Joko Widodo, Presidente da Indonésia, o quarto país mais populoso do mundo, anunciou na semana passada que a vacina contra a covid-19 será gratuita para os seus 267 milhões de habitantes.
Apesar desta dádiva, existe um setor da população reticente. As reservas não dizem respeito à eficácia da vacina, mas sim a se esta respeita certos padrões religiosos.
Muitas vacinas contêm ingredientes de origem animal, nomeadamente gelatina de porco, cujo consumo é proibido por diversos grupos religiosos. Segundo a Associated Press, isso está a “gerar preocupações sobre a possibilidade de interromper campanhas de vacinação”.
Em setembro de 2018, quando funcionários do Ministério da Saúde da Indonésia se deslocaram até à ilha de Celebes, durante uma campanha de vacinação contra o sarampo e a rubéola, foram recebidos pelos nativos armados com facas.
“Alguns enfermeiros foram ameaçados com facões porque os pais disseram que não queriam vacinar os filhos, que é haram [termo usado no Islão para se referir a qualquer coisa que é proibida pela fé]”, disse na altura o subchefe do gabinete presidencial, Yanuar Nugroho.
A gelatina de porco não é utilizada por acaso. Este ingrediente é utilizado para garantir a estabilidade das vacinas de forma a que se mantenham seguras e eficazes durante o armazenamento e transporte.
A Pfizer, a Moderna e a AstraZeneca garantiram que as suas vacinas contra a covid-19 não possuem produtos derivados de porco, mas muitas outras farmacêuticas que irão abastaecer populações com grandes percentagens de muçulmanos, como é o caso da Indonésia, ainda não se pronunciaram sobre o assunto.
Este é um grande dilema para comunidades religiosas como os judeus ortodoxos e os muçulmanos. “Há uma divergência de opiniões entre especialistas islâmicos em relação a consumir algo como gelatina de porco que passou por uma transformação química rigorosa”, explicou o secretário geral da British Islamic Medical Association, Salman Waqar, à AP. “Neste caso, será ainda considerado religiosamente impuro?”.
A agência de notícias cita o professor da Universidade de Sydney, Harunor Rashid, que explicou que o grande consenso desta discussão é que as vacinas devem ser permitidas pela lei islâmica, uma vez que a sua não administração pode provocar um “mal maior”.
Segundo o rabi David Stav, diretor da Tzohar, organização israelita de mais de 800 rabinos sionistas ortodoxos religiosos, a lei judaica “proíbe comer porco ou usar porco quando é uma forma natural de o comer”, como neste caso “é injetado no corpo, e não é comido através da boca”, não deve haver nenhum tipo de problema, especialmente quando se trata de curar uma doença”, disse à AP.
Caso a população continue a acreditar que não pode tomar a vacina, isto pode resultar num “desastre”, explicou Rashid, por isso, entidades da Indonésia, o país do mundo com a maior comunidade muçulmana, estão a fazer de tudo para para garantir que a população se encontra bem informada em relação a este problema.
No início deste mês, o principal órgão clerical muçulmano na Indonésia, a Agência de Garantia de Produtos Halal do Conselho Indonésio de Ulemá, anunciou que iria emitir uma certificação religiosa específica para a vacina experimental contra a covid-19 desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac Biotech.
Para dar o exemplo, o Presidente indonésio, Joko Widodo, anunciou que ia ser a primeira pessoa do seu país a receber a vacina contra a covid-19.