Habituado que estou aos maiores disparates por parte do Partido Social Democrata é cada vez mais confrangedor constatar que quando os seus dirigentes falam entra mosca ou sai asneira.
Começando na concordância com o fim dos debates quinzenais com o primeiro-ministro, seguindo pela total inabilidade política nas mais mixurucas questões internas, passando pela colagem que Rio está a fazer sobre António Costa para forçar a aprovação da eutanásia e terminando agora nesta disparatada proposta de atraso das eleições autárquicas por dois meses, é por demais evidente o desnorte em causa. Não é que pessoalmente isso me cause qualquer dor de cabeça, mas chega a ser embaraçoso e sobretudo saturante.
Por um lado, porque do ponto de vista do funcionamento da democracia, pese embora a pandemia se mantenha presente nas nossas vidas, a postura a adotar não pode passar por constantes encerramentos, alterações ou bloqueios a tudo quanta faça parte do funcionamento da sociedade. Aquilo que os partidos devem procurar fazer é encontrar soluções que permitam, dentro das limitações existentes, garantir o normal decurso da vida dos portugueses.
Por outro lado, se a preocupação de Rui Rio é a crise sanitária bem deveria saber que não há evidências científicas absolutamente nenhumas que demonstrem que o adiamento das eleições é a decisão mais acertada. De resto as eleições presidenciais também se realizaram e tal como se verificou não foi a sua realização que despoletou um qualquer agravamento na propagação da crise sanitária em que nos encontramos.
Mas claro que Rui Rio sabe tudo isto e sabe também que não é por qualquer questão de saúde pública que pretende adiar as eleições. O seu problema é outro.
Rui Rio quer adiar as eleições porque pura e simplesmente o processo autárquico no seu partido, um pouco como tudo o resto, diga-se, é gerido a pontapé e traduz-se numa profunda amálgama de futilidades e impreparação (circunstância até já tornada pública por vários nomes de peso do Partido Social Democrata). Não é preciso ser doutorado em ciência política para perceber o que está em causa.
Ora não é assim que se faz política. Que Rui Rio não saiba gerir o seu partido já todos sabemos. Sabemos e é para o lado que muitos como eu dormem melhor. Agora, se para lá dessa circunstância, como uma vez mais se comprova, não sabe também gerir um país nem demonstra ter a mínima noção de como deve aprender a fazê-lo, para nos brindar com ideias estapafúrdias como esta seria preferível estar calado. Todos agradeceríamos o seu silêncio.
Rui Rio só serve para uma coisa muito simples. Bajular António Costa e o Partido Socialista demitindo-se reiteradamente do seu papel de oposição. Fora isso, é o vazio total. Dúvidas existissem sobre o quão despropositada é esta proposta e o ridículo com que a mesma é encarada pela esmagadora maioria dos portugueses, bastou a Intercampus fazer um estudo sobre a matéria para que se chegasse a um resultado em que quase dois terços dos inquiridos discordassem do adiamento das eleições autárquicas nos moldes propostos.
Haja paciência!
Escreve à sexta-feira