Uma é social-democrata e a outra nada vê de errado no PCTP/MRPP


As campanhas eleitorais, sobretudo as que se destinam à corrida a Belém são sempre ciclicamente acompanhadas de tiradas que ficam perpetuadas na memória coletiva por muitos e longos anos. Na verdade, quando elas se aproximam há sempre uma certa mística própria de que no desejo de agradar a tudo e todos daí se possa esperar…


As campanhas eleitorais, sobretudo as que se destinam à corrida a Belém são sempre ciclicamente acompanhadas de tiradas que ficam perpetuadas na memória coletiva por muitos e longos anos. Na verdade, quando elas se aproximam há sempre uma certa mística própria de que no desejo de agradar a tudo e todos daí se possa esperar os maiores disparates. Tanto é que esta realidade atingiu o seu expoente máximo com a célebre parangona Marcelista de que em Belém tem de estar o Presidente de todos os portugueses. Não é que materialmente assim não seja porque a partir do momento em que alguém é eleito Presidente da República obviamente representa-a e personifica-a na sua totalidade. Mas esta natural tendência em banalizar o que deve ser a personalidade própria de quem exerce os mais altos cargos da nação é uma patetice absolutamente inenarrável. A riqueza da vida está na diferença e singularidade de cada um seja naquilo que colhe junto dos demais simpatia ou antipatia, concordância ou divergência. Nunca num marasmo pessoal em que se querendo estar em todo lado acaba por nunca se conseguir estar em lado nenhum. Ora para não fugir a esta narrativa também nesta pré-campanha já se verificaram pelo menos dois momentos em que, confesso, me diverti um bocado com o que tinha acabado de ouvir. O primeiro momento foi quando para meu grande espanto Marisa Matias afirmou, perante Miguel Sousa Tavares, que é uma social-democrata. Convenhamos que é preciso uma considerável dose de boa disposição para aguentar uma declaração desta natureza. Sendo o Bloco de Esquerda um partido com as características proibicionistas e ditatoriais que todos lhe reconhecemos é no mínimo caricato ver este piscar de olhos sabe-se lá a quê ou a quem por parte da candidata presidencial em causa. Mas mais delicioso foi ver Ana Gomes totalmente engadanhada quando teve de explicar uma vez mais ao jornalista antes mencionado, a sua passagem e identificação com o PCTP/MRPP. Obviamente que Ana Gomes tem todo o direito de pertencer ou ter pertencido aos partidos que quiser ou tenha querido no passado. O que já não pode é branquear o que as suas escolhas representam e passar um verdadeiro atestado de incompetência a quem a está a ouvir ainda que manifestamente desde logo o tenha feito a si própria. Ouvir Ana Gomes dizer que o PCTP/MRPP tinha uma agenda democrática é qualquer coisa digna de um Óscar. Isso e ouvi-la afirmar que quando por lá passou não havia a perceção de que o partido em causa assenta nos princípios do maoismo/estalinismo que são apenas e tão só duas linhas ideológicas que não servem nem para piaçaba de casa de banho. Quanto a mim, a cereja no topo do bolo foi quando reiterou que só tinha aderido à força política supramencionada após o 25 de Abril o que ainda é substancialmente pior atendendo ao que nesse momento se vivia no país e que só pela decorrência do 25 de Novembro nos livrou a todos de sermos dominados por uma ditadura de esquerda iminentemente soviética. Foi pior a emenda que o soneto. Termino desabafando que é um pouco confrangedor ver que alguns dos políticos que hoje mais enchem a boca com as palavras democracia e/ou liberdade sejam ao mesmo tempo aqueles que no processo da sua construção estiverem constantemente do lado errado da barricada. É que se a memória humana pode ser curta ou muitas vezes seletivamente moldada, a histórica não perdoa. Enquanto alguns agentes políticos não perceberem que mais que estarem a fazer mal a si próprios com esta postura fazem sobretudo mal ao país pelo que ela representa, nunca poderão ser levados a sério por quem os ouve.

Escreve à sexta-feira