Somos nós que escolhemos o nosso próprio destino em 2021


2020 é um ano para esquecer. Todavia, espero que a explosão pandémica tenha permitido uma inversão de valores. Pela primeira vez em muito tempo, a nossa vida social não está resumida a uma pobre busca pelo lucro ou pela acumulação de riqueza.


Chegámos à mais bela época do ano no mais horrível dos anos. É Natal. Há mais de dois mil anos uma mensagem simples ecoa nos nossos corações. Essa mensagem impele-nos a ser os guardiões dos nossos irmãos; a perdoar o outro; a cuidar de quem precisa; e, sobretudo, a amar o nosso semelhante como a nós mesmos. 

Quaisquer que sejam os nossos credos ou convicções é impossível ficar indiferente a estas palavras. Porque elas falam de unidade e de esperança, de decência e de justiça. Falam do melhor que há em nós, do melhor da natureza humana. 

2020 está finalmente a chegar ao fim. Ficará gravado na história como um dos anos mais difíceis na história recente da humanidade. Mas a mensagem do Natal perdurou. 

Viciados no imediatismo que anula a memória, nos afazeres acelerados da vida quotidiana que nos roubam o espaço para a reflexão, talvez já tenhamos esquecido que 2020 não foi apenas o ano da pandemia. 

Foi o ano em que os condóminos voltaram a ser vizinhos. 

Foi o ano em que os mais novos, mais resistentes ao vírus, deram as mãos aos mais velhos, mais atacados por ele. 

Foi o ano em que percebemos que podemos trabalhar a partir de qualquer lado, não perdendo produtividade, ganhando liberdade e poupando recursos. 

Foi o ano em que tantas empresas abraçaram noções de responsabilidade social e retribuição, devolvendo à comunidade parte daquilo que a comunidade lhes deu. 

Foi o ano em que redescobrimos a importância social dos que estando na linha de trás dos rendimentos estão na linha da frente quando se tratou de manter o nosso país a funcionar nas horas mais negras e incertas – nos supermercados e na distribuição, nas padarias e na limpeza urbana, nas forças de segurança e na proteção civil. 

E foi, por fim, o ano que nos provou a importância dos serviços públicos e do nosso SNS: nunca como agora, tão poucos (médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde) tinham tido a missão de cuidar de tantos, por tanto tempo e em ambiente de tão elevado risco. 

2020 é um ano para esquecer. Todavia, espero que a explosão pandémica tenha permitido uma inversão de valores.

Pela primeira vez em muito tempo, a nossa vida social não está resumida a uma pobre busca pelo lucro ou pela acumulação de riqueza. Há um “mais” nas nossas relações sociais. Deixámos apenas de ligar ao preço das coisas e passámos também a dar-lhes valor. E já não nos satisfazemos com os nossos direitos, ponderando sobre o que é justo para a comunidade.  

Caberá a 2021 confirmar esta tendência no plano individual, esta revolução tranquila que pode ser operada por cada um de nós. A incerteza é a sua maior inimiga. 

Se a incerteza e o medo perdurarem, se a crise económica e social se agravarem, então, no plano coletivo, 2021 não será um tempo de transições calmas mas sim um ano de transformação violenta. 

A política tem, aí, um espaço para fazer aquilo que pode e aquilo que deve. Precisamos hoje, mais do que nunca, de lideranças assentes em valores e capazes de se afirmarem pelo exemplo. Precisamos de verdade. Precisamos de honestidade. Precisamos de ética. Precisamos de lutar mais por ideias e valores de longo prazo do que por truques e táticas do momento. Precisamos de usar bem os dinheiros da Europa. Eles são a nossa última hipótese de fugir à cauda das nações menos desenvolvidas do continente. Precisamos de verdadeira prosperidade, não de ilusão de devolução de rendimentos. Precisamos de investimento sustentável, reprodutivo e gerador de emprego. Não precisamos de alimentar os mesmos interesses do costume. Não precisamos de elefantes brancos. Não precisamos de inventar a roda. 

Só precisamos de um pouco de razoabilidade e normalidade. Eu sei que é exigente o empreendimento da normalidade. Mas é ele o melhor antídoto contra os populismos e os extremismos que brotam à sombra das insuficiências do regime democrático.

Quanto a nós, em Cascais, continuaremos neste Natal a fazer chegar aos nossos concidadãos uma mensagem de esperança e compromisso na construção de um mundo melhor e de uma sociedade mais decente. Uma sociedade onde somos, cada vez mais, todos por todos. 

A todos os leitores e colaboradores do i, um Feliz e Santo Natal.

