Portugal vai comprar 38 milhões de vacinas contra a covid-19

Portugal vai comprar 38 milhões de vacinas contra a covid-19


Segundo a ministra da Saúde, Marta Temido, Portugal está no processo de contratação de 38 milhões de vacinas, muito mais do que as que são necessárias.


No dia 2 de março, Portugal recebeu a notícia de que a covid-19 tinha chegado oficialmente ao país com o anúncio de dois casos. Um ano depois, o vírus continua a contagiar, mas os portugueses começaram a ver o início do fim da pandemia com a administração da vacina.

Agora, segundo a ministra da Saúde, Marta Temido, Portugal está no processo de contratação de 38 milhões de vacinas, muito mais do que são as necessárias.

Até ao momento, segundo o site da Direção-Geral da Saúde, Portugal já inoculou 861.922 vacinas contra a covid-19, sendo que 596.812 foram primeiras doses e 265.110 as segundas, completando a vacinação.

Mesmo com os atrasos das entregas por parte das farmacêuticas, o objetivo do Governo de António Costa é ter 60% da população vacinada até ao final do verão e tudo parece estar a caminho para o cumprimento desse objetivo. "Temos neste momento em processo de contratação de qualquer coisa como 38 milhões de vacinas", avançou a ministra da Saúde, Marta Temido, em entrevista à agência Lusa.

Este é um número de vacinas “muito mais do que aquilo que serão as necessidades para a vacinação integral da população portuguesa”, explica Marta Temido, acrescentando que as doses que poderão sobrar servirão para garantir apoio a outros países, como os PALOP.

"Se alguma coisa esta pandemia nos ensinou foi que só quando todos estiverem a salvo, cada um de nós estará a salvo", sublinhou a ministra.

Para conseguir vacinar mais 200 mil pessoas até ao final de março, o coordenador do plano de vacinação contra a covid-19, Gouveia e Melo, apresentou uma proposta de adiar a toma da segunda dose. Marta Temido admitiu que "essa alteração técnica está a ser desenhada e entrará em vigor tão breve quanto sejam as novas vacinações", visto que esta medida não atinge quem já recebeu a primeira inoculação e tem a segunda marcada.

"A Direção-Geral da Saúde, o infarmed e a 'task force' para a vacinação analisaram a possibilidade de um maior espaçamento entre doses e consideram que essa possibilidade é tecnicamente adequada mantendo as recomendações daquilo que são as caraterísticas do medicamento", afirmou Marta Temido.

Sobre o objetivo de 60% da população vacinada até ao verão, a ministra da Saúde admite que este é “um objetivo ambicioso”: "Sabemos que vamos ter que acompanhar o processo com cuidado e com disponibilidade para ajustamentos".

"Assumo responsabilidade, mas ainda é cedo para perceber o que se passou"

Na entrevista à Lusa, a ministra da Saúde assumiu todas as responsabilidades “por tudo o que possa ter sido decidido incorretamente, ou imprevidentemente” na época do Natal, porém Marta Temido diz que ainda não consegue ter uma perceção certa do que levou ao crescimento do número de casos em janeiro: "Eu acho mesmo que ainda é muito cedo para perceber o que aconteceu no Natal”.

Para entender as consequências no aumento de infeções no inicio de 2021, a governante considera importante o contributo de alguns fatores, como frio, a época de festas e as novas variantes.

"Nós entrámos no mês de dezembro com um nível com o qual todos nos sentimos confortáveis, na relação à pandemia, em termos de pressão sobre os cuidados de saúde. E acho que temos ali três efeitos conjugados", salientou.

Em relação ao papel da variante detetada no Reino Unido, a ministra explicou que, hoje, já se sabe que esta estava em circulação no país em janeiro. "O Reino Unido só alertou a Organização Mundial de Saúde no dia 14 de dezembro, mas também sabemos (..) que nós sequenciámos os primeiros casos já em janeiro e (…) que hoje conseguimos olhar para trás, com o espelho retrovisor, e antecipar que já tínhamos a variante em circulação".

Já o frio, “que às vezes é ridicularizado”, e a “menor disponibilidade para adesão às medidas de proteção” contra o novo coronavírus são outros dos fatores apontados por Temido.

8,1 milhões de testes realizados

Quanto ao número de testes à covid-19 realizados, segundo Marta Temido, Portugal já realizou 8,1 milhões de testes, o que coloca Portugal entre "os países que mais testa na União Europeia".

Entretanto, a meados de fevereiro, a estratégia de testagem mudou e todos os contactos fazem agora um teste, independentemente do nível de risco, alargando assim o universo de testados.

No entanto, num cenário de desconfinamento, que está a ser planeado, haverá “um momento prévio” que envolverá uma testagem de pessoas que trabalham em "atividades mais expostas".

"Não vamos andar a fazer testes em dez milhões de portugueses de 15 em 15 dias. Não haveria testes, nem meios humanos, nem meios financeiros e seria um desperdício", mas haverá uma avaliação baseada em "critérios técnicos, critérios de razoabilidade" assentes nos resultados sobre outras estratégias de testagem noutros países.

De acordo com Marta Temido, a ideia que se pretende é que antes do regresso de determinadas atividades se assegurem campanhas de rastreio e que setores da atividade industrial, comercial e cultural possam desenvolver uma prática de testagem regular da mesma maneira como se fazem, por exemplo, exames médicos periódicos em termos de saúde ocupacional ou da saúde no trabalho.

Já nas atividades da responsabilidade do Estado, como a Educação, haverá testes no regresso ao regime presencial, que serão realizados regularmente.

Marta Temido também frisa que a adesão social à testagem também “é absolutamente fundamental”.

"Sabendo nós que há muitas variantes a surgir o teste tem esse valor de em cada momento perceber como é que está a transmissão e até detetar novas variantes que possam ser mais agressivas", salientou.

A ministra da Saúde afirmou que o Sistema Nacional de Saúde (SNS) gastou "muito" dinheiro em testes, sendo que cada um deles custava quase 100 euros, no início da pandemia. 

"Foi uma despesa significativa em termos de capacidade laboratorial do país", disse, assinalando que só o SNS investiu cerca de oito milhões de euros na melhoria dos seus laboratórios, sem contar com reagentes e com os recursos humanos.