De repente, Paris tornou-se portuguesa. As ruas e avenidas pejadas de gente de camisolas vermelhas, de bandeira vermelhas e verdes, a Torre Eiffel sem luzes, amuada, os franceses aborrecidos, regressando a casa sem a sua programada festa de Saint-Denis. De repente, Portugal era campeão da Europa e todas as fatalidades pareciam nunca ter chegado a existir, sobretudo aquela maldição azul de perdermos com a França, de perdermos sempre com a França, duas meias-finais de campeonatos da Europa, uma meia-final de um Campeonato do Mundo. Nada poderá algum dia ser igual ao que se passou na noite fervente do dia 10 de julho de 2016. Eder rematou à entrada da área depois de ter corrido uns metros no seu passo de gazela atrapalhada,Lloris olhou para a bola com um olhar de profunda tristeza, viu-a aninhar-se nas redes como se necessitasse de carinho, ouviu o grito uníssono que se soltou por detrás da sua baliza, o lugar onde os adeptos de Portugal se acumulavam e explodiram de uma alegria infinita.
Havia quem não acreditasse. Como acreditar numa equipa que empatara os primeiros três jogos da fase de grupos frente a opositores acessíveis – Islândia, Hungria e Áustria –, que se apurara como melhor terceiro graças a um golo serôdio dos islandeses num jogo paralelo, que sofrera a bom sofrer para eliminar a Croácia, com o golo de Quaresma a surgir aos 117 minutos, que ultrapassara a Polónia à custa de grandes penalidades e só dera um ar de classe com os dois golos de Ronaldo aos galeses na meia-final dos pobres, já que os esquemas dos sorteios tinham colocado do outro lado os grandes candidatos como a França, a Itália e a Alemanha? Havia quem não acreditasse e, se calhar, quem menos acreditou mais sentiu por dentro, do coração à alma, que não ficam assim tão distantes um do outro, a alegria de um país entornado nas margens do Sena.
Ronaldo, O Grande, Ronaldo, O Terrível, foi despachado de campo aos 25 minutos, caçado a patadas por um tal Dimitri Payet. Nesse momento, a desgraça voltou a pairar sobre os jogadores que carregam no peito os cinco escudos azuis da Batalha de Ourique.Mas Portugal foi para lá de Ronaldo, o rapaz do Funchal que chorava a sua mágoa enquanto um bando de traças pairava em redor da sua imagem de vencido das Termópilas.
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