Começou nos Pólo Norte, lançou-se há dez anos em nome próprio e, no mesmo período, abraçou profissionalmente um amor antigo: a cozinha. Miguel Gameiro teve de colocar os planos deste ano, que incluíam a celebração dos 25 anos da banda, em banho-maria. Quarenta concertos cancelados depois e após muitas receitas testadas em 2020, faz um balanço do caminho percorrido e do que ainda quer percorrer. A conversa teve três pilares: a música, a cozinha e, na reta final, outra paixão antiga: o Benfica.
Qual a memória mais antiga que guarda, aquela que ninguém lhe contou nem viu em fotografias?
É estar à mesa com o meu avô e ele a brincar, a divertir-se comigo. É a memória mais antiga que tenho.
E onde era essa mesa?
Em casa dos meus avós, em Belas.
O Miguel nasceu em Lisboa. A sua família veio para cá de outra zona do país?
Não, os meus avós já eram de Belas, a minha mãe nasceu lá também. O meu pai é que nasceu perto de Pombal.
Com essas gerações, não têm nada a ver com os fofos de Belas?
Tenho uma relação afetiva e cheguei a trabalhar nos fofos de Belas temporariamente – acho que foram dois dias –, só para comer os fofos à hora que me apetecesse. (risos) Não era bem assim, mas tenho uma história curiosa com os fofos: a pessoa que criou a receita morava por baixo da casa dos meus pais. Aquilo era uma moradia com andares, já não me lembro da pessoa, mas lembro-me que tinha lá as suas galinhas, que ali punham os ovos com que eram feitos os fofos de Belas. Nós vivíamos na parte de cima dessa casa. Aliás, quando começámos os Pólo Norte, os nossos amigos, no gozo, chamavam-nos os fofos de Belas. (risos)
Apesar de Belas ser hoje uma zona muito desenvolvida, na altura devia, em parte, parecer-se com o campo. Tem essa memória?
Sim, na altura era muito diferente do que é hoje. Belas sempre foi uma localidade onde havia muitas quintas, onde consta que as famílias da nobreza faziam as suas férias. Obviamente que com o avanço dos tempos, essas quintas deixaram de existir e passou-se à fase da construção. Ainda me lembro de estar a jogar à bola num campo de pinheiros e chegarem as máquinas para derrubarem as árvores e começarem a construir. Isso foi um bocadinho marcante, quando vieram dar-nos cabo do nosso campo de futebol. Foi uma memória forte.
Teria que idade?
Já era um bocadinho mais crescido, teria uns 11, 12 anos. Mas a rua sempre foi uma coisa importante na minha infância, e por isso é que digo que tive uma infância e uma adolescência felizes, porque passei grande parte do tempo a brincar na rua.
Jogar futebol e por aí?
Jogar futebol, saltar de casas em construção – no máximo dois andares, não nos atrevíamos a mais –, normalmente para as areias que estavam à entrada. Aquelas coisas mais parvas: achávamos boa ideia saltar de um segundo andar para a areia e gritar “Gerónimo”, o tal índio doido. (risos)
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