Milhares de crianças e jovens regressam à escola ao longo desta semana. Voltar às aulas causa sempre um nervoso miudinho. Mudar de turma, mudar de escola, conhecer novos amigos ou rever antigos, apresentar-se aos professores ou recuperar mestres já conhecidos. Ser finalista e estar perto do fim. Cada início de ano letivo é uma montanha-russa para alunos, pais e professores. Este ano é-o ainda mais.
Em 2020, o regresso à escola tem uma carga emocional suplementar. Entre nós continua um vírus maldito que causa receios e ansiedades. Temos mais, muito mais com que nos preocupar.
A pandemia fará parte do nosso quotidiano nos tempos mais próximos. Mas enquanto ela andar por aí, enquanto uma vacina não vir a luz do dia, a vida não pode parar.
Quando a covid-19 chegou, o país viu-se obrigado a afastar os jovens e as crianças das escolas. Foi feito o que tinha de ser feito perante os dados que eram conhecidos na altura. Sabemos agora, a esta distância, que uma geração inteira de jovens pagará um preço muito alto no futuro por esta grande pausa nas suas vidas.
Se a escola é, como eu acredito, o lugar mais estruturante e mais democrático das sociedades civilizadas, não podemos manter as trancas nos portões. Se a escola é, como eu acredito, um elevador social que oferece a cada jovem, independentemente da sua origem, a oportunidade de realizar os seus sonhos, não podemos desistir dela. Se a escola é, como eu acredito, a sede da cidadania, não podemos colocá-la numa quarentena sem fim.
Por muito meritório que seja o recurso às novas tecnologias – e foi notável o esforço de escolas e professores na adaptação ao ensino à distância –, isso constitui um complemento, nunca um substituto, do ensino presencial. Não há melhor alternativa à aprendizagem e formação na sala de aula.
Sabemos o que nos calhou em sorte: vencer este maldito vírus é o desafio de todos quantos vivem neste tempo.
Ora, não podemos vencer a covid-19 se permitirmos que o vírus iniba os nossos talentos e anule a nossa natureza.
Não podemos deixar de ser quem somos.
Aprender, explorar, criar. Desenvolver capacidade crítica, sentido de cidadania e um espírito curioso.
Isto é sobre quem somos. Mas isto também é sobre o papel que a escola tem sobre cada um de nós.
É com isto, com estas armas, que os homens e mulheres de todos os tempos venceram outros vírus e outras pandemias – é com estas armas que os melhores cientistas do mundo estão a desenvolver uma vacina que nos proteja.
É com isto, com estas armas, que todos nós voltaremos a ultrapassar o desafio da nossa geração.
Voltar à escola não é apenas um regresso à normalidade possível. É também a afirmação de que são as famílias e os jovens, e não um vírus qualquer, que escrevem o seu próprio destino.
Como é evidente, dizer isto não significa ignorar os problemas que vão sair-nos ao caminho. O ano letivo 2020/2021 não será um passeio no parque. Governo e autarquias têm o dever de aliviar o fardo da comunidade escolar. Todas as condições de segurança têm de ser garantidas. Todas as normas têm de ser claras e conhecidas. O Estado falhou muitas vezes e em muitos lugares aos portugueses. Falhar às famílias e à comunidade educativa não é uma opção. Tudo, rigorosamente tudo tem de ser feito para garantir que o risco nas escolas é reduzido ao mínimo – tendo cada um a consciência de que o risco é uma constante da vida em sociedade.
Quanto a nós, em Cascais já realizámos 700 operações de desinfeção de salas de aula e continuaremos a fazê-lo todas as semanas e todos os meses. Testámos professores e pessoal não docente em todas as escolas. Embora seja uma responsabilidade do ministério, não regatearemos apoios de equipamentos de proteção individual sempre que necessário. E estaremos sempre ao lado das escolas e dos seus diretores nos momentos mais difíceis. Quero a todos garantir que, no que depender da Câmara de Cascais, nada faltará para a sua segurança.
Vivemos um momento particular. E, por isso, gostaria de aproveitar as páginas do i para levar a todo o país uma mensagem de confiança (mensagem que tive oportunidade de transmitir também aos meus concidadãos de Cascais).
Uma palavra aos pais: serenem os vossos receios e instruam os vossos filhos a serem cada vez melhores cidadãos. Há muita coisa que não sabemos sobre o vírus. Mas já sabemos que, se cada um fizer a sua parte, a pandemia será cada vez menos uma ameaça.
Uma palavra aos professores: depois do pessoal de saúde, das forças de segurança e de tantos outros que garantiram que o país funcionasse, os professores, auxiliares educativos e todos os funcionários da comunidade escolar são agora a nossa nova linha da frente. São os nossos heróis anónimos.
Por fim, quero deixar uma palavra aos alunos: apelo a todos para que coloquem o melhor de vós em cada momento. Sejam melhores em cada segundo que estiverem nesse magnífico lugar chamado escola. Quanto mais longe forem na escola, mais longe irão na vida.
O sacrifício feito pelos vossos professores, em nome do progresso da sociedade, e a ansiedade dos vossos pais, em nome do vosso futuro, não merece nada menos do que isso.
Como pai e avó que também vê os seus iniciarem um novo ano, tenho confiança e esperança num ano de saúde e sucesso para todos.
Como concidadão com responsabilidades, farei o que estiver ao meu alcance para que nada falte na concretização desse desígnio de uma educação melhor.
Alguém dizia que é em tempos extraordinários que pessoas extraordinárias fazem as coisas mais extraordinárias.
Este é, pois, o vosso tempo. Aproveitem-no!
Presidente da Câmara Municipal de Cascais
Escreve à quarta-feira