Na passada semana o CHEGA organizou em Lisboa uma nova manifestação, manifestação essa que convém notar, concordando-se ou não com ela e com os seus motivos, correu com a maior dignidade, elevação e sem quaisquer momentos de tensão ou episódios de confrontação.
O próprio trajecto que passou pela Rua do Século e parou por momentos em frente ao Tribunal Constitucional onde André Ventura proferiu um breve discurso não promoveu, em meu entendimento, qualquer falta de respeito às Instituições ou a quem quer que seja.
Aqui chegado, sendo o tema da manifestação em apreço um protesto contra a campanha que se vem fazendo em torno da ilegalização do CHEGA e sendo o Tribunal Constitucional quem decide sobre esse tipo de matérias, não vejo qual o excesso cometido ou a falta de respeito propiciada.
De resto, como o próprio Pacheco Pereira teve oportunidade de referir no programa “Circulatura do Quadrado” da passada quarta-feira, já diversas manifestações se têm realizado perto de outros tribunais, ministérios ou da própria Assembleia da República e nunca vi ninguém dizer sobre esses momentos o que neste mesmo programa se disse.
Mas eu que tantas vezes e em tantas matérias estou nos antípodas de Pacheco Pereira devo dizer que não foi com a sua intervenção que fiquei chocado. Fiquei chocado com António Lobo Xavier.
Talvez algumas pessoas do meu partido não gostem que eu hoje e aqui o escreva. Mas vou escrevê-lo porque é a verdade. Sempre gostei de escutar António Lobo Xavier. Concordando ou não consigo e sendo que não o conheço de lado nenhum nem sequer alguma vez com ele me cruzei na rua, reconheço-lhe ainda assim inteligência, ponderação, carácter, finura de trato, cultura, conhecimento, caldo político e tanto quanto possível, uma hábil capacidade em comentar os assuntos com determinado nível de isenção. (ou pelo menos capacidade de transmiti-la mesmo quando possa não ser totalmente sincera)
Repito que estou a ser honesto. Não lhe estou a passar a mão no pelo para seguidamente lhe cair em cima. Nos tempos que correm ninguém tem a coragem de elogiar quem quer que seja. Muito menos pessoas que não conhece pessoalmente e que fazem parte de partidos diferentes do seu. Mas eu sempre o fiz na minha vida. Fiz e continuarei a fazer quando entenda adequado.
No entanto, António Lobo Xavier teve neste programa uma postura, ela sim, completamente despropositada, incoerente com o perfil que acima sobre si tracei e muito menos adequada para alguém que é conselheiro de Estado.
É certo que tem todo o direito em não concordar com a manifestação que o Chega organizou. O direito de não concordar e fazer as suas interpretações. Aquilo que já não pode é afirmar com a leviandade com que o fez que a manifestação representa o primeiro motivo válido para reflectir sobre a ilegalização do Chega desde a sua criação.
Nunca houve motivos para essa ilegalização e não foi com a manifestação que passou a haver, António.
Até porque Lobo Xavier, tanto quanto percebi, assentou a sua discordância e interpretação no facto de considerar que o Chega e André Ventura teriam feito pressão sobre o Tribunal Constitucional por considerar que foi a primeira vez que um partido político se manifestou junto a um tribunal contra pretensos processos do seu interesse.
Ora este argumento da pressão é francamente disparatado. Na essência e até no seu múltiplo critério.
A essência já anteriormente a expliquei e não vale a pena repetir. Já o múltiplo critério diz respeito ao facto de Lobo Xavier tanto se indignar com aquilo que considera ter sido a pressão do Chega para não ser ilegalizado, mas não o ter ouvido falar com tanto ênfase na pressão, essa sim real e realizada por muitos, para ilegalizar o Chega.
Lá vai dizendo que não concorda. Mas com muito menos energia.
Mas mais, quero deixar uma chamada de atenção a António Lobo Xavier na medida em que sendo militante e antigo deputado do CDS aparenta agora ter laivos de esquecimento histórico.
