A vida como “infindável desenrascanço”

A vida como “infindável desenrascanço”


Em Pulp, um homem de idade avançada ganha a vida a escrever pulp stories para uma revista popular, inspirando-se na própria juventude como fora-da-lei. Mas Pulp, está longe de ser uma pulp fiction.


Literatura popular, de ação e sem grande profundidade, cobrindo uma multiplicidade de géneros, a ficção pulp deixou esquecidas pelas hemerotecas uma longa galeria de personagens, algumas das quais sobreviveram graças ao cinema e à banda desenhada: Buck Rogers, Conan o Bárbaro, Tarzan ou Zorro imprimiram-se primeiro nessas páginas de fraco papel e preço barato nos quiosques. 

Em Pulp, a ideia de Ed Brubaker (Bethesda, Maryland, 1966) é esplêndida: no ano de 1939, em Nova Iorque, um homem de idade avançada ganha a vida a escrever pulp stories para uma revista popular, inspirando-se na própria juventude como fora-da-lei. Mas Pulp, está longe de ser uma pulp fiction. 

No último quartel do século XIX, no pequeno rancho do jovem Max Winter, este, o irmão e um amigo são apanhados no meio de uma guerra entre grandes proprietários fundiários. Quando se recompõem, após a morte de um deles, e vendo-se sem nada, enveredam pelo banditismo, assaltando primeiro o transporte de dinheiro destinado aos grandes rancheiros. Tomaram-lhe o gosto, até assentarem no México para uma vida tranquila que não durou para sempre.

Voltamos a 1939, no escritório da Six Gun Western, revista que acolhe as histórias de Max. O publisher elogia o trabalho mas corta-lhe as asas: o escritor queria mostrar os últimos anos dessa dupla turbulenta, as suas vidas “como uma tapeçaria”. Péssima ideia para quem zela pelo interesse dos leitores que querem aventuras com heróis triunfantes e vilões castigados. Metafísica não paga contas…

Max vivia os últimos anos não sem dificuldades, mas encontrara em Rosa, a mulher das limpezas do prédio, o conforto de um coração puro, devolvendo-lhe algum gosto pela vida. Mesmo depois de roubado no metro, por ser humanista e quixote, o assalto que fora perpetrado pela revista, roubando-lhe a personagem graças a umas letras minúsculas do contrato, provoca um choque que lhe será familiar, em jovem também o haviam espoliado. Max, coração forte mas doente, decide remediar as coisas da maneira que bem conhece, embora a idade não seja a mesma. Eis senão quando é desviado do intento por Jeremiah Goldman, um ex-Pinkerton que andara no seu encalço pelo Oeste. Manhattan não é a pradaria, e os bandidos agora usam uniformes nazis da Bund, temível organização criada sob os auspícios de Rudolph Hess. Se esmurrar nazis é bom, mas não para velhos, roubá-los ou expor os financiadores será melhor. Goldman, um judeu, pensou em tudo.

O desenho de Phillips cumpre; as pranchas são conservadoras, sobressaindo o trabalho da cor, a cargo do filho, Jacob Phillips, em especial nas cenas que relatam a história de Max, chapadas ao longo das vinhetas, sem cuidar dos contornos dos desenhos. Brubaker dá-nos uma história com arranques sucessivos, como num ritornelo musical, em que a repetição afinal não o é.