“O Estado nunca vai ter mão nos edifícios abandonados”

“O Estado nunca vai ter mão nos edifícios abandonados”


Carteiro de profissão, Vasco Santos dedica-se à exploração urbana. Já esteve num hospital abandonado, numa réplica do palácio da Disney em Sintra, num parque aquático que nunca chegou a abrir e num château avaliado em 330 milhões de euros, com 40 quartos mobilados e um teatro privado. Com cinco amigos, divulga estruturas abandonadas, faz fotografia…


Oito anos depois de fechar as portas, o Hospital Reynaldo dos Santos, em Vila Franca de Xira, continua na mesma: abandonado e com muito equipamento e material médico no interior. As janelas partidas ao nível do chão funcionam como convite a quem quiser invadir os corredores, que dão acesso a aparelhos de raio-X, macas, camas de bebé, cadeiras de sala de espera, material de bloco operatório, secretárias, arquivo. “Fiz o primeiro vídeo em 2017 e, para mim, aquilo era estranho. Experienciei várias sensações, como medo e pânico”, explica Vasco Santos, um carteiro de 30 anos que nas horas livres se dedica a explorar espaços abandonados.

O seu canal de YouTube, onde se apresenta como Crazy515 (porque fez downhill, uma modalidade de BTT, durante muitos anos, e diziam-lhe “És um grande maluco”), tem perto de 22 mil subscritores. Em 2018 juntou-se a Ricardo, Paulo, Gonçalo, Athon e Ivy (fundadores da página do Instagram The Yellow Jackets), com quem partilha o gosto pela exploração urbana, e formaram a Urbex, abreviatura de urban exploration, em inglês. Divulgam, fotografam e documentam estruturas abandonadas, sejam propriedades detidas pelo Estado ou privadas. A série de vídeos do Hospital Reynaldo dos Santos é uma das que contam com mais visualizações no canal.

“Da primeira vez contei 150 camas articuladas. Em África, por exemplo, ninguém quer saber se as camas têm 20 anos. Querem somente ter um pouco de conforto. Tinham ficado muito mais bem-vistos se tivessem doado o material. Na sala de operações havia tudo”, explica o produtor. O Ministério da Saúde já descartou responsabilidades perante variados órgãos de informação, afirmando que o hospital pertence à Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca de Xira.

 

Viajar pela sala de partos

Nada impede os intrusos de vaguear pelas instalações ao sabor da curiosidade. Vasco visitou a sala de partos, onde experimentou uma sensação de desolação – o que não impediu o grupo de continuar a explorar.

“Andámos à procura da morgue. Fomos subindo andares. Chegámos ao sétimo e percebemos que tinha um edifício ao lado. E vimos placas de radiação e pensámos: ‘Não podemos entrar aqui’”, lembra. “Começámos a sentir a garganta arranhada e com falta de ar. E não era ilusão, estávamos a ficar mal. Começámos a ficar ansiosos e vi uma janela que era a única que estava aberta”. O motivo do mal-estar rapidamente ficou à vista. “Percebemos que ficámos com falta de ar porque alguém já tinha rebentado dois ou três extintores. E vi as marcas do pó químico no chão. Estava em repouso e, quando entrámos, levantámo-lo”, descreve.

No labirinto de corredores, acabaram por perder-se. Demoraram mais de duas horas a encontrar a saída.

Tudo que era cobre, nas paredes, tinha desaparecido. Os tetos falsos foram retirados para dar acesso ao valioso metal. E Vasco sabe bem daquilo que fala. Durante dois anos visitou regularmente a instituição, tanto de dia como de noite, com os companheiros da Urbex. “Da primeira vez estava intacto. Entrámos e assustámo-nos. Em cada divisão, contava as camas e pensava que tudo seria reaproveitado. Queremos entrar no local e vir embora sem que ninguém descubra. Havia pessoas a roubar e não têm nada a perder. Podem matar-nos”, revela, ciente de que esta atividade apresenta diversos riscos, incluindo o perigo físico.

