Estar fechado de quarentena não parece a melhor maneira de passar umas férias, mas, se for num resort de 5 estrelas, à beira do mar Egeu, a coisa talvez mude de figura. Pelo menos para os cerca de 25 mil holandeses que tentaram reservar umas férias no Mitsis Grand Hotel Beach, na ilha de Rodes, mas menos de 200 conseguiram. Por 399 euros cada, este grupo de turistas ficou com o hotel todo por sua conta, desfrutando da piscina, restaurantes e da magnífica vista para o mar.
Isto apesar de estarem proibidos de sair do resort, serem sujeitos a testes regulares à covid-19 e obrigados a manter-se a menos de 1,5 metros de outros hóspedes – lá se vão os romances de férias. O mundo assiste com curiosidade a mais uma experiência social da Holanda, que já fizera manchetes o mês passado, ao montar um festival de música na pequena cidade de Biddinghuizen, o Back to Live Dance Festival, em que todos os participantes foram testados previamente. Entre os milhares que se aglomeraram em festa, como não se via desde o início da pandemia, só 16 deram positivo à covid-19 agora, podendo ter sido infetados posteriormente. Agora, a indústria turística mundial espera um sinal de esperança semelhante.
“Sinto que é muito estranho estar aqui, mas estou muito entusiasmada por ir de férias”, resumiu Amy Smulders, uma designer gráfica de 25 anos, em declarações à Reuters, à chegada a Rodes. “Isto é tudo o que é possível agora e vamos desfrutá-lo”, concordou Terry Oorschot, um informático de 46 anos.
A verdade é que o Governo grego está tão desesperado por turismo que deu prioridade a vacinar em ilhas remotas, tentando fazer delas uma uma espécie de paraíso livre de covid-19, a tempo do verão, sempre lembrando que muitas destas ilhas não têm hospitais, daí a preocupação, claro. Aliás, várias ilhas já foram declaradas “livres de covid-19” pelo Governo grego, e estão prontas a receber turistas vacinados sem quaisquer restrições. Algo que talvez possa ser complementado com esquemas com o experimentado pela Holanda em Rodes, para turistas não-vacinados – dado o ritmo tão lento da vacinação europeia, por exemplo, boa parte da população poderá continuar por vacinar quando chegar o verão.
Contudo, se o esquema holandês pode ser uma boa solução para manter resorts à tona, para os os negócios locais e habitantes que dependem do turismo – e que provavelmente têm mais dificuldade em aguentar a crise – este sistema, com os turistas fechados, não é solução, queixou-se Giannis Chalikias, que gere um restaurante em Rodes. “Não creio que, de facto, beneficie um restaurante como o nosso”, disse, à Reuters.
“Gaiola dourada” Importa lembrar que a Grécia não é o primeiro país a receber confinamentos de luxo. A Tailândia já aposta nisso há meses, com a diferença dos hospedes estarem separados. Mas, quando falamos de luxo, falamos de luxo a sério. No The Senses Resort, com vista para a baía de Patong, na ilha de Phuket, um dos nove resorts com autorização do Governo tailandês para receber quarentenas, a estadia custa 5300 dólares (o equivalente a mais 4400 euros), ou 18700 dólares para uma família de quatro (equivalente a mais de 15600 euros).
Nas villas do The Senses Resorts, onde todas as superfícies almofadas foram retiradas, para facilitar a higienização, pode disfrutar-se de uma infinity pool e das refeições mais gourmet – sempre com videovigilância à porta e guardas para garantir que ninguém sai do local. Só após esses 14 dias é que se pode visitar o país, desfrutar das praias e dos mercados. Mesmo aí, a liberdade não é completa, sendo todos os movimentos dos turistas observados pelas autoridades tailandesas, através de uma aplicação que têm de instalar nos telemóveis.
Até lá, a sensação é de estar numa “gaiola dourada”, descreveu um dinamarquês de 50 anos, um dos turistas, vindos sobretudo da Escandinávia e da China, que visitaram o resort em outubro, à AFP. “Vai ser confortável, mas tenho medo de ficar ansioso devido ao confinamento”, concordou Jean-François, um francês que vive na Suécia, e partiu à procura de um pouco de sol.
Estas quarentenas de luxo, na prática, são um paliativo para uma economia profundamente dependente do turismo, feridas de morte pela pandemia, que representava 93% dos rendimentos em Phuket, num país que se esperava que recebesse 40 milhões de visitantes em 2020, o que nunca aconteceu. Contudo, mesmo face à catástrofe económica, seria quase impossível convencer os tailandeses que é boa ideia abrir fronteiras, quando se conseguiram manter tão isolados do pior da pandemia. É que, até o final de dezembro, tinham tido uns meros seis mil casos, boa parte importados, e só recentemente tiveram um pico de transmissão, chegando aos quase 35 mil casos, num país com 70 milhões de habitantes.
Contudo, os custos, complicações e falta de liberdade das quarentenas de luxo na Tailândia não estar a funcionar, quase ninguém apareceu – o país só tinha recebido 346 visitantes através do esquema até janeiro, segundo o South China Moring Post. Agora, o Governo tailandês tenta novas abordagens, como convidar os turistas a fazer quarentena em iates, mediante uso de uma pulseira que regista a temperatura, ritmo cardíaco e localização, segundo a Globetrender. Também está a ser desenhado num novo sistema, permitindo que turistas vacinados façam apenas sete dias de quarentena, passando os restantes a fazer apenas dez dias de quarentena, já a partir de abril – nos primeiros três dias, os hóspedes terão de ficar confinados aos seus quartos, sendo então testados, passando a poder desfrutar do resto do resort.
Na linha da frente do plano estarão hotspots turísticos como Phuket, que dispõe do seu próprio aeroporto. Por agora, a cidade, normalmente cheia de vida e de turistas de mochila às costas, “parece uma cidade fantasma”, descreveu Thibault Spithakis, dono de um bar em Phuket, ao Guardian. “Durante os piores momentos, havia pessoas a fazer fila na rua para pedir esmola ao Governo local”, contou. “Por isso penso que, neste momento, é bom arriscar um pouco e tentar reacelerar a reabertura. A segurança é importante, mas a situação económica está muito difícil para nós”.