20 de abril de 1956. Nikita e o seu esforço para ser o mais inglês possível…

20 de abril de 1956. Nikita e o seu esforço para ser o mais inglês possível…


A viagem a Londres foi de tal forma preparada ao milímetro que Krushev passou seis meses no estudo profundo das vicissitudes do povo britânico de forma a não se deixar apanhar pelas suas habituais e desagradáveis gafes… O mundo esperava que a Cortina de Ferro começasse a levantar-se.


Nikita Krushev aperaltou-se. Afinal não se vai a Londres como quem vai a um moinho. Precisava de um esfregadela de boas maneiras, algo que os russos não parecem sentir falta mas que os ingleses levam a peito como poucos.

No dia 20 de abril de 1956, o Presidente da União Soviética aterrava em Heathrow para uma série de reuniões com os mais altos dignitários britânicos. Uma indiscrição habitual nestes assuntos que envolvem uma série de pessoas muito razoável trouxe a público que Krushev não se limitara a ter aulas de etiqueta, mas que também fora sujeito a um intenso treino psicológicos levado a cabo por uma série de espiões que mantinha no Reino Unido. Chefiava esse grupo o dr. Malenkov, antigo chefe de Governo da URSS, o trabalho recebeu, pela imprensa internacional o título de impecável. Krushev passou ao lado das gafes com uma mestria assinalável graças ao se batalhão psicológico.

Meses antes, numa visita oficial à Jugoslávia, Krushev fora completamente derretido pelos meios de comunicação social locais. Levou com insultos de bruto para cima, seja pela sua falta de tato a lidar com os seus homólogos, seja por uns poucos de comportamentos absolutamente impróprios, muito provavelmente provocado pelo excesso de libações alcoólica. Mas, enfim, a Inglaterra era a Inglaterra, com os seus tiques de alta burguesia, pelo que era necessário corrigir algumas falhas. O treino foi intenso e durou cerca de seis meses.

Do outro lado. A verdade é que, no diz respeito aos serviços secretos ingleses, as preocupações não eram menores. A pasta que continha o material referente à viagem de Nikita Krushev tinha um carimbo a vermelho bastante explícito. Perturbadora.

Alguns dias antes, um dos mais altos dirigentes do Partido Comunista da União Soviética, Nicolai Bulganine, divulgou no The Times que a viagem de Krushev vinha em resposta a um convite feito pelo Governo do Reino Unido. Era, de certa forma, encostar o primeiro-ministro britânico à parede já que, como anfitrião, seria obrigado a um comportamento bem mais caloroso deixando para trás a habitual frieza que se instalava em encontros deste calibre.

Da parte dos dirigente soviéticos havia a expectativa de poder convencer Londres a apoiar – ou pelo menos a optar pela neutralidade – em relação à política do país no que se referia ao Médio-Oriente.

Toda esta enorme entourage em redor da visita do dirigente soviético não evitou questiúnculas mais ou menos populares, como foi o caso da prisão do repórter francês Jacques Sallebert que não se poupou a meios para se aproximar o mais possível de Krushev de forma colocar-lhe questões complicadas, tal como a ascensão anunciada de Molotov, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, para o cargo de Presidente da URSS.

As forças concatenadas da Scotland Yard e dos oficiais camuflados que acompanhavam Krushev resolveram o assunto numa questão de segundos e passaram a imagem de funcionalidade que perpassou, depois, pelas reuniões dos dias que se seguiram.

Os pontos fulcrais que Nikita Krushev trazia na agenda eram o do cessar fogo no Médio Oriente e o do desbloqueio de bens e serviços imposto pelas potências ocidentais ao seu país. Nesse ponto, foi mais uma vez tratado à moda inglesa: sorriram-lhe, ofereceram-lhe um chá e palavras compreensivas e mandaram-no para casa de mãos a abanar. Não servira muito a Nikita seis meses inteiros mergulhado nos arrebiques da cultura britânica. Ficou a saber que, no geral, toda ela assenta num facto irrevogável: a teimosia. Enfim, não é inglês quem quer…