“Nós só estamos ali para fazer um vídeo. Falou-se do hospital na televisão e a Santa Casa disse que todo o material estava obsoleto. E eu fiquei a pensar: para além dos países mais necessitados, como referi, não se importarem com a condição dos materiais, para uma pessoa que precise de uma cama, em casa, qual é a necessidade de ser nova a estrear?”, questiona. Vasco prefere nunca revelar a localização nem o nome exato dos edifícios, demorando pelo menos 30 horas a editar cada peça para que não escape nenhuma informação crucial que conduza à identificação do imóvel. “Se eu contar a história do local sem a preocupação de não revelar detalhes-chave, as pessoas vão buscar tudo”, declara. “Se alguém escrever comentários sobre a localização dos sítios, são eliminados automaticamente. Atualmente, são mais de 21 mil pessoas que subscrevem o nosso conteúdo. Em 48 horas temos uma média de 2 mil visualizações; por mês, 30 mil pessoas”.

 

Registos do Estado não batem certo

O panorama traçado não é de todo uma novidade. De acordo com o relatório “Auditoria à inventariação do património imobiliário do Estado”, divulgado pelo Tribunal de Contas (TdC) no passado dia 7 de janeiro, “no final de 2019 continua a não existir um inventário completo e atualizado do património imobiliário do Estado”. Na ótica do TdC, o Estado tem uma base de dados “incompleta”, com “erros” e “fragilidades estruturais”, um alerta que tem vindo a ser veiculado pela instituição “há muitos anos”. O Sistema de Informação dos Imóveis do Estado (SIIE) continua a incluir imóveis entretanto alienados, enquanto outros são do Estado e não se encontram registados como tal. As falhas na identificação do titular também são comuns. A título de exemplo, no final de 2019, o SIIE tinha 9495 imóveis registados, na base de dados do registo predial do Instituto dos Registos e Notariado havia 18 671 registos e na base de dados da matriz predial da Autoridade Tributária havia 62 597.

Em termos concretos, a auditoria identificou 1527 imóveis listados como pertencendo à administração direta do Estado “quando os respetivos titulares são serviços e fundos autónomos e, como tal, pertencem à administração indireta”, e “253 imóveis com cotitulares, dos quais apenas 69 (27,3%) indicam tratar-se de compropriedade e só 46 identificam a quota-parte”.

O relatório explica ainda que o Governo colocou automaticamente património imobiliário do Estado sem utilização ao serviço deste fundo, identificando 62 imóveis para arrendamento acessível e residências de estudantes sem autorização da Direção-Geral do Tesouro e Finanças, a gestora de 44 deles. Este organismo, “no decurso da apreciação do diploma”, tinha alertado “várias vezes para os problemas que poderiam advir da inclusão de imóveis ocupados e ou por regularizar”. Foram igualmente identificados 24 imóveis alienados que não tinham sido abatidos, sete imóveis registados em duplicado e seis abates de imóveis. Contaram-se ainda 17 imóveis que não constam do SIIE, “embora dez deles façam parte da lista de imóveis para integrar o FNRE [Fundo Nacional de Reabilitação do Edificado], destinados à criação de alojamento para estudantes do ensino superior e a arrendamento habitacional a custos acessíveis”.

 

O “Palácio da Disney”

Numa propriedade de 9000 m2 situada em pleno Parque Natural de Sintra-Cascais existem uma mansão, três piscinas, um salão de festas e uma espécie de castelo de conto de fadas que teve de obter uma permissão da própria Disney para ser construído. Foi a empresa norte-americana que enviou ao empresário Carlos Maia Nogueira – conhecido por “rei da microinformática” e fundador da Solbi, a empresa que chegou a ser líder de mercado e vendeu o primeiro computador pessoal em território português – as plantas e fotografias para que o projeto seguisse à risca os moldes do palácio da Cinderela.

Não foi por acaso que a propriedade tinha sido batizada Quinta da Felicidade. O empresário tinha o objetivo de construir uma casa de bonecas para a filha. O fim do sonho chegaria nos anos 2000, com a acumulação de dívidas e consequente falência da empresa, que obrigou a família a abandonar a propriedade. Alvo de um processo de execução, o palácio, que chegou a valer cinco milhões de euros, pode agora ser adquirido por 1,5 milhões.

