O Chega Açores vive dias difíceis, depois de uma polémica sobre o Rendimento Social de Inserção (RSI), aplicado naquela Região Autónoma. Os dois deputados do partido na Assembleia Legislativa Regional açoriana estão de costas voltadas. Não fosse o facto de o partido ter um acordo com o PSD/Açores para o apoio parlamentar ao Governo Regional, o caso teria, apenas, uma dimensão política interna no partido. Porém, não é assim e pode-se estar à beira de eleições internas no Chega/Açores para resolver o problema, apurou o i.
A polémica surgiu com um comentário na página do Facebook do Chega /Açores, onde se podia ler que “o Chega continua a defender a urgência em baixar o RSI na região. Aliás, esta é uma bandeira eleitoral do partido e um compromisso assumido pela coligação governamental”. Isto depois de se destacar que existiam mais 200 beneficiários deste apoio social na Região Autónoma dos Açores desde janeiro de 2021.
Ora, na mesma página, no passado dia 5 de março, Carlos Furtado, presidente do Chega /Açores, deputado e líder parlamentar do partido na Assembleia Legislativa Regional, contrariou essa ideia: “Enquanto presidente do Chega Açores, venho declinar qualquer responsabilidade pelo post hoje publicado na página do partido e já por mim retirado”, avisou o deputado regional. Para Carlos Furtado “ o crescimento do RSI na região é uma notícia que não agrada a ninguém, mas é a consequência das debilidades da nossa Região”, argumentou. Concluía dizendo que “neste momento as responsabilidades que nos são imputáveis, não nos permitem a critica fácil e populista”. A autoria do primeiro comentário era do seu colega de bancada, e secretário-geral do Chega Açores, José Pacheco.
Em suma, o desentendimento virtual sobre o RSI, noticiado pelo Observador, acabou por se tornar uma querela política, com consequências imprevisíveis, designadamente, com o cenário de retirada de confiança política a Carlos Furtado.
André Ventura, que tinha uma deslocação aos Açores já agendada para tratar das eleições autárquicas, acabou por estar a dirimir um diferendo interno. E as primeiras conversas foram inconclusivas. Ao ponto de o caso ter efeitos na base de apoio parlamentar do Governo Regional. Bastava que um dos dois deputados regionais – Carlos Furtado ou José Pacheco – ficasse sem o apoio do Chega e um deles se tornasse deputado independente.
Segundo apurou o i, o Chega nacional entende que não podem existir divergências sobre o RSI ou a luta contra a corrupção. E os dois deputados não se entenderam de forma alguma. Por isso, ganha força a ideia de uma clarificação interna com eleições no Chega/Açores. E pode estar em causa o apoio parlamentar ao PSD/Açores para governar? Até ver não. Não está em causa nem o governo regional, nem o cenário de reconfiguração do Chega no parlamento regional.
Mas a crise interna está lá. Prova disso são as curtas declarações ao i do deputado e líder regional do Chega/Açores, Carlos Furtado. “É um problema de desentendimento entre mim e o deputado José Pacheco, mas vai-se resolver”, afiança. E acrescenta que “não se vai resolver ficando os dois na mesma bancada com certeza, porque não há condições para isso”. Concluiu que André Ventura tem legitimidade para encontrar a solução que seja melhor para o Chega.
Por seu turno, José Pacheco diz ao i “que as coisas se vão resolver, conversam-se, como é normal”. No seu entender, “tem havido muito especulação”, mas tudo se vai resolver.
No PSD não há ecos da crise interna no Chega/Açores, pelo menos a nível nacional. Mas não é a primeira vez que surgem sinais de quebra do acordo parlamentar nos Açores. Depois do PSD e do CDS terem anunciado a intenção de avançar com um acordo-quadro para coligações autárquicas, excluindo o Chega, André Ventura queixou-se de bullying político e deixou uma ameaça velada de quebra do acordo nos Açores.
De realçar que amanhã será assinada a versão final do acordo quadro autárquico entre PSD e CDS sobre coligações autárquicas. Nas conversas entre os dois partidos, o cenário de João Almeida, deputado centrista, ser candidato autárquico em São João Madeira, em coligação com o PSD, está a consolidar-se, da mesma forma que o nome de Adolfo Mesquita Nunes, que desafiou o líder centrista para o congresso, pode vir a encabeçar a lista da Assembleia Municipal da Covilhã, numa coligação com o PSD.
Os centristas já fizeram saber que gostariam de encabeçar mais autarquias, designadamente, em Nelas, Foz Côa e Mondim de Basto. Mas não é líquido que este cenário se confirme.
Entretanto, o líder do Chega, André Ventura, entregou no Parlamento um projeto de revisão constitucional para acrescentar o impedimento de nomeações de pais, mães e filhos, assim como irmãos, avós e netos, no governo e nas bancadas. O deputado entregou ainda um projeto de resolução para que os contribuintes saibam, através do e-fatura, que faturas são pagas pelo Estado com o dinheiro da chamada bazuca europeia.