Resiliência à portuguesa


Não é difícil adivinhar que as soluções para as economias mais desenvolvidas nada terão de contacto com a solução para o nosso país.


Terá também sido a física a inspirar a Comissão Europeia para a catalogação nominal do PRR – Programa de Recuperação e Resiliência.

Com efeito, resiliência será a capacidade que alguns materiais têm de absorver o impacto e retornar à forma original.
Mas fica por saber se o extravagante vocábulo na interpretação diversa que paira no espírito do cidadão europeu, perante o quadro operativo ínsito no PRR, estará mais ligado à capacidade de sobrevivência das pessoas e organizações europeias às mudanças de conjuntura impostas à Europa por outros blocos geoestratégicos, que apenas sobrevivência da besta pandémica.

Espera-se assim que depois de absorvido os impactos nas sociedades europeias, a retornarmos a formas originais pré-vigentes, que estas aconteçam quanto aos valores comuns e não ao “mais do mesmo” da situação económica anterior.
Temos então, segundo a UE a continuidade de um objetivo comum traduzido numa proposta de recreação do ataque às fragilidades do modelo de desenvolvimento e aproximação gradual das economias europeias entre si, até hoje assente num programa de ajuda financeira substancial; recreação enfrentando as gravíssimas condições em que a pandemia vai deixar o mundo e as economias mais frágeis.

A questão então é a de saber se o modelo proposto contém soluções inovadoras para o renascer de cada país, depois do rombo económico, financeiro e social em curso. Não é difícil adivinhar que as soluções para as economias mais desenvolvidas nada terão de contacto com a solução para o nosso país.

A proposta do Governo nasceu como nasceu e, do debate público, saiu em muitos casos, mero elenco de carências em obras públicas, algumas delas razoáveis outras repetindo fórmulas consagradas pelos anteriores QCA’s.
Conclusão, o que permanecerá em todo o caso, é o pano de fundo do estatal, que vai da burocracia ao empatismo dirigista: dir-se-ia que neste plano tudo é Estado e o resto, designadamente as empresas, o mercado, a sociedade, são rodapé …

Um exemplo. Percebe-se mal como pode um programa dirigido à dinamização económica optar pelo apoio a uma nova instituição bancária, quando as existentes precisarão de ajuda para não entrarem em colapso e o Estado já tem na CGD, logística e preocupação que baste. Dinamização económica que só pode vir da malha de empresas que dão emprego e exportam e das famílias depauperadas.

E estas precisam de muito pouco para retomarem fôlego e recuperarem: redução de impostos, crédito bonificado às classes e sectores mais atingidos, incentivos à capitalização das empresas e ajudas a fundo perdido. Nada disto se vislumbra no plano. O mesmo se diga quanto à miséria em que muitas famílias caíram.

Outro exemplo. 715 milhões são destinados à descarbonização da indústria (qual indústria?), enquanto para as empresas que sustentam as exportações como o têxtil e o calçado vão 150 milhões. Para a descarbonização imagina-se o poder que se situará no balcão estatal adstrito; para a modernização de empresas industriais imagine-se a escassez a ratear que, no final pouco significado terá.

Compreende-se que depois da retirada pela cativação de recursos a setores do Estado como a saúde e a Justiça, este PRR ponha um pouco de atenção na situação de emergência facilmente descortinável no dia a dia destes setores.
O que não se pode perder de vista e ter em conta é o caráter definidor de um novo perfil da economia nacional depois de 2030.

E este não pode deixar de considerar que na competição já hoje prevalecente, o mundo é das empresas e dos mercados e não do Estado-empresário: neste sentido, o PRR não vai até onde devia ir, abandonando o modelo de hibridismo de base económica como herança ainda de 1975, cujos resultados sistemáticos se traduzem num aumento de crescente endividamento e num PIB reduzido na cauda do ranking da UE.

Este plano, nasce das opções de um Governo minoritário e não de um grande consenso nacional, mobilizando setores empresariais e obreiristas. Trazendo a esperança à sociedade na perspetiva da mudança de paradigma que a todos motivasse. A contrário deixou-se aprisionar nas três dimensões estruturantes (???) da “Resiliência”, “Transição Climática” e “Transição Digital”.

Temem muitos com averiguada razão, que apenas tenhamos controlo sobre a primeira onde os portugueses sempre superaram as procelas suas e alheias. Quanto às outras duas, uma de prevalência da natureza e do divino, a outra no domínio das grandes potências, não se espere grande coisa daqui a dez anos. Ainda agora estamos a viver com esta pandemia, a simples consciência de que como ilação, nem de vacinas anti-pandémicas sabemos na Europa, quanto mais do clima e da digitalização prospectiva.

