Mike Pence. O discreto conservador sobe à ribalta

Mike Pence. O discreto conservador sobe à ribalta


O vice-presidente é uma peça essencial da máquina eleitoral de Trump, garantindo a lealdade do bloco evangélico branco. 


Sejam as eleições de 3 de novembro ganhas por Donald Trump, infetado com covid-19 aos 74 anos, ou por Joe Biden, de 77 anos (fará 78 no dia 20 desse mês), os Estados Unidos preparam-se para ter o mais velho Presidente de sempre. Todos os olhos se viram para os seus vices, que têm ambições políticas próprias e um dia poderão ter de os substituir.

No canto dos republicanos temos o vice-presidente Mike Pence, antigo governador do Indiana. Disciplinado, discreto, profundamente religioso, é uma peça essencial, mas muitas vezes esquecida, da engrenagem à volta de Trump. Sem Mike Pence a seu lado, como explicar o apoio quase unânime do bloco evangélico branco a um dono de casinos, casado três vezes e gravado a gabar-se de agarrar genitália feminina sem permissão?

Com Mike Pence, os evangélicos brancos – conhecidos pela baixa taxa de abstenção, compondo 26% dos votantes em 2016, com 79% deles a optar por Trump – sabem exatamente no que votam. “Sou cristão, conservador e republicano, nessa ordem”, garantiu quando aceitou a nomeação para vice-presidente.

A sua grande promessa foi garantir a nomeação de juízes conservadores, que poderiam influenciar decisões relativas a assuntos como o aborto e os direitos LGBT+ durante uma geração. A Administração Trump já nomeou dois e vai a caminho da nomeação da terceira, Amy Coney Barret, apesar da condenação dos democratas.

É uma discussão em que Pence se sente à vontade, mas dificilmente terá o luxo de se centrar nela, sendo o líder da task force contra a covid-19. Tem o papel ingrato de defender a resposta da Administração Trump à pandemia, quando quase 2 em cada 3 norte-americanos a desaprovam, segundo sondagens recente da Ipsos. O enorme surto na Casa Branca e a contaminação do próprio Presidente mostram, aliás, as fragilidades da estratégia de combate.

No que toca à pandemia, Pence é “basicamente um papagaio do Presidente”, queixou-se Céline Gounde, epidemiologista e analista de saúde para a CNN, em declarações ao Vox. “Simplesmente soa como sendo um adulto mais são”.

“Liberdade” Não é a primeira vez que o discreto Mike Pence está na ribalta a nível nacional. Em 2015, quando governava o Indiana, ficou conhecido por apoiar uma proposta de lei para a “restauração da liberdade religiosa”, que, na prática, permitia que negócios recusassem servir a pessoas LGBT+. Face à contestação, o futuro vice-presidente acabou por aceitar uma versão mais moderada da lei.

Nascido numa família católica conservadora, convertido em evangélico na faculdade, Pence não foi sempre o homem tímido e calmo que hoje vemos. Em 1991, quando era apresentador de uma rádio conservadora do Indiana, chegou a descrever-se como um “Rush Limbaugh se ele bebesse descafeinado”, referindo-se ao controverso apresentador que em tempos foi o mais escutado dos EUA.

Agora, como vice-presidente, Pence terá de se mostrar o rosto mais sério da Administração, comunicando com coerência as posições de Trump. Nem que seja por já ter os olhos numa candidatura às próximas presidenciais. “Descobriremos nos próximos dias se Pence será o candidato principal em 2024”, avaliou o estratega republicano Alex Conant à Associated Press.