Contudo, já entre 1995 e 1998 o palácio havia recebido ordens de demolição por parte da Câmara de Cascais, o que nunca chegou a efetivar-se. Sabe-se que o atual credor é o Banco BIC, que comprou a hipoteca do extinto BPN. Assim, Carlos Maia Nogueira é o fiel depositário e espera que o palácio seja vendido em breve, até para evitar uma degradação ainda mais acentuada do imóvel que tanto idealizou.

“Quando vamos à procura de um abandonado, existem vários fatores que levamos em conta. Por exemplo, janelas partidas ou fissuradas, o estado do telhado, a presença de teias de aranha”, confessa Vasco Santos. No caso do palácio da Disney, “o edifício tem dono, que tinha uma empresa e a mesma faliu”. Devido às lacunas de vigilância do local, Maia Nogueira visitava o empreendimento ocasionalmente. “Filmei-o por fora, tinha alarme. Três dias depois, já estava vandalizado. Atualmente está totalmente destruído”, lamenta Vasco Santos.

 

O Vila Franca Centro

A 19 de novembro de 1994 nascia aquele que havia sido projetado por Daniel Branco, presidente da câmara entre os anos de 1990 e 1997, como o maior shopping do Ribatejo. A obra, executada pela empresa Obriverca, de Eduardo Rodrigues, empresário de Alverca, parecia ter tudo para dar certo: tinha cerca de 180 lojas, duas salas de cinema e uma sala IMAX, tecnologia que acabou por não vingar. O projeto, que tinha como primeira escolha Tomás Taveira, acabou por ser entregue ao arquiteto Arsénio Espinosa.

As coisas não correram como previsto e o edifício megalómano acabou por ser encerrado ao fim de menos de dez anos. “Há quem possua bens no interior do espaço e continue sem acesso àquilo que por lá deixou. Os lojistas que compraram as suas lojas continuam a pagar imposto municipal sobre imóveis, entre 100 e 200 euros. As mágoas perduram e, mais do que os prejuízos financeiros, lamentam as atitudes da administração”, pode ler-se no jornal regional Valor Local, numa reportagem de janeiro de 2020.

“A Polícia de Segurança Pública (PSP) disse que o shopping estava destruído por nossa causa, que estávamos a incorrer no crime de invasão de propriedade privada”, revela Vasco Santos. No vídeo publicado online, mostrou a data da captação das imagens e explicou aos subscritores do canal que não tinha meios para trancar os acessos ao edifício. “De qualquer modo, eu saí muitas vezes de onde vivo, em Sesimbra, para trancá-lo da forma que me era possível. Mas a PSP insistiu que tinha havido atos de vandalismo, que eu tinha sido o causador”, defende-se. Para ir ao encontro da vontade das autoridades, Vasco e a equipa dispuseram-se “a tirar o vídeo do ar”. Mas quando entrou com uma ação para a câmara ficar com uma parte do estacionamento do imóvel, a PSP pediu à Urbex que divulgasse a degradação junto dos meios de comunicação social.

A ligação de Vasco a Vila Franca vem da altura em que ali cumpriu o serviço militar, num quartel da Marinha. Recentemente quis regressar ao edifício, entretanto comprado pela câmara municipal. “Tentámos obter autorização, não conseguimos; entrámos às escondidas mas, ao fim de um ano, deram-nos autorização”. E recorda-se bem do dia em que saiu do quartel sem permissão para comprar um cartão de telemóvel para telefonar à namorada da altura – dirigiu-se, precisamente, ao Vila Franca Centro, a uma loja que ainda existe, mas está hoje ao abandono. Quando regressou ao quartel, foi repreendido. “Passei dois dias a apanhar ervas até ao teto como castigo”.

 

O Parque Aquático do Almargem

“Também há coisas que nunca chegaram a abrir, como o parque aquático perto de Viseu. Faliu antes. Tem dono, ele não se importa que as pessoas lá vão, mas não quer que estraguemos nada”, garante Vasco. “Andei dentro dos tubos de água, são todos pretos, e há acrílicos em cores. Cria-se uma ilusão de ótica brutal, uma sensação holográfica”.

Com uma piscina de ondas, uma piscina infantil e um spa onde estariam incluídos um ginásio, saunas, jacuzzi, banho turco e salas de massagem, um restaurante, um salão de bowling e uma discoteca, insufláveis, tobogãs individuais e escorregas rápidos, o Parque Aquático do Almargem, na freguesia de Calde, Viseu, prometia ser o primeiro empreendimento do género na Península Ibérica a estar aberto o ano inteiro.

