Resultados de um ensaio clínico em Espanha concluíram não haver vantagem na toma de hidroxicloroquina para prevenir a infeção com o novo coronavírus quando se tem contacto próximo com alguém infetado. A toma profilática deste medicamento usado contra alguns tipos de malária e doenças reumatológicas tem vindo a ser discutida desde o início da epidemia, tendo sido recomendada em países como Brasil e EUA – um dos defensores do uso do medicamento ao longo dos últimos meses foi mesmo o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro. A investigação desenvolvida na Catalunha apresenta agora novos dados que sugerem que não existem benefícios na toma do medicamento a título profilático.
As conclusões do ensaio foram publicadas esta semana na revista médica "New England Journal of Medicine". Em causa esteve um ensaio clínico randomizado que envolveu contactos assintomáticos de doentes que testaram positivo para o coronavírus. A equipa dividiu as pessoas que tinham tido contacto próximo com pessoas infetadas em dois grupos: um dos grupos tomou hidroxicloroquina (uma dose de 800 mg uma vez, seguida de 400 mg por dia por 6 dias) e outro grupo seguiu os cuidados habituais, sem receber o medicamento. Para medir o benefício da medicação, ao fim de 14 dias a equipa avaliou quantos dos contactos testaram positivo para o vírus, independentemente dos sintomas. Os eventos adversos foram avaliados ao fim de 28 dias.
Ao todo o estudo abrangeu assim 2314 contactos saudáveis de um total de 672 doentes infetados com covid-19, diagnosticados entre 17 de março e 28 de abril, pode ler-se no artigo que divulga os resultados. Destes, 1116 fizeram o tratamento com hidroxicloroquina e 1198 não tomaram o medicamento. Os autores concluem que, no que diz respeito à incidência da infeção, os resultados foram semelhantes nos dois grupos, com 5,7% e 6,2% dos contactos que desenvolveram sintomas a testarem positivo para o vírus ao fim dos 14 dias de seguimento. Já dos 2000 contactos que testaram negativo no teste PCR, 365 (18,2%) vieram a ter um teste positivo ou sintomas compatíveis com covid-19, também sem diferenças substanciais entre o grupo que tomou hidroxicloroquina e o que não tomou (a incidência foi de 18,7% no grupo que tomou o medicamento e de 17,8% no outro). Por fim, avaliados os efeitos adversos, concluíram que houve mais queixas no grupo que fez o medicamento do que naquele que não fez (56.1% vs. 5.9%), acrescentando no entanto que não foram reportados efeitos adversos graves. Os efeitos adversos mais frequentes foram problemas gastro-interstinais (diarreia, náuseas e dor abdominal), tonturas e dor de cabeça.
"A terapia pós-exposição com hidroxicloroquina não evitou a infecção por SARS-CoV-2 ou casos de Covid-19 sintomáticos em pessoas saudáveis expostas a um paciente com teste PCR positivo", conclui o trabalho, parte do estudo de Profilaxia de Pós-Exposição contra o SARS-CoV-2 de Barcelona (BCN-PEP-CoV2). "Apesar dos resultados promissores in vitro que colocaram a hidroxicloroquina entre os principais candidatos para tratamento e profilaxia com Covid-19, não há dados convincentes que sugiram que a hidroxicloroquina seja eficaz. Fornecemos evidências sobre a falta de eficácia da terapia de profilaxia pós-exposição com hidroxicloroquina para prevenir a infecção por SARS-CoV-2 ou Covid-19 sintomático", escrevem mesmo os autores.