Por toda a Nigéria brotam conflitos que fazem tremer o Governo central. Enfrentam uma velha insurreição islamita no norte do país, com o regresso dos raptos em massa de alunos nas escolas, bem como o crescimento da pirataria no Golfo da Guiné, e agora, no sudeste ressurgiram as tensões com separatistas Igbo, do Povo Indígena de Biafra (IPOB), acusados de atacar uma prisão em Owerri, no estado de Imo, libertando 1844 prisioneiros, esta segunda-feira. O grupo negou formalmente o seu envolvimento no caso – mas o líder do IPOB, Mazi Nnamdi Kanu, fez questão de escrever no Twitter que “nenhuma alma merece estar em qualquer prisão na Nigéria”.
Seja o IPOB responsável pelo ataque ou não, não há grandes dúvidas que este foi levado acabo por uma organização com uma séria capacidade operativa e poder de fogo. Os atacantes surgiram durante a madrugada, fortemente armados, com metralhadoras, espingardas, lança rockets e explosivos. Saltaram das suas carrinhas pick-up, rebentaram os portões da penitenciária e trocaram fogo com os guardas, conseguindo dominá-los e escapar, segundo revelaram os Serviços Prisonais Nigerianos, no Facebook.
Há muito que as relações entre a etnia igbo e o Governo central são tensas, causando o crescimento de grupos separatistas. No caso do Povo Indígena de Biafra, que recruta exclusivamente igbos, ao observarmos as suas contas nas redes sociais, por entre imagens de recrutas a treinar, percebemos que a acusação mais recorrente é que o Governo está dominado por fulas, uma etnia maioritariamente muçulmana e de tradições pastoris, originária do norte do país.
De facto, o autoritário Presidente Muhammadu Buhari é ele próprio fula – mas trata-se de uma acusação estranha, dado que, no norte, os pastores fulas queixam-se também de discriminação do Governo, sendo esse considerado um dos grandes fatores por trás do surgimento do Boko Haram na região.
Trata-se de uma dinâmica difícil de gerir, num país marcado por fortes divisões étnicas, entre hausa e fulani no norte, iorubas no oeste e igbos no leste. Quando estes últimos sonharam em formar um estado independente, o Biafra, acabaram esmagados pelo Governo nigeriano em 1970, que cometeu as mais brutais atrocidades, intencionalmente bloqueando o acesso a alimentos e causando entre 500 mil a três milhões de mortos – o trauma ainda está vivo na região, alimentando a instabilidade.