Entre janeiro e setembro de 2020, a Polícia de Segurança Pública (PSP) registou um total de 11100 ocorrências de violência doméstica – uma diminuição de 8,58% em relação ao período homólogo de 2019. Devido ao confinamento provocado pela pandemia de covid-19 – principalmente em março e abril – era expectável que se registasse um aumento deste valor. Mas o que tem acontecido atualmente é um crescimento das denúncias por parte de familiares, amigos e colegas de trabalho e não das próprias vítimas. Ao i, Daniel Cotrim, psicólogo da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), sublinha que os momentos “mais incertos” da pandemia, tais como o confinamento, fizeram com que as vítimas perdessem a liberdade de poder denunciar, uma vez que estavam constantemente com os agressores.
“Um dos números que tem variado este ano é precisamente os das queixas e denúncias por parte de terceiros:_tem existido um aumento de pedidos de ajuda por familiares, amigos e colegas de trabalho. É uma realidade que já não víamos há muito tempo, apesar da grande maioria das denúncias continuar a ser feita pelas vítimas”, considera, notando que algumas medidas de prevenção contra a covid-19 acabaram por prejudicar quem sofre de violência doméstica. “O teletrabalho, por exemplo, como medida restritiva e necessária do ponto de vista sanitário, fez novamente com que muitos casais ficassem de novo em casa, ou seja, a vítima com a pessoa agressora, o que diminui o facto de as pessoas conseguirem pedir ajuda”. E acrescenta: “Aquilo que se está a passar neste momento é que está a diminuir novamente o número de denúncias por ser um período um bocadinho incerto. com as questões económicas e da própria pandemia. Com isto tudo, as pessoas ficaram mais paralisadas a tomar uma decisão”.
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