Manuel Carujo e Maria Sofia estão sentados no sofá da sala. A casa de Manuel é pequena mas acolhedora. A sala tem o espaço perfeito para que nela caiba um sofá grande, duas poltronas e um móvel para a televisão. O rés-do-chão no Areeiro tem as paredes cobertas por fotografias antigas. “Olhe, isto foi quando casei”, afirma Manuel, ao mesmo tempo que retira com cuidado uma moldura presa por um prego em cima da televisão. No retrato é percetível que aquele homem é o mesmo que se encontra à nossa frente. Já da mulher não se pode dizer o mesmo. É a falecida esposa de Manuel, com quem esteve até dezembro de 2019.
“Olhe, isto é a minha família”. Desta vez, Manuel pega numa moldura com o tamanho de uma folha A3 e cerca de 15 fotografias individuais a ocupar o espaço. Aponta para cada um, para que se fique a saber quem é quem. Filhos, genros, noras e netos têm lugar por cima da televisão da sala.
Manuel tem 80 anos, e Sofia 79. Conhecem-se há perto de quatro anos, por ambos frequentarem o Centro de Dia da Santa Casa, mas a ligação dos dois carecia de palavras. Viam-se “nos bailaricos e dançávamos juntos, se calhar é daí que vem a química”, conta Manuel entre pequenas gargalhadas, enquanto olha para Sofia. Nesse tempo – em que a pandemia não era uma realidade e as pessoas ainda podiam estar fisicamente próximas –, a mulher de Manuel ainda estava viva e dançavam todos juntos. Sofia lembra que quando participavam nas excursões organizadas pela junta de freguesia, “andávamos sempre os três”.
A vida dá muitas voltas e, por vezes, é preciso refazê-la. Daniela Nogueira, psicóloga, afirma ao i que é realmente importante “para quem passou a vida inteira numa relação” voltar a ter uma companhia depois de ficar viúvo. A psicóloga explica que “este é um comportamento mais comum nos homens, devido à sociedade em que vivemos”, mas admite que não gosta de fazer generalizações ou ceder a estereótipos. Neste caso, apesar de o carinho ter sido sentido por ambos, foi de facto Manuel quem deu o primeiro passo.
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