“Bravo”, elogiou o Presidente francês, Emmanuel Macron, no telhado da Catedral de Notre Dame, dirigindo-se aos trabalhadores responsáveis pela sua reconstrução, depois do incêndio, em 2019, que destruiu parte da estrutura deste icónico monumento.
Acompanhado pela ministra da Cultura, Roselyne Bachelot-Narquin, a autarca de Paris, Anne Hidalgo, o representante especial do Presidente, general Jean-Louis Georgelin, e o arcebispo de Paris, Michel Aupetit, entre outras personalidades, o líder francês visitou a mais famosa catedral do país no 2.º aniversário do incêndio, onde aproveitou para agradecer aos mais de 340 mil doadores de todo o mundo que criaram um fundo de 833 milhões de euros para a reconstrução do monumento, que, segundo a ministra da Cultura de França, deverá reabrir em 2024.
As obras propriamente ditas no Notre Dame irão começar no final do ano, mas isso não impede que mais de 700 trabalhadores estejam ocupados com tarefas como estabilizar os sinos das torres ou a instalar sensores de movimento para garantir a segurança total deste empreendimento.
“Estamos todos impressionados com o que estamos a ver e com todo o trabalho que foi desenvolvido nestes dois últimos anos”, disse o Presidente francês. “Bravo e obrigado”, agradeceu.
Uma das maiores dificuldades deste projeto tem sido a escolha de que madeira utilizar na reconstrução da estrutura em que assentava o telhado e da estrutura da flecha, que caiu no incêndio de 2019.
“Ainda estamos apenas numa fase de seleção das árvores, em função das peças de madeira de que vamos precisar para a flecha”, explicaram os especialistas numa reportagem conduzida pela rádio France Inter.
Questões ambientais
Apesar de existirem riscos de contaminação pelo chumbo devido ao incêndio, o risco de derrocada ou a pandemia de covid-19, o governo francês pretende ultrapassar todos estes obstáculos para manter a inauguração da catedral dentro do prazo estipulado, mas organizações ambientais têm alertado para os riscos que a empreitada envolve.
O ministro da Agricultura francês, Julien Denormandie, anunciou, num evento transmitido para as televisões francesas, que seriam utilizados cerca de 2 mil carvalhos para reconstruir a estrutura do telhado e o pináculo da catedral. “Decidimos reconstruir a catedral da mesma forma como ela era antes do incêndio”.
O projeto foi criticado, motivando uma petição assinada por cerca de 40 mil pessoas. O abate das árvores foi descrito como um “ecocídio”.
“Estamos a amputar florestas e a cortar carvalhos que são cruciais para a sua regeneração, pois são o habitat para muitos insetos e pássaros”, disse o diretor do grupo ambientalista Robin des Bois, Jacky Bonnemains, à Deutsche Welle.
Bonnemains classificou a opção de reconstruir a catedral com madeira e chumbo como uma “dupla infernal”, uma vez que foi o que “tornou o fogo possível e causou considerável poluição por chumbo”. A utilização de betão,acrescentou, seria mais segura.
“A Catedral de Saint-Pierre-et-Saint-Paul em Nantes, por exemplo, tem a estrutura do telhado feita de betão – um incêndio no ano passado só causou danos muito limitados”, explicou à DW.
No entanto, um porta-voz da catedral, questionado pelo meio de comunicação alemão, afirmou que este material não seria viável. “A estrutura do telhado do monumento precisa de um peso muito específico para que o edifício seja estável – uma combinação de madeira e chumbo é ideal”, acrescentando que o incêndio na Notre Dame não se deveu aos materiais, mas sim “a um erro humano”.