No início da semana alertou que não será possível vencer a pandemia colocando onze guarda-redes à baliza, ou seja, reforçando apenas o sistema de saúde. Defende que há trabalho a fazer aí, sobretudo “no elo mais fraco” da capacitação conseguida nos últimos meses nos hospitais para enfrentar uma nova vaga da epidemia – a insuficiência de recursos humanos – mas a metáfora serviu para transmitir outra convicção: o agravamento da transmissão de covid-19 torna imperativas medidas mais fortes agora para achatar a curva, mesmo que possam ser aliviadas mais tarde, e regionais e não apenas municipais. A lógica de “circuit breaker” que foi por exemplo seguida no País de Gales, no caso com um confinamento de curta duração. José Artur Paiva, presidente do colégio de Medicina Intensiva da Ordem dos Médicos e intensivista no Hospital de São João, defende que o conceito de “achatar a curva” tem de voltar a fazer parte do léxico da discussão pública e explica a situação atual e por que motivo discorda de uma estratégia de medidas incrementais à medida que são necessárias, que admite que pode não ser suficiente para evitar a rutura dos serviços de saúde e garantir que todos os doentes que precisam, covid e não covid, têm acesso a cuidados.
Por já estar a ser preciso recalendarizar algumas intervenções programadas, aquelas em que o impacto do adiamento é menor, defende que a linha vermelha da resposta já está a ser pisada, porque o compromisso é dar resposta a todos os doentes. Numa carta aberta ao Ministério da Saúde, que o bastonário dos Médicos também subscreve, a direção do colégio de Medicina Intensiva da Ordem dos Médicos defende que deve ser decretado o estado de emergência. Se se falhar reiteradamente na defesa dos cidadãos, da sociedade e do SNS, “restar-nos-á, no fim do dia, a implacável decisão de implementar o confinamento generalizado forçado”, alertam os intensivistas num texto que o i publica também na edição deste fim de semana.
O país passou esta semana o patamar dos 4 mil casos diários. O Ministério da Saúde admitiu que na próxima semana poderão ser precisos cuidados intensivos para mais de 400 doentes com covid-19. A OMS alertou na semana passada que os sistemas de saúde europeus vão chegar ao limite da sua capacidade. A que distância estamos hoje desse ponto? Onde está a linha vermelha?
O Serviço Nacional de Saúde, embora de uma forma muito heterogénea ao longo do país, está sob uma pressão significativa e crescente de casos de covid-19, sendo que mantém a responsabilidade e o compromisso de não prejudicar os cuidados aos doentes não covid. Este é o momento atual. E e é preciso perceber que esse desafio é bastante diferente do da primavera, em que o confinamento total do país não só reduziu o número de casos de covid-19 como, no caso concreto da medicina intensiva, reduziu as necessidades de tratar outros doentes.
Houve menos acidentes, por exemplo.
Sim. Com menor circulação de pessoas tivemos uma redução nos acidentes de trabalho grave, acidentes de viação grave, grandes traumatizados que têm um peso significativo na nossa especialidade. Neste momento temos todos os doentes, temos uma atividade muito significativa não covid e uma atividade crescente e preocupante de doentes com covid-19. E portanto, respondendo, já várias entidades deixaram claro que estamos naquele ponto em que para continuar a absorver a procura de doentes com covid-19 os hospitais começam a ter de fazer alguma priorização de atividade programada eletiva.
Deixar para trás outros doentes que tinham cirurgia marcada?
Para já estamos a falar de uma faixa de situações em que a dilação no tempo dessas intervenções não tem um impacto significativo em termos de custos de saúde e qualidade de saúde, mas já se está a entrar por aí e os casos ainda estão a subir.
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