Portugal pagou mais 30% por cada dose da vacina da Pfizer na na segunda encomenda de doses adicionais celebrada com a empresa no passado mês de janeiro. Na primeira encomenda, o custo de cada dose da vacina foi 12 euros (mais IVA de 6%), e na segunda encomenda o valor subiu para 15,50 euros por dose.
O segundo contrato com a Pfizer, celebrado a 18 de janeiro, foi publicado esta semana no Portal BASE. Visou a compra de 2,2 milhões doses adicionais da vacina. Os valores estão rasurados, mas o i sabe que o valor desta compra foi de 15,50 euros por dose. Até esta semana, o único contrato disponível era o que tinha sido celebrado em dezembro com a Pfizer, a primeira compra de vacinas da covid-19 feita pelo país. Nesse contrato, divulgado em fevereiro, o valor por dose era de 12 euros. Nos últimos dias foram ainda publicados dois contratos com a Moderna. Já os contratos das vacinas da AstraZeneca, aprovada no início do ano, e da Jannsen, aprovada mais recentemente a nível europeu e que só deverá começar a chegar ao país em abril, ainda não estão disponíveis na plataforma, onde se prevê que todas as entidades públicas divulguem os contratos celebrados até 30 dias depois da assinatura. O i tentou perceber junto da Direção Geral da Saúde por que motivo ainda não foi publicada a informação em falta, não tendo tido resposta. A DGS também não se pronunciou sobre o preço das vacinas.
No caso das vacinas da Moderna, aprovada no início de janeiro, os dois contratos, ambos celebrados dezembro de 2020, também não indicam preços. Em janeiro, o então coordenador da task-force Francisco Ramos adiantou que o país tinha adquirido 1,8 milhões de doses no primeiro contrato e um milhão de doses no segundo, pelo que no caso das vacinas da Moderna o custo por dose andará entre os 15 e os 18 euros.
135 milhões de euros pelas vacinas da Pfizer e Moderna Em função dos contratos disponíveis, é possível calcular que o custo das vacinas adquiridas pelo país a estas duas empresas ascende a 135 milhões de euros, mais IVA. É aplicada uma taxa de 6%, pelo que a despesa perfaz com estes quatro contratos um total de 143 milhões de euros, estando em causa vacinas a distribuir ao longo de todo o ano. No caso da vacina da Pfizer, a única em que são disponibilizadas no contrato as quantidades em causa, a primeira encomenda diz respeito à compra de 4.540.805 milhões de doses e a segunda à compra de 2.220.596 milhões de doses adicionais da vacina. O primeiro representa uma despesa de 54.489.660 euros, mais IVA de 6% e o segundo de 34.419.238,00, mais IVA. Já o primeiro contrato da Moderna representa uma despesa de 27.247.155 euros, mais IVA e o segundo 18.780.000,00. O custo por doses, atendendo às quantidades mencionadas, andará entre os 15 e os 18 euros.
A fuga de informação As negociações com as farmacêuticas, recorde-se, foram centralizadas a nível europeu pela Comissão Europeia. Os valores firmados não foram oficialmente divulgados pelas instâncias europeias que invocam como é habitual nestas circunstâncias razões de confidencialidade. Mas há um episódio pelo meio.
No fim de dezembro, a secretária de Estado do Orçamento belga Eva de Bleeker divulgou no Twitter uma tabela com os preços de cada dose das diferentes companhia. A publicação, que se tornou viral, viria a ser apagada. Na altura, os valores apresentados indicavam diferenças significativas entre os preços praticados pelas farmacêuticas: segundo a tabela de Better, os países iriam pagar 1,78 euros pela vacina da AstraZeneca, 8,50 dólares (7,19 euros) pela vacina da Johnson & Johnson (Jannsen), 7,56 euros pela vacina da GlaxoSmithKline, 12 euros pela vacina da Pfizer/BioNTech, 10 euros pela vacina Curevac e 18 dólares (15,23 euros) pela vacina da Moderna.
Na mesma semana, a agência Reuters, citando documentação interna da comissão, avançou que a UE tinha acordado pagar 15,50 euros por dose à Pfizer, um valor mais próximo do custo inicial praticado pela companhia nos EUA na primeira remessa de vacinas (19,50 dólares, 16,50 euros) – a publicação de Bleeker tinha levado a comparações do outro lado do Atlântico, com o Washington Post a noticiar que as vacinas estavam a custar menos na Europa do que nos EUA.
Quantas vacinas vai receber o país e quando Esta semana, na reunião do Infarmed, o coordenador da task-force de vacinação fez um ponto de situação sobre as encomendas de vacinas e previsão de entregas. O país está à espera de receber até ao final do ano 35 milhões de doses de vacinas da covid-19, a maioria no segundo semestre. Os contratos publicados dizem assim respeito apenas a, no máximo, um terço das vacinas, já que representam 6,7 milhões de doses de vacinas da Pfizer e da Moderna o país adquiriu nos dois contratos, de acordo com informações disponibilizadas na altura, 2,8 milhões de doses.
Até esta semana o país tinha recebido quase 1,8 milhões de vacinas, tendo administrado 1,4 milhões. No segundo trimestre são esperadas entregas de 8,6 milhões de doses da vacina, no terceiro trimestre 14,9 milhões de doses e no último trimestre 9,5 milhões de doses.
Não foi discriminado na reunião o total de doses por empresa. Até aqui, a maioria das vacinas recebidas e administradas no país foram da Pfizer. Segundo os dados disponíveis no site de monitorização da vacinação na UE do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, Portugal recebeu até ao momento 1.125.540 doses da vacina da Pfizer, 446 mil da AstraZeneca e 141.600 da Moderna. Nos contratos disponíveis, que mais uma vez só incluem quantidades no caso da Pfizer, no contrato inicial estava previsto que fossem entregues até ao final do primeiro trimestre 1,4 milhões de doses, entregas que vieram a não confirmar-se na totalidade. Quando foi anunciado o plano de vacinação, no início de dezembro, a expectativa era também que o país viesse a receber 1,4 milhões de doses da vacina da AstraZeneca ao longo do primeiro trimestre de 2021, admitindo-se já na altura que poderia haver uma quebra de 885 mil doses. Acabaram por ser entregues um terço das vacinas que tinham sido inicialmente acordadas a nível europeu. E a tensão entre a UE e a empresa tem estado a subir. Da Moderna eram esperadas inicialmente 227 mil doses da vacina e até aqui esses totais também estão longe de ser atingidos.
Segundo o coordenador da task-force de vacinação, Portugal mantém o objetivo de atingir 70% da população vacinada com pelo menos a primeira dose da vacina até ao final do verão, podendo a marca ser atingida ligeiramente mais cedo se as 14,9 milhões de vacinas vierem a ser todas entregues no terceiro trimestre como esperado, disse o coordenador. Gouveia e Melo sublinhou ainda que o país está num ritmo crescente de administração de vacinas, indicando que ao longo do segundo trimestre se irá atingir uma média de 95 mil vacinas administradas por dia. No terceiro trimestre, a expectativa da task-force é administrar uma média de 165 mil vacinas por dia, quando será a etapa mais intensa da vacinação, também com mais vacinas a chegar ao país. “As vacinas que estão a chegar a Portugal, tirando uma pequena reserva para segundas doses, são todas administradas no espaço de uma semana”, disse o responsável.