– O caminho das pedras que o CHEGA atravessa em 2021 é o mesmo caminho das pedras que o CDS percorreu após o 25 de Abril.
– Hoje, é ao Chega que apelidam de fascista. Após o 25 de Abril esse mesmo epíteto era dirigido ao CDS. Ao CDS e a todos os seus quadros e militantes. Inclusivamente a Freitas do Amaral que durante anos foi conotado com o anterior Regime apenas por ter sido próximo de Marcelo Caetano como é por todos sabido.
– O CDS para ser legalizado foi basicamente obrigado a manter-se como uma direita fofinha e que não levantasse grandes problemas à esquerda e à extrema esquerda.
– O Chega é hoje perseguido pelo sistema. Já se esqueceram do Palácio de Cristal?
– O Chega é hoje gratuitamente prejudicado em várias sondagens. No passado o mesmo acontecia ao CDS que aparecendo nas sondagens com 2 e 3 % chegava depois na realidade a ter duas ou três vezes mais.
– António Lobo Xavier quase que acusa André Ventura de promover o culto do líder. Com o devido respeito, mas todos nós sabemos como funcionava o CDS de Paulo Portas em que quem lhe fizesse a mínima sombra era posto a andar na hora. Nuno Melo e a sua reforma dourada na Europa que o digam.
Como estes exemplos eu poderia dar muitos outros porque eles existem e naturalmente faço esta comparação com as devidas ressalvas porque o Chega apresenta-se hoje com uma força que o CDS nunca teve. Desde logo porque se afirma sem pudores enquanto partido de Direita. Não é a direita da esquerda nem tão pouco a extrema-direita que reiteradamente se inventa ser. É Direita. Aquela que nunca houve em Portugal e que por isso tanto coça na barriga de muitos.
Aquilo que eu gostava que Lobo Xavier fizesse, e com isto repito, não estou a dizer que não tenha o direito de dizer o disse embora seja um enorme disparate, era vê-lo exercer o mesmo juízo sobre todos os que dentro e fora do seu partido pugnam e pressiona tudo e todos pela ilegalização do Chega.
Para terminar, António Lobo Xavier perdeu ainda a cabeça quando afirmou que não percebe porque razão as televisões e os comentadores foram tão condescendentes com a manifestação do Chega.
Foi contracensual. Primeiro porque criticando uma suposta pressão, fez com isso mesmo, ele próprio, pressão para que os meios de comunicação social se atirassem ao Chega.
Em segundo lugar, porque como é sabido, raras são as ocasiões em que o Chega beneficia de qualquer bom tratamento pelos jornalistas ou pela imprensa. Aliás, já que estão todos tão interessados em criticar e já convidaram pessoas externas ao painel do programa para a ele se juntar em momentos pontuais, porque não convidam André Ventura para estar presente um destes dias e submetem-no ao confronto e escrutínio das questões que recorrentemente levantam?
Isso já não são capazes de fazer. E eventualmente se o quiserem fazer nem o canal televisivo onde trabalham, aprova.
Por tudo isto é chegada a hora de deixarem de se fazer passar por virgens ofendidas muito preocupadas com a democracia. Devem antes lembrar-se que se a democracia está como está não é ao Chega nem ao André Ventura que é deputado há dois anos que tal se deve.
Deve-se aos vossos partidos, às vossas posturas, à incapacidade de promoverem aquilo que os portugueses vos pediram durante décadas, à reiterada incompetência que reina nas vossas bancadas parlamentares (com algumas excepções, naturalmente) e a toda uma geração de políticos que mais se tem preocupado consigo do que com o povo.
Em vez de criticarem o Chega, o André Ventura, de quererem ilegalizar o partido ou prender o homem, lembrem-se que se todos vocês e os vossos partidos tivessem sido competentes e capazes de conduzir o país ao sucesso, eventualmente, o Chega nem existiria. Nem o Chega, nem a Iniciativa Liberal, nem o Livre, nem nenhum dos novos partidos que surgiram.
Sejam sérios! Sérios e corajosos!
Rodrigo Alves Taxa