Portugal não tem sido capaz de contrariar as piores previsões dos especialistas. Os números são negros e, assim o dizem os estudos, não tendem a melhorar nas próximas semanas. Estamos a meio do outono e temos todo o inverno pela frente. Para além da covid-19, chegarão os dias de frio e chuva, a gripe e todas as patologias habituais na estação.
A catástrofe económica está a dizimar as nossas empresas. E, na sua cauda, formou-se um tsunami social de falências, de desemprego e de perda de rendimentos.
Este caldo de tensões é temperado por famílias em sofrimento, por exaustão do SNS e por limitações à liberdade e à felicidade individual nunca antes vividas em democracia.
A perspetiva de distribuição de duas vacinas contra o coronavírus faz-nos acreditar num futuro melhor. Porém, é importante que toda a gente entenda que esse futuro não está ao virar da esquina.
Até chegar a primavera temos mais de três meses muito duros à nossa frente. Precisamos de cerrar os dentes e enfrentar, com serenidade, união e resiliência, o que aí vem.
Com o vírus a ganhar terreno por todo o país, escalámos a resposta no nosso território.
Embora não dependa apenas de nós, decisores políticos, mas muito da responsabilidade individual dos cidadãos, continuamos a ter como objetivo dar um combate sem tréguas a este inimigo cobarde. A nossa estratégia tem agora três reforços ao serviço da população e em consonância com aquelas que são as necessidades da saúde pública. Repensámos as funções das pessoas e, sobretudo, reinventámos os usos dos espaços para sermos mais eficazes na emergência pandémica.
1. Centro de congressos: campo de batalha contra a covid-19. Um espaço de eventos foi virado de pernas para o ar para fazer frente à pandemia. Logo no início da primeira vaga, em março, transformámos o Centro de Congressos do Estoril num grande complexo de testes PCR com a presença dos laboratórios Germano de Sousa e Joaquim Chaves – parceiros no âmbito do acordo de testagem celebrado com o SNS. Mais tarde, foi no Estoril que instalámos a Cruz Vermelha Portuguesa, que lidera a operação de testes que a Segurança Social está a correr em todos os trabalhadores de lares do concelho. Durante as últimas semanas, em parceria com o ACES/Cascais, preparámos o centro de congressos para ser uma extensão do Centro de Saúde de São João do Estoril. Este alargamento permitirá criar sete novos gabinetes médicos ADR – apoio a doentes respiratórios –, responsáveis pelas consultas a suspeitos de infeção pelo coronavírus.
2. Hotel como retaguarda de infetados e de doentes hospitalizados com alta clínica. Com o número de infetados a escalar por todo o país, impõem-se soluções ao nível local que evitem a precipitação de novas cadeias de contágio em ambiente familiar. Atenta a este fenómeno, e sobretudo àqueles cidadãos sem condições para realizar o isolamento em casa, Cascais alugou um hotel com 70 quartos e 150 camas. A autarquia suportará o custo da renda e de todas as operações de desinfeção, manutenção e gestão de resíduos biológicos. A função deste hotel de retaguarda não se esgota no apoio a doentes. Tem uma função social, no apoio a operações de evacuação de lares e casas de repouso fustigadas pela pandemia e ainda permitir libertar camas no hospital até aí ocupadas por doentes com alta hospitalar.
3. Reforço da equipa de saúde pública: 30 voluntários para inquéritos epidemiológicos. Identificar e isolar contactos de alto risco é a única forma de quebrar as cadeias de transmissão. A debater-se com falta de meios humanos, a Câmara de Cascais prontificou-se a reforçar as equipas de saúde pública com funcionários municipais treinados para o efeito. A formação terminou na passada segunda-feira e é com confiança num trabalho bem feito e urgente que acrescentamos cerca de 30 trabalhadores municipais às equipas de rastreadores. Estamos numa luta contra o tempo e estes funcionários públicos, verdadeiros servidores da comunidade, podem ajudar a identificar os contactos em tempo útil, o que permitirá às autoridades isolar os suspeitos e cortar cadeias de transmissão.
Nós, os portugueses, andamos por cá há quase 900 anos. Já vivemos outras crises e outras pandemias. Se há povo que tem noção de possibilidade histórica e de horizonte de futuro, esse povo somos nós.
Não é por acaso que a linguagem popular gravou o ditado “atrás do tempo, tempo vem”. Mas enquanto esse tempo de normalidade não chega, enquanto não recuperamos as nossas vidas de volta, ninguém será deixado à sua sorte. Nenhuma resposta ficará por dar e nenhuma medida por tomar. Juntos entrámos nisto e juntos venceremos esta maldita pandemia. Os tempos exigem que sejamos todos por todos.
Presidente da Câmara Municipal de Cascais
Escreve à quarta-feira