Depois de, na semana passada, ter escrito sobre a apresentação oficial da candidatura presidencial de Marisa Matias, prometi que esta semana deixaria umas linhas a Ana Gomes e, nessa medida, fá-lo-ei agora. E começo por dizer que Ana Gomes é uma personagem que me suscita uma mescla de sentimentos que pessoalmente se situarão entre o divertimento e a vergonha alheia.
O divertimento, sinto-o quando vejo Ana Gomes catapultar-se a si própria como a heroína da luta contra a corrupção, mas há, depois, declarações suas que são com esta postura, no mínimo, contraditórias. Talvez alguns portugueses já tenham esquecido e outros tantos não tenham visto, mas a menos que Ana Gomes tenha algum laivo de senilidade não poderá olvidar-se de que a dada altura, em entrevista que concedeu a um determinado órgão de comunicação social, ao ser confrontada com a pergunta, e cito, “Não acha que este tema incomoda José Sócrates?”, respondeu que, e volto a citar, “Não. E acho que a iniciativa deve partir dele. Não tenho dúvidas sobre a sua honestidade. Por isso digo que quem for sério e honesto não terá dificuldades em fazer prova de onde veio o dinheiro com que compraram casa, carro, férias, ações ou outros bens”.
Ora bem, perante estas elucidativas declarações, certamente compreenderão que tenho imensa vontade de tecer várias considerações. Mas não o farei. Não o farei porque Ana Gomes é o protótipo de pessoa que, como gosta de disparar para todos os lados, acaba sempre a disparar inclusivamente para os próprios pés. E dou outro exemplo. Lembram-se de uma cavalagem que Ana Gomes, a dada altura, terá feito contra a existência de alegados atos corruptos na aquisição de material militar pelo Estado, nomeadamente submarinos, quando Paulo Portas era ministro da Defesa? Já nessa altura era ágil em juízos de valor, indiretas e narrativas repetidas vezes sem conta, mas maioritariamente insustentadas. Ora, Ana Gomes, ainda enquanto eurodeputada socialista, ao ir a uma comissão parlamentar foi trucidada pela deputada Cecília Meireles, acabando absolutamente ridicularizada e a pedir desculpa à deputada em causa. E pior que pedir desculpa foi ter ficado sem pio quando, de novo confrontada por Cecília Meireles, não teve resposta quando lhe disseram que muitos destes negócios não haviam sido sequer delineados por Paulo Portas e pela direita, mas antes pelo Partido Socialista e o seu ministro da respetiva pasta.
Para quem duvidar do que digo, é ver as imagens, que elas ainda hoje circulam pelas redes sociais. Perante isto, creio que será já fácil compreender o sentimento de vergonha alheia que me invade ao ouvir Ana Gomes. Aliás, em bom rigor, este sentimento não é só a mim que me invade. A própria Ana Gomes deveria parar e avaliar o que a rodeia. Tem um PS e um António Costa que não a grama nem que fosse banhada a ouro, os apoios que até agora se lhe conhecem são absolutamente sofríveis, chegando ao ponto de nem Isabel Moreira, que tem tendência para o abismo, a apoiar, fazendo-o antes ao candidato comunista. E como se não bastasse, depois de passar meses a vociferar as mais variadas patacoadas contra tudo e contra todos, chega à sua apresentação oficial de candidatura na Casa da Imprensa e diz que não se candidata contra ninguém em particular. Só possível de acreditar porque se viu.
Não esperava, confesso, nada de especial, uma vez que era de Ana Gomes que se tratava. Mas há mínimos. Tanta pujança no espaço de comentário televisivo do canal em que tem tempo de antena, tantos dias a criticar tudo e todos, em especial André Ventura, e depois é esta miséria? Muito, muito, muito poucochinho. Henry Kissinger disse um dia que 90% dos políticos dão aos 10% restantes uma péssima reputação. Não sei se, em Portugal, a percentagem não ultrapassará os 90% mas, em minha opinião, Ana Gomes faz parte deste universo.