Que o jornalismo é uma actividade fundamental em qualquer democracia e Estado de Direito que se preze, ninguém tem dúvidas. Que os jornalistas enquanto motor da actividade em questão são peça fundamental do escrutínio público que a sustenta, sobretudo no que à política e seus agentes diz respeito, muito menos. Digo-o honestamente, sem qualquer falsidade pessoal.
Contudo, é igualmente inequívoco, sobretudo pela sua repetição ao longo dos tempos, que há alguns jornalistas que não primam propriamente por estes princípios, circunstância que não colocando em causa a idoneidade de todo o sector em questão, merece ainda assim a devida reprovação.
Fernanda Câncio é, em minha opinião, um exemplo claro do que acabo de considerar. Sobretudo porque é estranhíssimo que alguém que tenha tido uma relação tão próxima com José Sócrates e aparentemente nunca tenha estranhado nada nos seus comportamentos e estilo de vida, insista reiteradamente em censurar todos aqueles com os quais discorde.
Esta semana, após a ida de André Ventura a tribunal pela utilização de uma imagem afecta a moradores do Bairro da Jamaica durante o seu debate presidencial contra Marcelo Rebelo de Sousa (circunstância por si só, ridícula), escreveu um artigo em que não se coibiu de colocar em causa o que no tribunal havia sido dito pelo próprio ou por outros representantes do CHEGA.
Como digo é tudo muito estranho. Sobretudo quando da escrita que assinou me deu a sensação que colocou em causa algumas declarações que teriam que ver com a origem de algumas contas de redes sociais ligadas ao partido.
Estaria Câncio a dormir, ao ponto de nunca ter questionado a origem das contas bancárias do seu ex-namorado bem como o dinheiro que a seu lado gastava e do qual, mesmo que indirectamente, também nessa época, usufruía?
Não estou com isto a dizer que a origem dessas contas e do seu recheio seria ilícita ou não, que José Sócrates é culpado de alguma coisa ou que Câncio fosse disso conhecedora e ao sê-lo o devesse ter denunciado. Tenho a minha opinião, mas disso ter-se-ão de se encarregar os tribunais.
Aquilo que sinto poder dizer, porque é a minha opinião e dela ninguém me pode privar, é que Fernanda Câncio não passa de uma hipócrita que não reunindo os níveis mínimos de idoneidade pessoal, intelectual e profissional, não respeita também o significado da palavra coerência.
Disso deve Fernanda Câncio envergonhar-se. Envergonhar-se porque em vez de se preocupar em perseguir André Ventura e o Chega se deveria preocupar antes em criticar e questionar quem enquanto primeiro-ministro conduziu o país onde ele se encontra.
Para finalizar, porque pese embora confesse tenha achado estranho, devo dizer que ao mesmo tempo também isso me divertiu, eu que acompanhando André Ventura a esta audiência, ao olhar para o meu lado direito dei com Fernanda Câncio sentada praticamente a meu lado para assistir ao julgamento em causa, gostaria que a mesma me explicasse porque não compareceu ao julgamento de José Sócrates para poder fazer o relato que fez sobre a audiência de André Ventura com a mesma ferocidade.
– Será porque Fernanda Câncio, também ela, consta dos autos do Processo Marquês?
– Será porque Fernanda Câncio foi também ela escutada em conversas telefónicas meio codificadas e por isso, estranhas?
– Será porque a sua suposta valentia só serve para criticar aqueles de que não gosta e desaparece perante aqueles sobre quem alegadamente impendem as mais sérias dúvidas?
São questões que deixo e se para elas não tenho resposta, há uma coisa que sei. Não há uma só palavra que dita ou escrita por Fernanda Câncio possa ser levada a sério.
Rodrigo Alves Taxa