A aprovação do pacote de estímulos económicos nos Estados Unidos foi celebrada como uma “vitória histórica para o povo norte-americano” pelo Presidente Joe Biden. Com o valor de 1,9 biliões de dólares (mais de 1,5 biliões de euros), este é o maior pacote da história norte–americana.
O envelope destina-se a fazer face às consequências da pandemia – Biden afirma que os cidadãos americanos “precisam desesperadamente” desta ajuda. Mas, na prática, em que medida este pacote pode ajudar?
“O pacote de estímulo representa um impulso enorme para a economia americana, já que vai injetar liquidez na economia através do estímulo ao consumo. Ao contrário do que aconteceu no pós-crise de 2008, desta vez a injeção de capital não ocorre apenas através do sistema financeiro, o que na altura tinha suportado sobretudo os mercados financeiros, enquanto a economia real teve de enfrentar medidas de austeridade draconianas; desta vez serão as famílias a beneficiar diretamente, o que deverá permitir uma explosão da atividade económica”, explica ao i Ricardo Evangelista, analista da ActivTrades.
O plano cobre ajudas financeiras a contribuintes com rendimentos inferiores a 80 mil dólares por ano, além de fundos atribuídos aos governos locais e estatais, a compra de vacinas ou a reabertura de escolas. Questionado sobre se as medidas são suficientes, Ricardo Evangelista diz que sim. E explica: “Este enorme estímulo ao consumo, aliado ao sucesso do programa de vacinação, deixa antever um ressurgimento económico que deverá ser o maior, em termos de crescimento do PIB, das últimas décadas”.
O analista lembra ainda que o plano tem sofrido críticas mas estas “têm chegado da parte daqueles que creem que é demasiado e que poderá levar ao sobreaquecimento da economia e ao ressurgimento da inflação acima de níveis saudáveis, numa dinâmica que acabaria por travar a recuperação económica”.
Seja como for, o analista considera este um plano necessário, até porque, “sem um pacote de estímulos desta dimensão a retoma demoraria vários anos”.
Pode então o maior pacote da história norte-americana ser suficiente para enfrentar a crise económica? “Se é suficiente ou não, não podemos ainda aferir com certeza. No entanto, se as expectativas mais ou menos otimistas quanto à gestão controlada do vírus se concretizarem é de esperar que este pacote contribua para uma onda inicial de consumo que deverá servir de motor de arranque para a recuperação da maior crise económica desde o final da Segunda Guerra Mundial”.
Esta ajuda financeira vai ainda permiti, na visão de Ricardo Evangelista, aumentar o poder de compra, “pelo menos no curto prazo”. “É esse aliás o grande risco que se corre: que o poder de compra aumente de tal forma que gere escassez na oferta de produtos, levando a uma subida descontrolada dos preços”.
A verificar-se esse cenário pessimista, a recuperação económica americana poderia ficar em causa. Ricardo Evangelista explica: “Com os preços a subir de forma descontrolada, o banco central ver-se-ia forçado a subir as taxas de juro, o que acabaria por travar o crescimento da economia numa fase ainda de recuperação. Por este motivo a Federal Reserve tem-se mostrado imune às pressões daqueles que temem um cenário de ressurgimento da inflação, continuando a reiterar que pelo menos até 2024 não pensa mexer nas atuais taxas de juro extremamente baixas”, diz ao i.
Ricardo Evangelista acrescenta ainda que já se notam as consequências nos mercados financeiros, “com a venda em massa de obrigações do tesouro, o que tem levado à subida dos juros das mesmas”. Se continuar, “esta dinâmica poderá também ter impacto na recuperação, já que com juros mais altos o endividamento do Estado, mas também de empresas, ficará mais caro, o que poderá ter consequências negativas ao nível de futuros investimentos e poderá forçar o banco central a intervir através de compras massivas”, finaliza.
Impacto para Portugal
Recorde-se que um recente estudo da Euler Hermes, acionista da COSEC – Companhia de Seguro de Créditos estimou que este pacote americano pode criar oportunidades de 483 milhões de euros para os exportadores portugueses até 2022. Este pacote pode beneficiar, sobretudo, os setores da energia, serviços, têxtil e indústria química.