“Há o risco de as crianças passarem a gostar de estar mais no sofá, a ver TV ou a jogar consolas. E de os pais passarem a gostar de ficar mais por casa ao final do dia, depois do trabalho, ao invés de levarem as crianças aos treinos. E há obviamente o risco de muitas destas crianças deixarem de praticar desporto quando tudo isto passar”. As palavras em jeito profético são de José Oliveira, pai de Pedro, 17 anos, e Diana, 15, dois jovens jogadores de andebol que a pandemia manteve teimosamente por casa, longe dos pavilhões, sem treinos ou jogos, desde março do ano passado.
O exemplo desta família da região de Aveiro replica-se por muitas outras espalhadas pelo país. Com os escalões de formação “congelados” há quase um ano, os atletas e os pais começam a manifestar (novas) preocupações relativas à saúde física e mental dos mais novos. A vontade de voltar ao campo, muitas vezes, até já se sobrepõe ao medo provocado pela pandemia.
Pese as semelhanças, cada realidade é diferente – com baliza, com cesto, com rede, um stick ou outra referência qualquer –, seja ao ar livre, em pavilhão ou piscina. Neste momento, todas as modalidades coletivas, as ditas amadoras, vivem (ou melhor, sobrevivem) reféns de um obstáculo comum: a covid-19.
Regressamos à família Oliveira: Diana joga no Valongo do Vouga e Pedro no Avanca. O mais velho parece, agora, ter à mão uma solução – pois prepara-se para disputar o campeonato nacional da 3.ª divisão da modalidade, inserido numa improvisada equipa “B” de seniores promovida pelo clube (que vai reunir juvenis e juniores) –, mas à mais nova resta continuar a “trocar” umas bolas com o pai, a cada final de tarde, contra uma baliza improvisada nas traseiras do prédio. “Havia a expectativa de os treinos retomarem agora em janeiro, mas é pouco provável. As atletas não estão motivadas para treinar sabendo que não há jogos. Quer se queira, quer não, o aditivo que faz correr os atletas é a competição e sem isso não é a mesma coisa”, diz o pai.
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