Já uma vez escrevi sobre o indivíduo a que hoje me dirijo e confesso que é com um enorme sentimento de repulsa que volto a fazê-lo, dado o conteúdo das suas últimas declarações. Portugal tem sido, ao longo de toda a sua também longa e rica história, um país de grandes nomes e feitos, mas teima, época após época, em permitir que alguns continuem diariamente a manchar toda a sua grandiosidade.
E se, por um lado, sou patriótico dos pés à cabeça e comungo verdadeiramente no meu mais profundo âmago do que é ser português, não me identifico e irrita-me solenemente esta coisa a que alguém um dia chamou “nacional-porreirismo”, que permite a alguns serem verdadeiramente uns escroques. Lamento o meu tom porque sei que não é agradável para ninguém ler um artigo com este sentimento. Eu próprio preferiria não ter de o escrever.
Pensei várias vezes se o escreveria ou não. E sobretudo se o escreveria neste tom. Mas é impossível nada dizer. É impossível calar a indignação que sinto. Faz poucos dias morreu aquele que foi o militar mais condecorado do Exército português e, simultaneamente, um dos fundadores dos comandos. Ou seja, um homem que certamente não desejando a guerra, como de resto nunca nenhum deseja, sobretudo os que para lá vão combater e lá podem morrer, a encarou de peito aberto e arriscou diariamente a sua vida por Portugal. Circunstância completamente oposta aos que hoje conspurcam continuamente a pátria, nada fazendo por ela, mas antes servindo-se dela para os seus interesses pessoais. Mamadou Ba é, atualmente, um destes exemplos.
Aos nossos polícias chamou “a bosta da bófia”, num vídeo de cariz político entendeu considerar que se “deveria matar o homem branco” e, perante a morte de um homem notabilíssimo da história portuguesa, ousou considerar que, e cito, “Marcelino da Mata é um criminoso de guerra que não merece respeito nenhum”. Pois bem, meu caro Mamadou, quem não merece respeito nenhum é o meu caro amigo. Questiono-me qual é a moral que alguém vindo para Portugal muitos anos depois da Guerra Colonial e que, portanto, não conhece, não se identifica, e muito menos se coaduna com a história portuguesa, tem para tecer considerações desta natureza e gravidade.
E vou já adiantar assunto porque não tenho medo nenhum nem do que se está a viver em Portugal, nem do contexto político que vivemos e muito menos de Mamadou Ba. Repito: não tenho medo absolutamente nenhum. Mas como antevejo que sobre este artigo vão surgir os costumeiros enviesamentos políticos, que fique bem claro que não critico aqui Mamadou Ba por ser preto. Nem há em mim o mínimo laivo de racismo ou de ataque ao sujeito em causa por qualquer circunstância física ou originária. Aquilo que condeno é a estupidez inveterada de um escroque que insiste em atacar Portugal e os portugueses de uma forma mesquinha, reles e nojenta.
Num momento em que no nosso país tão ridiculamente se inflacionam fraturas, maioritariamente políticas, torna-se claro que são estes indivíduos o real perigo dos nossos tempos, e não outros que tantos teimam em querer fazer passar que são. Mamadou Ba foi assessor de um partido político na Assembleia da República portuguesa, celebrou três contratos com a Câmara de Lisboa, por ajuste direto, no valor total de 191 109,94 euros, entre 2009 e 2013, e tinha até o seu nome indicado para um grupo parlamentar de trabalho sobre o racismo. Pois ainda assim teima em ofender a sociedade e o país que lhe dão literalmente de comer com intervenções só compreensíveis por serem ditas por um perfeito imbecil.
Mas a imbecilidade não se fica por aqui atendendo a que, perante a sua, surge cumplicemente a imbecilidade de um primeiro-ministro e de um Presidente da República que, ao verem tudo isto, assobiam para o lado e nada dizem. Acompanha-me uma enorme tristeza pelo ponto a que vejo o meu país chegar e é contra isto, também contra isto, que temos de lutar.
Escreve à sexta-feira