1. Marcelo Rebelo de Sousa teve uma vitória completa na noite de dia 24. Em primeiro lugar, ganhou quantitativamente, como é lógico, porque teve mais votos. Milhões de votos. Mais de 60% dos votos. Com vitórias em todos os concelhos do país, numa manifestação de notável profundidade eleitoral e abrangência política. Resolveu o assunto à primeira volta, como as circunstâncias do país o exigiam, entrando para a galeria dos grandes da República como o segundo candidato mais votado da história à entrada do segundo mandato. Feito politicamente extraordinário se atendermos às circunstâncias particularmente difíceis que o Presidente enfrentou nesta campanha. Em segundo lugar, ganhou qualitativamente. Marcelo Rebelo de Sousa é hoje o grande centro de unidade do sistema político. Mais do que qualquer outro protagonista, é em Marcelo que os portugueses confiam. Validam a sua visão da sociedade na confluência da vivência democrata cristã com os princípios e valores da social-democracia, num aprofundamento do respeito integral pelo indivíduo e pelos pilares personalistas e humanistas. Precisam do seu sentido de orientação estratégica para Portugal, perante o ziguezague tático de outros órgãos de soberania. Esperam dele uma atuação vigilante na defesa da liberdade, da democracia e da separação de poderes.
Marcelo Rebelo de Sousa, e talvez esse seja o ponto mais relevante, personifica o desejo de concórdia que grassa na sociedade portuguesa. Colocando a boa vontade no lugar do egoísmo, a proximidade no lugar da arrogância, a bondade no lugar do ódio. O Presidente Marcelo foi, é e será o grande dique contra os populismos e extremismos de direita e de esquerda. Essa doença democrática que avança desde 2015 sem tratamento e que temos rapidamente de debelar. Isso faz-se, como bem sinalizou o candidato Marcelo Rebelo de Sousa, com melhores ideias, com melhores soluções. Não se faz com mais radicalismo, nem com gritaria, nem com indignações momentâneas no Twitter. Faz-se recuperando os portugueses que se sentem desencantados, oferecendo-lhes horizonte de concreta esperança. Não se faz excluindo, chamando “deploráveis” a todos os descontentes – como, de forma arrogante e preconceituosa, tantos iluminados dentro do sistema insistem.
Marcelo Rebelo de Sousa é, em 2021, o protagonista indispensável do nosso sistema. A dimensão da sua vitória – quantitativa e qualitativa – confere um mandato reforçado, uma energia redobrada e uma legitimidade superlativa para manter Portugal no trilho de desenvolvimento democrático, social e económico. Sem cedências a visões revolucionárias ou reacionárias, sem complacência para as tentativas de tomadas do Estado e das suas instituições por parte de aparelhos partidários.
2. Em cada eleição há vencedores e vencidos. E, felizmente, os extremismos foram os grandes derrotados das presidenciais. À direita, o Chega ficou muito aquém dos seus objetivos. Teve mais votos do que BE e PCP juntos, mas foi derrotado no terreno dos seus próprios argumentos. Quanto à esquerda, foi reduzida a poeira. Marisa Matias e João Ferreira, dois bons eurodeputados, pagaram o preço eleitoral de anos e anos de radicalismo político e cegueira ideológica dos seus partidos dentro de portas. Derrota também para a ala mais à esquerda do PS, que patrocinou uma candidatura sem os mínimos olímpicos para umas presidenciais. Dito isto, não está tudo bem. Acabou circunstancialmente bem no dia 24 de janeiro porque Marcelo Rebelo de Sousa é uma força maior. PS, PSD e CDS, cada um com os seus problemas específicos, têm seríssimos motivos para refletirem não apenas sobre o seu futuro imediato, mas também sobre a configuração do sistema político e do próprio regime.
3. O processo eleitoral decorreu, genericamente, com toda a normalidade. Tal constituiu uma vitória para a democracia em tempo de pandemia. Mas não nos iludamos. Se a tranquilidade e previsibilidade democrática prevaleceu, tal deveu-se ao espírito de sacrifício de milhares de escrutinadores por todo o país, à energia das juntas de freguesia e à capacidade organizativa das câmaras municipais. Escolhemos o Presidente da República e provámos a indispensabilidade do poder local. Temos mais eleições este ano e a pandemia é uma realidade que não vai desaparecer de um dia para o outro. Repetir os mesmos erros não será apenas inaceitável: constituirá uma prova de incompetência dos partidos e do legislador. Que muito rapidamente as lideranças políticas encontrem formas alternativas de participação eleitoral que ponham fim a esta espécie de democracia seletiva, da qual não fizeram parte os nossos emigrantes ou os cidadãos confinados. Em plena terceira década do séc. xxi, no país que preside à UE, no continente que tem como prioridade a transformação digital, que nunca mais voltem a ser o tempo e o espaço condições de exclusão da cidadania. Portugal não está em condições de prescindir – muito menos de excluir – de nenhum dos seus cidadãos.
Presidente da Câmara Municipal de Cascais
Escreve à quarta-feira