Foi, como costumam dizer pelo Norte quando as cartas correm a favor, uma rapada: os quatro lugares da fase final da Liga Europeia de hóquei em patins ficaram entregues a Benfica, Sporting, FC Porto e Oliveirense. Muito haveria para criticar a falta de competitividade que abrange, hoje em dia, a fase eliminatória da prova, com três grupos de três equipas, apurando-se os primeiros de cada grupo e ainda o melhor segundo, como aconteceu com o Sporting (Grupo B – Oliveirense, Sporting e Reus), ainda por cima o campeão europeu em título. Sobretudo porque, ao contrário do que sucedia anteriormente, deixou de haver ida e volta para se adoptar um sistema de apenas dois jogos para cada equipa.
No grupo A, o FC Porto apurou-se facilmente com uma vitória sobre o Noia (7-4) e um empate com o Óquei de Barcelos (3-3); no Grupo B, a Oliveirense foi primeira, com vitória (Noia, 5-1) e empate (Sporting, 6-6); no Grupo C, o Benfica despachou alegremente dois camaradas espanhóis, o Liceo da Corunha (7-2) e o Barcelona (6-2). Assim sendo, o Luso receberá uma final-four só com lusitanos, tal como o nome dessa simpática vila do concelho da Mealhada, na serra do Buçaco, famosa pelas suas águas termais, merecia.
Grande ausente é, definitivamente, o Barcelona. Afinal com 22 títulos de campeão europeu nos 54 disputados até ao momento, espera-se sempre que surja como favorito, pelo que a derrota bruta frente ao Benfica não deixou de ter foros de quase escândalo. Lá está, com a decisão da fase a eliminar a impedir a resposta do jogo da ida, as coisas tornam-se mais simples para quem ganha avanço. Neste caso absolutamente decisivo. Além disso, recorde-se que os catalães venceram três das seis últimas edições da competição, pelo que continuam a manter a sua grande superioridade perante todos os outros que, a nível de palmarés, ficam a anos-luz do Barça.
Sete Apenas sete são as vitórias portuguesas na que se chama Liga Europeia e foi, durante anos a fio, a Taça dos Campeões Europeus. Os três grandes têm dois títulos cada um, sobrando o sétimo para o Óquei de Barcelos, o que dará um toque mais picante à prova deste ano. É, na verdade, impressionante a superioridade dos clubes espanhóis: Barcelona, 22 vezes campeão da Europa; Reus, 8; Igualada, 6; Liceo da Corunha, 6; Voltregá, 3; Noia, 1. Sobra um título, conquistado pelos italianos do Follonica em 2005/06, numa fase final disputada em Torres Vedras.
A velha Taça dos Campeões teve a sua primeira edição na época de 1965-66. O Voltregá bateu o Hockey de Monza na final e deu início a uma ditadura espanhola que só o Sporting de Ramalhete, Rendeiro, Sobrinho, Chana e Livramento foi capaz de interromper em 1976-77 ao vencer o Vilanova (6-0 e 6-3). Eram tempos em que as finais concluíam eliminatórias simples de um contra um, casa e fora. Os leões traziam o primeiro troféu para Portugal, mas antes deles já o Benfica, em 1968/69 (derrota frente ao Reus, 1-7 e 3-0) e 1972/73 (batido pelo Barcelona, 3-5 e 7-7), e o Desportivo de Lourenço Marques, em 1973/74 (também derrotado pelo Barça, 2-8 e 5-4) haviam atingido a final.
Até à primeira conquista do FC Porto, em 1985-86 (5-3 e 7-5 perante o Novara, de Itália), só mais duas presenças portuguesas no jogo decisivo – Benfica, 1979/80 (Barcelona, 2-5 e 3-6), e FC Porto, 1984/85 (Barcelona, 5-4 e 4-6). Como se vê, nada que possa encher de orgulho os adeptos portugueses da modalidade que bem cedo entraram na ladainha das vitórias morais e na convicção de que eram as arbitragens que carregavam com os clubes espanhóis às costas até às vitórias. Enquanto a selecção nacional ia somando títulos europeus e mundiais, os clubes nacionais entravam na Taça dos Campeões como se mergulhassem, apavorados, num lago cheio de tubarões.
De repente, em 1989/90 e em 1990/91, duas vitórias consecutivas para os lusitanos: FC Porto e Óquei de Barcelos. Em seguida foi preciso esperar, e muito, pelos triunfos do Benfica em 2012/13 e 2015/16. Nestes últimos anos, a luta parece ter-se equilibrado. Na época passada, o Sporting foi campeão batendo o FC Porto na final (5-2). Agora temos a certeza de que a Liga Europeia voltará a ter um vencedor português perante a confortável realidade de serem quatro portugueses os finalistas. Algo que deve ter deixado os espanhóis a coçar a cabeça de incredulidade.