Criado por um empresário português, que durante longos anos esteve emigrado na Suíça, foi apresentado publicamente em meados de 2008, prevendo-se a abertura para 2015. Apesar do investimento de cerca de 25 milhões de euros, nunca chegou a abrir portas. Considerado um projeto PIN (Projeto de Interesse Nacional), segundo o projeto online Rua Direita, recebeu fundos da União Europeia, ao abrigo do Investe QREN, criado pelo atual presidente da Câmara de Viseu, Almeida Henriques, quando era secretário de Estado da Economia. O custo inicial da obra estava orçado em 26 milhões de euros, cabendo ao empresário assegurar 30% do financiamento. E estava prometida a criação de 120 postos de trabalho.

 

O problema de filmar perto de casa

“Isto começou porque, desde pequeno, tinha o gosto de explorar, saber os motivos das coisas e coscuvilhar, digamos assim, mesmo quando não devia”, explica Vasco Santos. “Creio que todos temos essa tendência e, quando crescemos, acabamos por desenvolvê-la de alguma forma. E percebi que há de tudo um pouco em todo o lado para desvendar”. No verão de 2017 foi confrontado com a pergunta de um amigo próximo: “Tu, que sempre filmaste tudo e mais alguma coisa, por que motivo não gravas os locais abandonados e partilhas na internet?” Sabendo que não tinha conhecimentos de captação de imagem e edição suficientemente consolidados, percebeu que teria de aprofundá-los em cada exploração. “A cada dia aprendo muito. Inicialmente, não passavam de paredes”, reconhece.

Atualmente prefere fazer os seus registos longe do local de residência. “Deixei de filmar em Sesimbra porque, aqui, toda a gente se conhece. Surge um tio, um primo, um sobrinho, alguém que conhece o local”. E há o problema das heranças indivisas. “Por exemplo, filmei uma casinha e um antigo colega de escola contactou-me a dizer que é neto do senhor que estava a tentar vender o imóvel em questão. Falei com o idoso sobre o vídeo e ele foi muito compreensivo: ‘Ah, és tu, amigo, tudo bem, não dizes onde fica, não tem problema’”.

Noutra altura filmou uma casa perto do seu local de residência. Passando por ali mais tarde, deparou-se com dois carros com matrícula italiana estacionados à porta. Pensou que os herdeiros haviam regressado. “Fui a correr a casa para colocar o vídeo em privado, não queria que houvesse problemas. A casa esteve fechada durante 30 anos”. Acabaria por perceber que o casal tinha comprado a casa ao Estado através de um leilão da Autoridade Tributária e Aduaneira. “O senhor e a esposa restauraram a casa de cima a baixo sem perceberem nada de obras. Ele mandou-me entrar e pediu que lhe arranjasse fotografias do estado da casa antes da intervenção para comparar com a situação posterior”.

Na casa ao lado dessa, Vasco encontrou um álbum de casamento. E, tendo reconhecido a cara do noivo nas fotografias, decidiu entrar em contacto com ele. “Contou-me que foi o segundo casamento dele, mas chatearam-se. Ela estava grávida e foi-se embora para a Califórnia, nos EUA, uns dois meses depois de se casarem. O senhor nunca viu a filha”.

 

O misterioso colégio e os châteaux franceses

“Entrámos completamente no desconhecido. Uma coisa é ir daqui ao Porto, ir a uma aldeia e ter a noção se um edifício está abandonado, outra é dizerem-nos que um edifício está abandonado há x anos no estrangeiro e não corresponder à verdade”. Foi o que se passou com um colégio alegadamente abandonado em França. “Sabíamos que o espaço tinha alarme, pelo menos na igreja, para não roubarem as coisas. Tentámos não chegar perto. E tinham-nos dito para não abrirmos portas com sensores metálicos. Queríamos chegar à biblioteca, só que a dimensão era tão grande que nos perdemos”, recorda. Enquanto Vasco e outro membro do grupo queriam abandonar o local, os fotógrafos queriam explorar melhor o espaço.

