Kulkov. As tardes em que conversávamos tranquilamente ao sol

Kulkov. As tardes em que conversávamos tranquilamente ao sol


Tive a sorte de ser seu amigo. Era de uma inteligência marcante. Ficam as memórias de um rapaz que a morte levou aos 54 anos.


O telefone da minha velha secretária na Travessa da Queimada, onde fazíamos esse jornal mágico que se chamava A Bola, tocou com teimosia. Levantei o auscultador: do outro lado, uma das minhas fontes na altura, confirmou – “O Benfica acertou tudo com o Kulkov. Já está a caminho”. Era, como se dizia, um furo. O que não me eximia da natural confirmação, uma delas feitas através do José Augusto, o extraordinário correspondente que o jornal possuía em Moscovo. Estávamos no início da época de 1991. Não seria capaz de adivinhar que era também uma futura amizade que não tardaria a desembarcar em Lisboa: Vassily Sergeyevich Kulkov. Tinha completado há pouco tempo vinte e cinco anos. Estava disposto a vivê-los assim mesmo, por extenso!

A notícia desta vez não foi um furo. Até talvez fosse demasiado expectável para ser notícia. Com 54 anos, Kulkov morreu depois de uma daquelas teimosas lutas inúteis contra um cancro. Foi, decididamente, dos jogadores mais inteligentes que conheci ao longo destas décadas que se vão somando de carreira em jornais e que vai ficando juncada de mortos como se vivesse num universo de guerras e trincheiras. Vê-lo jogar era como assistir a lances de xadrez nos quais o instinto obedece cegamente aos movimentos antecipadamente previstos. Quem se recorda de Kulkov irá, certamente, falar das partidas que realizou em Londres, contra o Arsenal, ou em Leverkusen, contra o Bayer. Mas, esses foram os momentos do esplendor, não da ciência. E Kulkov tinha o dom de dominar a ciência de um jogo que tem tanto de simples como de complexo, tanto de belo como intrigante.

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