Presidenciais. Uma campanha  cheia de restrições e o risco da abstenção

Presidenciais. Uma campanha cheia de restrições e o risco da abstenção


Período oficial com ações suspensas, comícios antecipados ou por videoconferência. Governo destaca voto em mobilidade no dia 17 e adesão de mais de 20 mil pessoas.


O período de campanha oficial para as eleições presidenciais de 24 de janeiro arrancou ontem com a garantia de que os próximos dias serão de incerteza por causa da pandemia da covid-19 e o confinamento geral já está em marcha. Perante os riscos, houve candidaturas que suspenderam a agenda pública até de ontem e aguardam pelo encontro com especialistas no Infarmed para avaliar a pandemia da covid-19 e ajustar a campanha. Na abertura da campanha, o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, deu uma conferência de imprensa para abordar o ato eleitoral.

Eduardo Cabrita lembrou que mesmo em estado de emergência não se suspendem direitos fundamentais como o de uma campanha ou o direito de votar.

Por isso, incentivou os portugueses a aderirem, por exemplo, ao voto em mobilidade que terá lugar já no dia 17 de janeiro. Para o efeito, bastará a inscrição no site dedicado ao voto antecipado e levar o cartão do cidadão nessa data para a assembleia de voto indicada pelo sistema. O eleitor não precisa justificar porque quer votar antes de dia 24. Desta forma estarão assegurados dois dias para votação presencial: o dia 17 e o dia 24 de janeiro ( este último é a data marcada pelo presidente da República). Neste momento já estão inscritos 20248 pessoas para a modalidade de voto antecipado.

 

Os debates e entrevistas

Enquanto isso, os candidatos adaptam-se às circunstâncias.

No caso do Presidente da República e recandidato, Marcelo Rebelo de Sousa, não tem quase nada previsto até ao final da campanha, a não ser ainda alguns debates com todos os candidatos e um duelo televisivo no Porto Canal com Vitorino Silva no dia 20 de janeiro. O recandidato não terá tempos de antena e de acordo com informações recolhidas pelo i só terá mesmo reservado o dia 22, último dia de campanha para alguma iniciativa. Contudo, o Expresso avançou que o presidente e recandidato terá reservado ainda os dias 19, 20 e 21 para algumas ações de campanha. Tudo dependerá da evolução da pandemia da covid-19.

 

Ana Gomes afina estratégia

A ex-eurodeputada socialista Ana Gomes suspendeu ontem as iniciativas que tinha previsto para o distrito de Setúbal e aguarda pela reunião com especialistas, bem como pelas medidas preparadas e anunciadas pelo Governo no próximo dia 13 para afinar a sua agenda de campanha. Hoje terá uma ação de campanha e estará no debate com todos os candidatos amanhã à noite na RTP.

 

Correr o país e insultos a abrir a campanha

André Ventura, líder do CHEGA, fez um jantar-comício com Marine Le Pen (deverá ter Matteo Salvini também durante a campanha) em Sintra, é pediu para ter mais votos que toda a esquerda junta. Atirou sobre os seus adversários e por fim deixou um repto ao primeiro-ministro: “António Costa, reza e reza muito para que eu não vença porque tens o caminho da rua apontado”. Este foi o momento prévio ao período oficial de campanha. No dia seguinte, ontem, Ventura foi a Serpa para mais um comício ( a ideia é percorrer o país mas com número de ações mais reduzida). À chegada foi recebido por um protesto de dezenas de pessoas de etnia cigana com cartazes e houve quem lhe chamasse “facho”, leia-se fascista. O candidato tem atacado a etnia cigana.

 

Comício de manhã e sem almoços e jantares

Por seu turno, o candidato comunista João Ferreira alterou a hora do seu comício no Porto ontem (para cumprir o recolher obrigatório das 13 horas) reduziu substancialmente a assistência ( a metade) e não haverá os chamados almoços e jantares na caravana do candidato. A pandemia assim o obriga. No comício, João Ferreira lembrou que os bloqueios e o problemas do país são fruto de políticas contra o espírito da Constituição. Já o líder comunista, Jerónimo de Sousa, considerou que a candidatura de João Ferreira “não se confunde com nenhuma das outras candidaturas, por mais de esquerda que se autoafirmem ou por mais preocupações sociais que proclamem, porque esta é distinta de qualquer delas.”

 

Comícios em videoconferência

Por seu turno, a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda Marisa Matias também fez ajustes à campanha e ontem à tarde fez um comício em Lisboa por videoconferência. De manhã esteve num encontro com ex-trabalhadoras da Triumph para recordar os rostos de quem não foi recebido por Marcelo Rebelo de Sousa. Na sua campanha não haverá arruadas, almoços e comícios, mas Marisa Matias tentará falar com pessoas. “Dentro de todas as limitações não podemos transformar campanhas em monólogos porque as campanhas servem para ouvir as pessoas”, avisou ontem a candidata citada pela Lusa.

 

Confinar sem mordomias

Vitorino Silva, que há 27 anos se destacou no PS como autarca de Rans, começou ontem o período oficial de campanha em Peniche, num local simbólico contra o fascismo, para assinalar que é possível derrubar muros. Com o confinamento geral previsto para esta quinta-feira, o candidato presidencial prometeu que também o vai fazer. “Eu pertenço ao povo, não quero mordomias”, explicou. Ou seja, irá para a casa e não fará campanha. Contudo, tem vários debates agendados (um na RTP e os demais no Porto Canal).

Por seu turno, o candidato apoiado pela Iniciativa Liberal, Tiago Mayan Gonçalves, não teve ontem ações de campanha e também está a equacionar os chamados comícios por videoconferência. A partir de amanhã fará os ajustes necessários à campanha.