Presidente da Câmara Municipal de Cascais

Escreve à quarta-feira

Somos nós que escolhemos o nosso próprio destino em 2021


2020 é um ano para esquecer. Todavia, espero que a explosão pandémica tenha permitido uma inversão de valores. Pela primeira vez em muito tempo, a nossa vida social não está resumida a uma pobre busca pelo lucro ou pela acumulação de riqueza.


Chegámos à mais bela época do ano no mais horrível dos anos. É Natal. Há mais de dois mil anos uma mensagem simples ecoa nos nossos corações. Essa mensagem impele-nos a ser os guardiões dos nossos irmãos; a perdoar o outro; a cuidar de quem precisa; e, sobretudo, a amar o nosso semelhante como a nós mesmos. 

Quaisquer que sejam os nossos credos ou convicções é impossível ficar indiferente a estas palavras. Porque elas falam de unidade e de esperança, de decência e de justiça. Falam do melhor que há em nós, do melhor da natureza humana. 

2020 está finalmente a chegar ao fim. Ficará gravado na história como um dos anos mais difíceis na história recente da humanidade. Mas a mensagem do Natal perdurou. 

Viciados no imediatismo que anula a memória, nos afazeres acelerados da vida quotidiana que nos roubam o espaço para a reflexão, talvez já tenhamos esquecido que 2020 não foi apenas o ano da pandemia. 

Foi o ano em que os condóminos voltaram a ser vizinhos. 

Foi o ano em que os mais novos, mais resistentes ao vírus, deram as mãos aos mais velhos, mais atacados por ele. 

Foi o ano em que percebemos que podemos trabalhar a partir de qualquer lado, não perdendo produtividade, ganhando liberdade e poupando recursos. 

Foi o ano em que tantas empresas abraçaram noções de responsabilidade social e retribuição, devolvendo à comunidade parte daquilo que a comunidade lhes deu. 

Foi o ano em que redescobrimos a importância social dos que estando na linha de trás dos rendimentos estão na linha da frente quando se tratou de manter o nosso país a funcionar nas horas mais negras e incertas – nos supermercados e na distribuição, nas padarias e na limpeza urbana, nas forças de segurança e na proteção civil. 

E foi, por fim, o ano que nos provou a importância dos serviços públicos e do nosso SNS: nunca como agora, tão poucos (médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde) tinham tido a missão de cuidar de tantos, por tanto tempo e em ambiente de tão elevado risco. 

2020 é um ano para esquecer. Todavia, espero que a explosão pandémica tenha permitido uma inversão de valores.

Pela primeira vez em muito tempo, a nossa vida social não está resumida a uma pobre busca pelo lucro ou pela acumulação de riqueza. Há um “mais” nas nossas relações sociais. Deixámos apenas de ligar ao preço das coisas e passámos também a dar-lhes valor. E já não nos satisfazemos com os nossos direitos, ponderando sobre o que é justo para a comunidade.  

Caberá a 2021 confirmar esta tendência no plano individual, esta revolução tranquila que pode ser operada por cada um de nós. A incerteza é a sua maior inimiga. 

Se a incerteza e o medo perdurarem, se a crise económica e social se agravarem, então, no plano coletivo, 2021 não será um tempo de transições calmas mas sim um ano de transformação violenta. 

A política tem, aí, um espaço para fazer aquilo que pode e aquilo que deve. Precisamos hoje, mais do que nunca, de lideranças assentes em valores e capazes de se afirmarem pelo exemplo. Precisamos de verdade. Precisamos de honestidade. Precisamos de ética. Precisamos de lutar mais por ideias e valores de longo prazo do que por truques e táticas do momento. Precisamos de usar bem os dinheiros da Europa. Eles são a nossa última hipótese de fugir à cauda das nações menos desenvolvidas do continente. Precisamos de verdadeira prosperidade, não de ilusão de devolução de rendimentos. Precisamos de investimento sustentável, reprodutivo e gerador de emprego. Não precisamos de alimentar os mesmos interesses do costume. Não precisamos de elefantes brancos. Não precisamos de inventar a roda. 

Só precisamos de um pouco de razoabilidade e normalidade. Eu sei que é exigente o empreendimento da normalidade. Mas é ele o melhor antídoto contra os populismos e os extremismos que brotam à sombra das insuficiências do regime democrático.

Quanto a nós, em Cascais, continuaremos neste Natal a fazer chegar aos nossos concidadãos uma mensagem de esperança e compromisso na construção de um mundo melhor e de uma sociedade mais decente. Uma sociedade onde somos, cada vez mais, todos por todos. 

A todos os leitores e colaboradores do i, um Feliz e Santo Natal.

Presidente da Câmara Municipal de Cascais

Escreve à quarta-feira