E ao 60º dia marciano, fez-se oxigénio a bordo do rover Perseverance

E ao 60º dia marciano, fez-se oxigénio a bordo do rover Perseverance


Experiência Moxie é o mais recente sucesso do quinto rover da NASA em Marte.


Foi ainda um feito “modesto”, assumiu a NASA, mas prova que é possível usar o que Marte dá para produzir oxigénio, o que numa escala maior significa que futuras missões tripuladas poderão não ter de seguir para o planeta vermelho carregadas com tanques de oxigénio. Um dos equipamentos a bordo do rover Perseverante, ainda experimental, permite usar dióxido de carbono para extrair oxigénio e funcionou esta terça-feira pela primeira vez ao 60.º dia marciano de missão, 63.º dia se as contas se fizerem pelas 24 horas do dia terrestre – lá cada dia tem mais 37 minutos.

São quase mais 40 minutos que astronautas terão para respirar a cada dia de missão e os cinco gramas de oxigénio produzidos pela primeira vez noutro planeta dariam para sensivelmente dez. Mas as necessidades de oxigénio em futuras missões não se ficam por aqui. Para um foguetão voltar à Terra, é preciso oxigénio para queimar o combustível e as contas apresentadas esta semana pela NASA mostram o que está em causa: para tirar quatro astronautas do planeta seriam precisos 7 toneladas métricas de combustível e 25 toneladas métricas de oxigénio e levá-las da Terra seria uma tarefa pesada. Assim, a ideia é que demonstrando o conceito, se pudesse antes pensar em levar um conversor como o que agora foi pela primeira vez demonstrado na experiência Moxie – Mars Oxygen In-Situ Resource Utilization Experiment. Como funciona? A NASA explica que 96% da atmosfera de Marte é composta de dióxido de carbono. O que este aparelho faz – e agora já fez pela primeira vez – é separar os átomos de oxigénio das moléculas de dióxido de carbono. O monóxido de carbono remanescente é emitido para a atmosfera marciana, que já é inóspita, e o oxigénio é armazenado. A conversão requer uma temperatura de 800 graus, um aquecimento que nesta experiência levou cerca de duas horas até se começar então a produzir oxigénio a um ritmo de 6 gramas por hora. Nesta primeira tentativa, foram conseguidos numa hora 5,4 gramas de oxigénio, o que serviu essencialmente para demonstrar que o equipamento sobreviveu ao lançamento e viagem de sete meses até Marte.

A ideia de usar os recursos marcianos para tornar Marte mais habitável não se fica por aqui: além do dióxido de carbono, há planos para usar regolith (chamado cimento de Marte, um material que se encontra no solo) e fazer propelente, ar respirável e água, juntando hidrogénio, descreveu Trudy Kortes, responsável pela demonstração de tecnologias da agência espacial norte-americana. Para já, foi a primeira vez que um instrumento humano produziu oxigénio noutro mundo, assinalou.

A missão do Perseverance continua. Pela frente haverá recolha de amostras e mais demonstrações tecnológicas e busca por sinais de vida passada ou presente. As amostras de rocha e poeira só deverão ser enviadas para a Terra em 2031, chegando em 2032. Serão recolhidas por uma missão conjunta da NASA e da Agência Espacial Europeia prevista para 2026.