Não se recupera uma economia que não existe


Em Portugal assistimos a um programa de pseudo auxílios de Estado a vários sectores de actividade, pseudo auxílios esses enfaticamente difundidos pelo Governo e pelos meios de comunicação social, mas que analisados metodicamente, teórica e operativamente, são uma absoluta inutilidade.


Não vá este artigo ser imediatamente alvo das mais escabrosas críticas costumeiramente redigidas pela bateria de valentes e hábeis intelectos sem rosto que proliferam pelos forúns das edições online dos jornais portugueses (apenas para maldizer) começo por considerar, com naturalidade, que a pandemia colocou os agentes políticos perante dificuldades que pela sua complexidade e multidisciplinaridade não são fáceis de resolver.

Nesse contexto não há lâmpadas que ao serem esfregadas soltem um qualquer génio com o dom de resolver todos os problemas ou caminhos possíveis de resolução que não tragam consigo feitos secundários.

No entanto se o que acabo de considerar é verdade, não é menos verdade que se deve estar atento a medidas políticas que não representem uma qualquer solução, mas antes, apenas e só, um empurrar com a barriga, que sejamos novamente francos, é especialidade dos governos socialistas ou de qualquer outra força de esquerda.

Em Portugal assistimos a um programa de pseudo auxílios de Estado a vários sectores de actividade, pseudo auxílios esses enfaticamente difundidos pelo Governo e pelos meios de comunicação social, mas que analisados metodicamente, teórica e operativamente, são uma absoluta inutilidade.

Já por diversas vezes falei neste assunto e vejo com preocupação o adensar do errado paradigma de intervenção Estatal no que respeita à diminuição de prejuízos causados à economia pelo Covid-19. Tendo para mim que isto está péssimo, tenho também, ainda assim, que está bem melhor do que vai estar daqui a meia dúzia de anos. Desde logo porque a bazuca europeia, a vir, não serve para ressarcir danos criados por esta crise, mas apenas para criação de defesas face a outras que possam seguir.

Ninguém explica isto aos portugueses. Ninguém explica que estamos apenas a varrer o lixo para debaixo do tapete.

Não é com este pseudo pacote de auxílio económico que o Estado vai garantir, minimamente, a viabilidade do que resta da economia nacional, das empresas e das famílias portuguesas.

Linhas de crédito não são ajuda alguma pelo simples facto de que algum dia terão de ser pagas. Uma empresa que para se manter aberta tem de recorrer a uma linha de crédito é porque não factura. Se não factura perde liquidez. Quando recomeçar a facturar qualquer coisa que se veja tem os empréstimos à perna. Quando isso acontecer volta a não haver dinheiro que chegue para manter a empresa a laborar, pagar os vencimentos aos trabalhadores e liquidar os empréstimos que o Estado tão docemente lhes disponibilizou. Ou seja, o Estado não está a salvar empresas. Está apenas a adiar o seu encerramento.

Resultado, aumento exponencial do desemprego. Consequência, mais prestações sociais a pagar pelo Estado a quem está desempregado, encolhimento do cofre do estatal pela articulação entre diminuição de receita e aumento exponencial da despesa pública.

Estocada final: aumento de impostos que já ninguém pode pagar.

Não é preciso ser doutor em direito económico, fiscal, empresarial, finanças públicas, gestão de empresas, administração público-privada ou qualquer outra área do conhecimento para perceber este inevitável desfecho. Basta pensar.

Perguntam-me: Então como resolvias?

O Estado tem de assumir perdas a fundo perdido e injectar liquidez directa no tecido empresarial português para que depois seja possível, num programa de longo prazo, sustentada e metodicamente, ir recuperando a economia.

E não me digam que não há dinheiro. Se há milhões e milhões para bancos falidos também tem de haver para o tecido empresarial. O que não há é coragem política para alocar o dinheiro onde ele realmente faz falta.

Não se recupera algo que não existe. Estamos a um passo de não conseguir recuperar a economia pelo simples facto que ela vai deixar de existir.

Rodrigo Alves Taxa