Amy Coney Barrett. Católica, conservadora e juíza do Supremo Tribunal

Amy Coney Barrett. Católica, conservadora e juíza do Supremo Tribunal


O Presidente dos EUA anunciou este sábado que Amy Coney Barrett era a sua escolha para substituir RBG no Supremo Tribunal.


“‘Fanática ideológica’ que ameaça os direitos do aborto, o plano de saúde e o ambiente”: foi assim, sem papas na língua, que o Guardian apresentou Amy Coney Barrett, a nova juíza do Supremo Tribunal norte-americano, citando ativistas preocupados com a escolha de Trump.

A sucessora de Ruth Bader Ginsburg, que morreu na semana passada, foi anunciada no sábado. É juíza do Tribunal de Recurso do 7.o Circuito, em Chicago, católica devota, trabalhou com o antigo juiz conservador Antonin Scalia (membro do Supremo Tribunal até à sua morte, em 2016) e já tinha sido apontada para esta instituição em 2018, quando a escolha recaiu sobre Brett Kavanaugh.

Numa cerimónia que aconteceu nos jardins da Casa Branca, Barrett, de 48 anos, a juíza mais jovem do Supremo Tribunal dos Estados Unidos, confessou estar “profundamente honrada” pela confiança demonstrada por Trump, que, por sua vez, elogiou a juíza como “uma mulher de intelecto e caráter notáveis”.

Esta é a terceira nomeação de Trump para o Supremo Tribuna e dá uma maioria conservadora ao corpo de juízes, de seis contra três liberais. “Esta é a minha terceira nomeação [de um membro do Supremo], depois do juiz [Neil] Gorsuch e do juiz Kavanaugh, e é um momento de grande orgulho”, disse o Presidente, apelando aos democratas para aceitarem esta nomeação e se “absterem de ataques pessoais e partidários”.

Antiaborto e receios religiosos Barrett foi professora de Direito até 2017, ano em que Trump a nomeou para o Tribunal de Recurso do 7.o circuito (Indiana, Illinois e Wisconsin). Não tinha experiência prévia no ramo jurídico. 

A sua nomeação levantou preocupações na ala democrata da política norte-americana, que teme as posições da juíza em relação a assuntos como o plano de saúde, o porte de armas e o aborto, em que esta pode oferecer um peso determinante na balança na revisão de Roe vs Wade (lei que permite o aborto legal nos Estados Unidos) e do Obamacare.

Apesar de a juíza ter afirmado perante o tribunal que as suas crenças não iriam comprometer o seu julgamento, há quem tema a veracidade desta afirmação. Barrett é membro da comunidade católica People of Praise, um grupo ultraconservador em que os homens são “chefes” e possuem autoridade total sobre as suas esposas, que, por exemplo, não têm o direito de negar ter relações sexuais com o marido nem de controlar a sua capacidade reprodutiva. As mulheres são conhecidas como “criadas”.

Esta terminologia, handmaiden em inglês, traçou comparações com a série distópica The Handmaid’s Tale, onde um grupo de mulheres são forçadas a viver como concubinas, e que obrigou inclusive a Igreja a mudar o termo.
Uma ex-membro do People of Praise, Coral Anika Theill, que escreveu um livro sobre esta experiência, Bonsheá: Making Light of the Dark, opôs-se à decisão da escolha de Barrett e descreveu este grupo como “uma seita abusiva em que as mulheres são completamente obedientes aos homens e os pensadores independentes são humilhados, interrogados, envergonhados e rejeitados”, cita o Globo. 

A nomeação de Barrett acontece antes de Ginsburg ser enterrada, ao lado do marido, na próxima semana, no cemitério nacional de Arlington. Poucas horas após a morte de Ginsburg, Trump deixou claro que nomearia uma mulher para o lugar e mais tarde anunciou que estava a considerar cinco candidatos. Mas Barrett era a favorita desde o primeiro momento e foi a única a encontrar-se com Trump.