And Just  Like That… O Sexo  e a Cidade continua

And Just Like That… O Sexo e a Cidade continua


A ausência de Kim Cattrall não foi impeditiva de que a HBO Max anunciasse o regresso do clássico televisivo do final da década de 1990. Com Sarah Jessica Parker, Kristin Davis e Cynthia Nixon, O Sexo e a Cidade está de volta, mas com um novo título: And Just Like That…


Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda, ou Carrie, Charlotte e Miranda apenas. O Sexo e a Cidade está de volta, anunciou a HBO Max, mas sem aquela que terá sido a mais carismática das suas personagens: Samantha. Pelo menos sem a atriz que a interpretava entre o elenco anunciado na noite do último domingo para And Just Like That…, título sob o qual será retomado o clássico televisivo da viragem do século. Desta vez, de volta ao formato de série televisiva – para as salas de cinema terá bastado o fracasso de O Sexo e a Cidade 2, criticado pelo vazio de futilidade com que era retomada a história das quatro amigas, de viagem a Abu Dhabi.

É mais um dos regressos programados pela HBO Max, que se prepara para relançar também Gossip Girl e True Blood. A nova série terá produção executiva de Sarah Jessica Parker, Cynthia Nixon e Kristin Davis, juntamente com Michael Patrick King, que escreveu boa parte dos episódios da série criada por Darren Star e o responsável pelos dois filmes que se lhe seguiram. Para a ausência de Kim Cattrall não foi avançada nenhuma justificação, ainda que se especule que poderá estar relacionada com os seus desentendimentos com Sarah Jessica Parker ao longo dos anos.

Para lá da falta que fará a sua personagem a tantos dos fãs da série que marcou um tempo, o que será O Sexo e a Cidade na casa dos 50? Segundo o comunicado da HBO Max, And Just Like That… explorará “a realidade ainda mais complicada da vida e da amizade” entre três amigas após os 50, Carrie (Sarah Jessica Parker), Miranda (Cynthia Nixon) e Charlotte (Kristin Davis). E Sarah Aubrey, chefe de conteúdos originais da plataforma, parece entusiasmada para ver como tal propósito se materializa: “Cresci com estas personagens e estou ansiosa por ver como as suas histórias evoluíram nesta nova temporada, com a honestidade, a emoção, o humor e a cidade amada que sempre as definiram”.

A verdade é que se nem à época O Sexo e a Cidade foi capaz de reunir consenso, a tarefa estará ainda mais dificultada num ressurgimento neste novo mundo tanto pós-50 Sombras quanto pós-Me Too e pós-Girls, a série de Lena Dunham que, seguindo o mesmo modelo de crónica da vida de quatro amigas em Nova Iorque, sobre a qual se escreveu ser a série que deu voz a toda uma geração – os millennials –, mais do que isso, veio estabelecer novos padrões na forma como as mulheres, a amizade e a sexualidade são (ou devem ser) retratadas na ficção televisiva. Também ela era uma série construída sobre arquétipos. Mas a essa, também uma produção da HBO, não foram alguma vez apontadas as críticas antifeministas que se apontaram (ou apontam) a O Sexo e a Cidade.

Sobre esta série, Tanya Gold chegou a escrever no Daily Telegraph que estava para o feminismo como o açúcar está para a saúde oral. Num artigo que publicava, em 2003, no site Newsmax, em que anunciava a morte do feminismo, a jornalista e escritora nova-iorquina Joan Swirsky apontava o sucesso de O Sexo e a Cidade como prova: “Exemplo de que o feminismo está morto é a popularidade de O Sexo e a Cidade, a série da HBO que apresenta mulheres de 30 e 40 e poucos anos, que passa como mensagem inconfundível para as mulheres mais jovens e mais velhas que carreiras, dinheiro, aparência e inteligência não são nada comparados a ser capaz de qualquer coisa para conseguir um homem, incluindo uma obsessão infinita com esse assunto”.

Lembrava ontem Zoe Williams no Guardian que O Sexo e a Cidade era criticada pela falta de representatividade já no seu tempo. E recordava uma entrevista que fizera a Cattrall na viragem do milénio, em que a confrontava, agora ausente, também sobre a ausência total de amizade entre géneros, ao que a atriz que interpretava Samantha respondia: “Não tenho muitas amigas negras. A maioria das minhas amigas têm backgrounds muito semelhantes ao meu. Muitas pessoas disseram: ‘Porque não têm uma [amiga] afro-americana?’ Mas não é sobre isso, esta história”. No mesmo texto questiona-se sobre o que terá a dizer ao mundo O Sexo e a Cidade em 2021, num tempo em que “o mundo mudou em aspetos importantes”, para concluir que “And Just Like That… terá de subir a parada se quiser parecer algo mais do que um produto de época”.

As filmagens para And Just Like That…, uma série de dez episódios de meia hora, têm início previsto para meados de 2021, em Nova Iorque. A série original, estreada a 6 de junho de 1998 na HBO, estendeu-se por seis temporadas e teve a transmissão do último dos seus 94 episódios em fevereiro de 2004. Depois disso, as personagens regressaram ainda em dois filmes de O Sexo e a Cidade, ambos escritos e realizados por Michael Patrick King: o primeiro estreado em 2008 e a sua sequela chegada às salas em 2010 e que, desastrosamente recebida, marcara o final de um tempo. O tempo de O Sexo e a Cidade como o conhecemos. Talvez por isso a HBO tenha optado por rebatizá-la neste regresso, ainda sem data de estreia confirmada.