“O primeiro requisito para uma ordem social melhor é o retorno à liberdade irrestrita de pensamento e de expressão”
Ludwig von Mises
Os debates dos candidatos à Presidência da República revelaram um facto que, para muitos, seria inesperado. Foram os candidatos da direita política que souberam confrontar e ganhar com argumentos políticos ao candidato da extrema-direita.
De facto, quer Marcelo Rebelo de Sousa quer Tiago Mayan Gonçalves confrontaram André Ventura com argumentos políticos, sabendo separar claramente – sobretudo Marcelo Rebelo de Sousa – a direita democrática da direita extremista e radical.
O que, para alguns, terá parecido estranho foi que não tenham sido os candidatos da esquerda – Ana Gomes, Marisa Matias e João Ferreira – a ganhar esse combate. Pelo contrário, perderam-no.
Ficou claro que o confronto de radicalismos de sinais opostos cai para o lado de quem melhor souber vender os seus argumentos e, neste capítulo, André Ventura marcou pontos.
Na verdade, raramente assistimos a debates entre candidatos ao cargo de Presidente da República, mas antes entre intérpretes ou representantes de áreas políticas que apenas souberam esgrimir argumentos proibicionistas em relação ao candidato da extrema-direita. Isto é, na ótica destes candidatos, a questão resolve-se ilegalizando e proibindo o representante de um partido que foi legalizado pelo Tribunal Constitucional, concorreu a eleições e elegeu um deputado à Assembleia da República, alegando a defesa por parte desta força política da xenofobia, do racismo e, no limite, do regresso ao fascismo.
Ao jogar neste tabuleiro, estes candidatos facilitaram a vida a André Ventura, incapaz de debater questões ideológicas profundas e desenvolver uma estratégia coerente para resolver os grandes problemas que constituem a sua bandeira – corrupção, desigualdades sociais, segurança –, mas um verdadeiro mestre na arte de argumentar contra ataques ad hominem e no campo dos “casos e casinhos”.
A tentação de calar pela força um adversário incómodo revela que alguma esquerda, a representada pelos três candidatos, não se libertou ainda dos resquícios de ideologias totalitárias que perfilharam – no caso de Ana Gomes – e ainda perfilham – nos casos de Marisa Matias e João Ferreira.
A direita democrática deu uma importante lição nestes debates. Revelou-se tolerante e ser a única capaz de combater com argumentos políticos válidos a extrema-direita.
Será, pois, uma direita liberal, conservadora, mas sobretudo atenta às grandes questões sociais e sendo a porta-voz dessas mesmas causas que pode reconquistar o espaço político que vem perdendo ao longo dos anos mas, sobretudo, ser um travão ao crescimento de uma direita populista radical sem projeto e apenas agitadora de descontentamentos.
Este será, certamente, um combate decisivo.
Ou a direita democrática vence e sobrevive ou perecerá irremediavelmente nesta luta contra o radicalismo.
Jornalista