Da seca ao excesso: barragens cheias obrigam a descargas de segurança

Da seca ao excesso: barragens cheias obrigam a descargas de segurança


As chuvas intensas de março encheram as barragens e afastaram a seca. No Algarve e Alentejo, há reservas para os próximos anos, mas a chuva também trouxe um problema inesperado: descargas de emergência


A paisagem árida do Algarve já se tornou o retrato da escassez de água em Portugal. Rios secos, campos ressequidos e barragens perigosamente abaixo da capacidade tornaram-se a norma. Mas a intensa chuva que se fez sentir nas últimas semanas trouxe de volta a água que durante tanto tempo faltou.

Em março choveu mais do dobro no Algarve e três vezes mais no Alentejo do que a média registada no período de 30 anos, fruto da tempestade “Jana”. Em menos de um mês, as reservas atingiram os níveis máximos, obrigando a descargas preventivas para evitar riscos estruturais. O Algarve, que enfrentava uma seca extrema, vê-se agora com armazenamento suficiente para dois anos.

A comissão de acompanhamento da seca, que se reuniu em Faro na passada sexta-feira, já confirmou que o verão será mais tranquilo, sobretudo para a agricultura, algo que não o que não acontecia desde 2021. 

Algarve: Um alívio depois da crise

As barragens do Algarve, que estavam em mínimos históricos, encheram a um ritmo impressionante. Odeleite, uma das principais fontes de abastecimento da região, atingiu 94% da capacidade. Beliche seguiu o mesmo caminho, com 89%. A última vez que se viram números semelhantes foi em 2018. 

Todas as barragens do país estão acima dos 20%. Agora, a questão já não é a falta de água, mas sim a sua gestão.

«É um momento feliz porque as barragens algarvias estão a ficar cheias, mas por outro lado temos de ter muita atenção porque não sabemos quando chegará o próximo período de seca», alertou Teresa Fernandes, porta-voz da Águas do Algarve, ao Correio da Manhã. A entidade sublinha que esta recuperação hídrica não significa o fim das preocupações, pois os períodos de escassez podem voltar.

Alqueva com água para dois anos 

A barragem do Alqueva, no Alentejo, também se aproxima cada vez mais da capacidade máxima de armazenamento. O total armazenado garante água para, pelo menos três anos.

«As turbinas do Alqueva, portanto as centrais hidrelétricas, se forem ligadas as quatro conseguem escoar 800 metros cúbicos por segundo e os caudais afluentes a Alqueva, portanto a água que está a chegar a Alqueva é menos do que isso e, portanto, só com o turbinamento conseguimos garantir o nível nesta ordem de grandeza que estamos hoje», explica à SIC o presidente empresa de desenvolvimento e infraestruturas do Alqueva, José Pedro Salema.

Barragens cheias obrigam a descargas 

A situação não é exclusiva do Algarve. Em todo o país, as chuvas intensas encheram represas a níveis que já não se viam há anos. Dos 80 reservatórios monitorizados, 53 ultrapassaram os 80% da capacidade, sendo que 12 chegaram ao limite.

No centro do país, a albufeira de Castelo de Bode, uma das maiores do território nacional, também iniciou descargas de segurança. Esta barragem, essencial para o abastecimento de Lisboa, está perto da sua capacidade máxima, algo que não acontecia há muito tempo.

Além do impacto no abastecimento humano, estas precipitações trazem benefícios para a agricultura e produção hidroelétrica, setores que enfrentavam sérias dificuldades devido à seca prolongada.

Cheias no Vale do Tejo

Se no Algarve a chuva foi uma surpresa positiva, no Vale do Tejo tornou-se um desafio. As barragens espanholas e portuguesas foram forçadas a libertar grandes quantidades de água, provocando cheias em diversas localidades, o que obrigou a ativar o Plano Especial de Emergência para Cheia.

Em Santarém, estradas e campos agrícolas ficaram submersos. De acordo com a proteção civil, a chuva registada na Região de Lisboa e Vale do Tejo e as descargas das barragens e afluentes da bacia hidrográfica do Tejo aumentaram os caudais do rio e seus afluentes.