Da vacina da Ana Gomes


No decorrer desta semana a candidata presidencial Ana Gomes declarou para espanto de muitos portugueses que cansada de esperar nas lamentáveis listas de espera para a vacinação antigripal resolveu tomar uma vacina que para esse efeito tinha sido trazida de França por uma amiga sua.


Porreiro, poderiam pensar alguns. Mas logo aqui parece-me um pouco estranho que alguém que passando a vida a criticar duramente, nalguns casos compreensivelmente, determinados atropelos que a classe política exerce face ao cidadão comum, não tenha em nada considerado questionável a sua decisão. Mas ainda mais espantado fiquei quando tanto quanto percebi pelo que saiu na imprensa, ao ser confrontada com o esclarecimento do Infarmed de que tal procedimento era ilegal, tenha apenas com a maior naturalidade dito que não sabia que assim era e que havia tomado a vacina numa farmácia. Há aqui várias dinâmicas que talvez seja importante avaliar.

A primeira, jurídica, para dizer que tal como prevê uma velha máxima legal, o desconhecimento da lei não aproveita a ninguém. A segunda, igualmente grave, mas quanto a mim ainda mais inaceitável, é de não conseguir compreender como é que uma mulher como Ana Gomes que foi deputada nacional, deputada europeia e, portanto, à partida, conhecedora profunda da legislação, possa dizer uma coisa destas com este descomprometimento.

Parece-me a mim que não é preciso ser-se um génio para quanto mais não seja por bom senso perceber que se um determinado medicamento não está disponível no país, trazê-lo de fora e tomá-lo com uma facilidade que aos restantes cidadãos não está a ser conferida, não é intelectualmente correcto ou legalmente admissível. É por estas e por outras que ninguém pode levar Ana Gomes a sério. E questiono-me, meramente do ponto de vista político, como é que alguém que tendo uma atitude desta natureza, em que claramente se preocupando mais consigo do que com os restantes portugueses a quem se apresenta como candidata a Presidente da República, encontra razoabilidade possível que permita manter a sua candidatura.

Da mesma forma que não compreendo também, ou eventualmente compreendo, mas esse debate não caberá aqui, o motivo pelo qual a comunicação social falou um pouco sobre o assunto, mas o mesmo se eclipsou com mais rapidez do que aquela com que se tornou público. Alguém já imaginou o que seria se fosse André Ventura ou outra qualquer pessoa conotada com a direita política a tomar a vacina neste contexto em vez de Ana Gomes? Alguém já imaginou aquele que seria o verdadeiro “descasca laranja” feito por Ana Gomes se quem tivesse tomado a vacina fosse André Ventura ou qualquer outro político conotado com a direita política? São questões perfeitamente legítimas.

Legítimas e necessárias. Mas Ana Gomes ainda conseguiu surpreender mais quando ao ser confrontada com um tweet em que alguém a questionava exactamente por isto e por acusá-la de se ter comportado como as elites que tanto gosta de criticar respondeu mandando o seu interlocutor contemplar o Bugio. Isto tudo para dizer que é fundamental não nos desviarmos de uma análise de carácter que tem aqui de ser feita. E nessa análise, parafraseando Lobo Xavier numa sua tirada já famosa, Ana Gomes demonstrou que não tem condições para ser candidata a porra nenhuma. Mas como estamos em Portugal nada acontecerá. Não terá Ana Gomes vergonha de sabendo que há neste país milhões de pessoas que aguardam tenebrosamente pela vacina da gripe, algumas delas com receio sério de deterioração da sua saúde se não a tomarem por patologias paralelas de que padeçam, ter ainda assim decidido tomar a sua?

Fica a pergunta.

A pergunta e o desejo de que peça desculpa a todos os portugueses que não têm amigos que lhes mandem vir as vacinas de que precisam.


Da vacina da Ana Gomes


No decorrer desta semana a candidata presidencial Ana Gomes declarou para espanto de muitos portugueses que cansada de esperar nas lamentáveis listas de espera para a vacinação antigripal resolveu tomar uma vacina que para esse efeito tinha sido trazida de França por uma amiga sua.


Porreiro, poderiam pensar alguns. Mas logo aqui parece-me um pouco estranho que alguém que passando a vida a criticar duramente, nalguns casos compreensivelmente, determinados atropelos que a classe política exerce face ao cidadão comum, não tenha em nada considerado questionável a sua decisão. Mas ainda mais espantado fiquei quando tanto quanto percebi pelo que saiu na imprensa, ao ser confrontada com o esclarecimento do Infarmed de que tal procedimento era ilegal, tenha apenas com a maior naturalidade dito que não sabia que assim era e que havia tomado a vacina numa farmácia. Há aqui várias dinâmicas que talvez seja importante avaliar.

A primeira, jurídica, para dizer que tal como prevê uma velha máxima legal, o desconhecimento da lei não aproveita a ninguém. A segunda, igualmente grave, mas quanto a mim ainda mais inaceitável, é de não conseguir compreender como é que uma mulher como Ana Gomes que foi deputada nacional, deputada europeia e, portanto, à partida, conhecedora profunda da legislação, possa dizer uma coisa destas com este descomprometimento.

Parece-me a mim que não é preciso ser-se um génio para quanto mais não seja por bom senso perceber que se um determinado medicamento não está disponível no país, trazê-lo de fora e tomá-lo com uma facilidade que aos restantes cidadãos não está a ser conferida, não é intelectualmente correcto ou legalmente admissível. É por estas e por outras que ninguém pode levar Ana Gomes a sério. E questiono-me, meramente do ponto de vista político, como é que alguém que tendo uma atitude desta natureza, em que claramente se preocupando mais consigo do que com os restantes portugueses a quem se apresenta como candidata a Presidente da República, encontra razoabilidade possível que permita manter a sua candidatura.

Da mesma forma que não compreendo também, ou eventualmente compreendo, mas esse debate não caberá aqui, o motivo pelo qual a comunicação social falou um pouco sobre o assunto, mas o mesmo se eclipsou com mais rapidez do que aquela com que se tornou público. Alguém já imaginou o que seria se fosse André Ventura ou outra qualquer pessoa conotada com a direita política a tomar a vacina neste contexto em vez de Ana Gomes? Alguém já imaginou aquele que seria o verdadeiro “descasca laranja” feito por Ana Gomes se quem tivesse tomado a vacina fosse André Ventura ou qualquer outro político conotado com a direita política? São questões perfeitamente legítimas.

Legítimas e necessárias. Mas Ana Gomes ainda conseguiu surpreender mais quando ao ser confrontada com um tweet em que alguém a questionava exactamente por isto e por acusá-la de se ter comportado como as elites que tanto gosta de criticar respondeu mandando o seu interlocutor contemplar o Bugio. Isto tudo para dizer que é fundamental não nos desviarmos de uma análise de carácter que tem aqui de ser feita. E nessa análise, parafraseando Lobo Xavier numa sua tirada já famosa, Ana Gomes demonstrou que não tem condições para ser candidata a porra nenhuma. Mas como estamos em Portugal nada acontecerá. Não terá Ana Gomes vergonha de sabendo que há neste país milhões de pessoas que aguardam tenebrosamente pela vacina da gripe, algumas delas com receio sério de deterioração da sua saúde se não a tomarem por patologias paralelas de que padeçam, ter ainda assim decidido tomar a sua?

Fica a pergunta.

A pergunta e o desejo de que peça desculpa a todos os portugueses que não têm amigos que lhes mandem vir as vacinas de que precisam.