de ter cumprido ordens e nada mais do que isso. O julgamento foi presidido por três juízes: Moshe Landau, Benjamin Halevy e Yitzhak Raveh. O procurador principal foi Gideon Hausner, assistido por Gabriel Bach do Departamento de Justiça e pelo Procurador Distrital de Tel Aviv, Yaakov Bar-Or. A equipa de defesa era formada pelo advogado alemão Robert Servatius, acompanhado pelo assistente Dieter Wechtenbruch, e o próprio Eichmann.

De súbito, uma voz esganiçada interrompeu o habitual murmúrio do tribunal – um húngaro, de nome Sliszasy, gritou bem alto o seu ódio a Eichmann, acusando de ter assassinado toda a sua família. Logo depois, um velho ortodoxo, de longas barbas e quipá no cocuruto, também ergueu a voz: “Moisés não pode entrar na Terra Prometida, e tu, nosso carrasco, estás aqui a pisá-la, a pisar o nosso solo sagrado, o solo da Palestina!” A tarde ameaçava tornar-se longa. O juiz deu ordem de expulsão aos insurrectos. Servatius exigiu a anulação do julgamento com base no facto de o réu ter sido raptado e não ter, por isso, direito a uma defesa livre e verdadeiramente isenta. Eichmann reconheceu que não gostava de judeus, mas negou sempre ter conhecimento ou participação na Solução Final. Na sentença derradeira, foi pessoalmente ilibado de matar alguém, mas culpado de crimes contra a Humanidade. Morreu pendurado numa corda a 15 de Dezembro de 1961.