 

Fugir da igreja

“A igreja tinha uma abertura na porta, pus a lente através do buraco e comecei a tentar gravar, mas disparou um alarme silencioso e depois disparou outro. De repente, apareceram os seguranças, que estavam lá a dormir e nós não sabíamos. Desatámos a fugir, mas o carro ainda tinha ficado a uns 4 ou 5 km de distância”. Enquanto os seguranças gritavam, Vasco e os amigos corriam como podiam “com câmaras, luzes, tripés, etc.”.

Durante cinco dias, a equipa da Urbex fez um périplo por edifícios em França e na Bélgica. Além do colégio, aventuraram-se por vários châteaux. “Naquele que designei de Nightmare diziam que faziam bruxarias lá dentro. Não acredito muito nisso, mas senti que passei o tempo todo arrepiado, não sei se pelos cenários, pela sensação de ver coisas escritas, por ver borboletas verdadeiras espalhadas por qualquer parte da casa, barulhos constantes”, confessa.

“Na Bélgica vimos uma casa de um colecionador de rádios antigos. A cama era um rádio, a mesa do hall de entrada era um rádio, era um aficionado. E eu pergunto: morreu? Não teve filhos? Ninguém quis saber?” Sempre que chega a um “abandonado”, como os apelida, Vasco tenta reunir o máximo de informação, como o ano do abandono ou o motivo. “Nunca trazemos nada: entramos e saímos sem nenhum objeto. Não ficamos com nenhuma recordação. Se cada explorador pegar numa coisa, um dia não haverá nada”, alerta.

“Todos os locais me marcam por algum motivo, seja porque têm um piano que nunca vi, paredes em mármore, frescos…”, continua. A “casa mais valiosa, que causa mais impacto”, foi um château francês de 1820. “Tínhamos aterrado perto de Bordéus, fizemos cerca de 400 km até lá chegar”, lembra. A equipa parou o carro e fez 15 km a pé até chegar ao edifício. “Por alto, o imóvel está avaliado em 330 milhões de euros. Tem mais de 40 quartos, todos eles mobilados. Não tem uma única casa de banho. Tem uma sala de teatro. A sala de jantar tem uma mesa com mais de 30 cadeiras. Tinha penicos com fartura também. Para descobrir a cozinha foi o cabo dos trabalhos. Muitas das vezes pensamos: só vi isto num museu ou na televisão”. Foi lá que Vasco encontrou uma cartola de 1870. “Pu-la na cabeça e pensei: não devia ter tocado nisto”, recorda, entre divertido e arrependido”.

 

Entre a pandemia e os sonhos

E atualmente, as visitas continuam a decorrer durante o confinamento? “Fiz uma pausa porque a pandemia tem-nos tirado muito tempo. Ainda tenho 50 vídeos para editar. Posso publicá-los, mas acabam e depois não tenho conteúdo. Preferi parar, aprender novos métodos, apurar o meu conhecimento”, justifica. Neste momento está a trabalhar no vídeo de uma exploração que realizou no norte de Portugal. “Há mais locais abandonados nesta região, nas terrinhas. A maioria das pessoas deixaram as aldeias, vieram morar para o centro ou emigraram, e essas zonas estão envelhecidas”, comenta. “Como em qualquer parte do mundo, as pessoas velhotas têm as suas rotinas, acabam por falecer e tudo acaba ali. As aldeias são esquecidas. O Estado nunca vai ter mão nos edifícios abandonados. Tem mais com que se preocupar e está à vista. Há inúmeros sítios que podem ser requalificados”.

Mas o novo coronavírus não impede Vasco e os companheiros de sonharem. Em primeiro lugar pretende ir à cidade de Fukushima, onde ocorreu o desastre nuclear em 11 de março de 2011, quando a usina foi atingida por um tsunami provocado por um maremoto de magnitude 8,7 na escala de Richter. “A cidade ficou com tudo, as pessoas pegaram apenas na roupa que tinham e foram embora. A zona foi toda vedada por polícias e ninguém pode entrar. O material está todo estragado”.

Por outro lado, ambiciona visitar as naves espaciais soviéticas abandonadas no deserto do Cazaquistão. “Parece especulação, como se só aparecesse nos livros, mas há mesmo dois vaivéns espaciais lá”, refere com entusiasmo.