O mundo parou e as nuvens escuras sobre ele. Bem podem garantir-me que viajo, neste momento preciso, a 29,78 quilómetros por segundo em redor do Sol que não estou disposto a acreditar nisso, até porque não vejo o sol, só uma mancha cinzenta que caiu sobre o Sado como um daqueles cobertores de papa do tempo em que existiam baús nas casas dos avós. Não sei se as andorinhas já fizeram as malas, preparando-se para partir em direção a outro verão qualquer que substitua este que, entretanto acabou por aqui. Não gosto que não seja verão. Não gosto que os dias fiquem curtos e me mudem as horas por mais que teime em não aceitar intimamente essa mudança. Não gosto que a minha varanda deixe de estalar de sol e que os pardais parem de brigar pelos grãos de arroz que lhes deixo no parapeito. Quero, eu também, voar para qualquer lado onde se ferva de calor e a roupa se cole à pele por imposição do suor, mas o mundo está parado e nada anda sobre a sua superfície, transformada numa floresta de medos para mim incompreensíveis e inaceitáveis.
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