Resiliência à portuguesa


Não é difícil adivinhar que as soluções para as economias mais desenvolvidas nada terão de contacto com a solução para o nosso país.


Terá também sido a física a inspirar a Comissão Europeia para a catalogação nominal do PRR – Programa de Recuperação e Resiliência.

Com efeito, resiliência será a capacidade que alguns materiais têm de absorver o impacto e retornar à forma original.
Mas fica por saber se o extravagante vocábulo na interpretação diversa que paira no espírito do cidadão europeu, perante o quadro operativo ínsito no PRR, estará mais ligado à capacidade de sobrevivência das pessoas e organizações europeias às mudanças de conjuntura impostas à Europa por outros blocos geoestratégicos, que apenas sobrevivência da besta pandémica.

Espera-se assim que depois de absorvido os impactos nas sociedades europeias, a retornarmos a formas originais pré-vigentes, que estas aconteçam quanto aos valores comuns e não ao “mais do mesmo” da situação económica anterior.
Temos então, segundo a UE a continuidade de um objetivo comum traduzido numa proposta de recreação do ataque às fragilidades do modelo de desenvolvimento e aproximação gradual das economias europeias entre si, até hoje assente num programa de ajuda financeira substancial; recreação enfrentando as gravíssimas condições em que a pandemia vai deixar o mundo e as economias mais frágeis.

A questão então é a de saber se o modelo proposto contém soluções inovadoras para o renascer de cada país, depois do rombo económico, financeiro e social em curso. Não é difícil adivinhar que as soluções para as economias mais desenvolvidas nada terão de contacto com a solução para o nosso país.

A proposta do Governo nasceu como nasceu e, do debate público, saiu em muitos casos, mero elenco de carências em obras públicas, algumas delas razoáveis outras repetindo fórmulas consagradas pelos anteriores QCA’s.
Conclusão, o que permanecerá em todo o caso, é o pano de fundo do estatal, que vai da burocracia ao empatismo dirigista: dir-se-ia que neste plano tudo é Estado e o resto, designadamente as empresas, o mercado, a sociedade, são rodapé …

Um exemplo. Percebe-se mal como pode um programa dirigido à dinamização económica optar pelo apoio a uma nova instituição bancária, quando as existentes precisarão de ajuda para não entrarem em colapso e o Estado já tem na CGD, logística e preocupação que baste. Dinamização económica que só pode vir da malha de empresas que dão emprego e exportam e das famílias depauperadas.

E estas precisam de muito pouco para retomarem fôlego e recuperarem: redução de impostos, crédito bonificado às classes e sectores mais atingidos, incentivos à capitalização das empresas e ajudas a fundo perdido. Nada disto se vislumbra no plano. O mesmo se diga quanto à miséria em que muitas famílias caíram.

Outro exemplo. 715 milhões são destinados à descarbonização da indústria (qual indústria?), enquanto para as empresas que sustentam as exportações como o têxtil e o calçado vão 150 milhões. Para a descarbonização imagina-se o poder que se situará no balcão estatal adstrito; para a modernização de empresas industriais imagine-se a escassez a ratear que, no final pouco significado terá.

Compreende-se que depois da retirada pela cativação de recursos a setores do Estado como a saúde e a Justiça, este PRR ponha um pouco de atenção na situação de emergência facilmente descortinável no dia a dia destes setores.
O que não se pode perder de vista e ter em conta é o caráter definidor de um novo perfil da economia nacional depois de 2030.

E este não pode deixar de considerar que na competição já hoje prevalecente, o mundo é das empresas e dos mercados e não do Estado-empresário: neste sentido, o PRR não vai até onde devia ir, abandonando o modelo de hibridismo de base económica como herança ainda de 1975, cujos resultados sistemáticos se traduzem num aumento de crescente endividamento e num PIB reduzido na cauda do ranking da UE.

Este plano, nasce das opções de um Governo minoritário e não de um grande consenso nacional, mobilizando setores empresariais e obreiristas. Trazendo a esperança à sociedade na perspetiva da mudança de paradigma que a todos motivasse. A contrário deixou-se aprisionar nas três dimensões estruturantes (???) da “Resiliência”, “Transição Climática” e “Transição Digital”.

Temem muitos com averiguada razão, que apenas tenhamos controlo sobre a primeira onde os portugueses sempre superaram as procelas suas e alheias. Quanto às outras duas, uma de prevalência da natureza e do divino, a outra no domínio das grandes potências, não se espere grande coisa daqui a dez anos. Ainda agora estamos a viver com esta pandemia, a simples consciência de que como ilação, nem de vacinas anti-pandémicas sabemos na Europa, quanto mais do clima e da digitalização prospectiva.