Falências. Novo confinamento coloca economia à beira do abismo

Falências. Novo confinamento coloca economia à beira do abismo


O novo confinamento aumentou o pessimismo dos empresários. Os apoios do Governo até travaram, numa primeira fase, as insolvências, mas face à fragilidade da economia, ninguém acredita que seja possível evitar o colapso por muito mais tempo (ou sem mais apoios do Estado).


O novo confinamento voltou a fazer soar os alarmes. Com a economia novamente suspensa, os empresários começam agora a fazer contas ao futuro. E na posse dos números já conhecidos, as perspetivas tornam-se cada vez mais pessimistas, nomeadamente nos setores do comércio e dos serviços, mais frágeis, muito dependentes da presença de pessoas nas ruas, como são os casos da restauração ou da hotelaria.

Nas últimas horas, estes setores avançaram com cenários de mais insolvências e despedimentos caso o Governo não injete mais liquidez nas empresas, de forma adequada e imediata. Até este momento, as ajudas do Estado às empresas até têm evitado uma catadupa de falências mas, com o novo confinamento, já ninguém acredita que seja possível manter o mesmo rumo, sem apoios adicionais ou… o aumento exponencial de falências.

Segundo os números da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) – que, na altura, ainda nem equacionava um novo confinamento –, 48% das empresas já estimavam diminuir as vendas até abril, enquanto 39% pensavam cortar no investimento e 12% nos postos de trabalho.

O cenário, porém, alterou-se… e para pior. “Um novo confinamento tem sempre um enorme impacto na atividade económica, como vimos no ano passado e ainda estamos todos a sentir plenamente. Hoje, a situação será ainda mais grave, porque as empresas estão mais fragilizadas, depois de um ano em que registámos a mais profunda crise de sempre e depois de estarem todo este tempo a consumir as reservas que tinham”, diz ao i a CIP.

Face ao novo confinamento, a confederação defende que “pela situação de extrema fragilidade em que se encontram muitas empresas, é absolutamente necessário que os apoios às empresas sejam reforçados e cheguem rapidamente ao terreno”. “A principal preocupação tem de continuar a ser o emprego e a criação das condições para o manter, tendo a noção de que são as empresas que geram emprego”, refere a CIP.

A União de Associações do Comércio e Serviços (UACS) vai ainda mais longe e defende não apenas apoios, mas também um regime de exceção que permita ao comércio e serviços “estarem abertos por um período de horário mais reduzido durante o novo estado de emergência”. Em comunicado, a UACS reivindica ainda “a criação de medidas adicionais que acautelem a sobrevivência das empresas nesta conjuntura” e afirma que “os mecanismos de acesso aos apoios financeiros, existentes ou futuros, devem também ser agilizados, simplificados e desburocratizados, de modo a permitirem um reforço rápido das tesourarias”. “Caso contrário o tecido empresarial comercial nunca conseguirá recuperar e acabará por desaparecer, o que resultará na perda de milhares de postos de trabalho, com graves consequências para a economia nacional e, muito em particular, para a economia da capital do país”, lê-se na nota.

Restauração a colapsar O exemplo mais perfeito da crise vive-se, provavelmente, no setor da restauração. Daniel Serra, presidente da Associação Nacional de Restaurantes (Pro.Var), é perentório ao afirmar que um novo confinamento “será terrível”. “O setor da restauração está exausto depois de dez meses de restrições severas – nomeadamente no último trimestre, com as medidas de encerramento a partir das 13h aos fins de semana –, acompanhadas de apoios insuficientes. Para a maioria das empresas, o take-away não é uma solução e os empresários preferem encerrar totalmente os restaurantes a terem apenas as cozinhas a funcionar, com um quarto dos trabalhadores, mas com custos”, diz ao i.

Segundo um inquérito realizado pela Pro.Var, logo no início do ano, cerca de um terço das empresas do setor da restauração já se encontram em incumprimento com o Estado, trabalhadores e fornecedores, e colocam mesmo a hipótese de não reabrir nesta fase, estimando-se que, em relação aos incumprimentos, a situação fique descontrolada, pois mais de dois terços (70,1%) das empresas dizem não estar em condições de cumprir com obrigações futuras. Feitas as contas, ficam em risco de insolvência mais de 63 mil empresas dos cerca de 90 mil negócios do género que existem atualmente em Portugal. E 100 mil postos de trabalho podem simplesmente evaporar-se durante o primeiro semestre.

“Os empresários da restauração, com especial incidência nos restaurantes, afirmam que terão de despedir entre três a quatro trabalhadores por estabelecimento, prevendo-se que os despedimentos atinjam esse número nos primeiros três meses de 2021”, alerta Daniel Serra.

Apoios travaram insolvências De acordo com os últimos dados da Iberinform, Portugal fechou 2020 com cinco mil insolvências (menos 71 empresas ou -1,4% face a 2019). O número apenas não terá “disparado” graças às medidas de apoio do Governo, mas os custos da crise poderão vir a sentir-se só nos próximos meses.

Ainda assim, a economia não ficou isenta de nenhuma dor visível na sequência da pandemia pois, no ano passado, foram criadas somente 37 589 novas empresas, menos 11 604 que em 2019 (ou -23,6%).