Há 105 anos existia um armário castanho que servia para guardar os sapatos das crianças. É que, naquela altura, nem todos tinham calçado. Em 1915, muitas das crianças que entravam no Jardim-Escola João de Deus, na Estrela, em Lisboa, não tinham nada para enfiar nos pés e, durante a i República Portuguesa, quem não tivesse sapatos não podia ir à escola. João de Deus resolveu o problema e todos os miúdos calçavam sapatos iguais dentro da escola. Quando saíam, esses mesmos sapatos ficavam no tal armário. Entretanto, a realidade foi mudando, os anos foram passando, e o calçado que as crianças levavam nos pés quando saíam de casa acompanhava-as o dia inteiro. E o armário deixou de ser usado para guardar sapatos.
Mais de um século depois, chegou uma pandemia e o armário voltou a ter exatamente o mesmo propósito que tinha inicialmente – claro, com motivos diferentes, mas todas as crianças do ensino pré-escolar deixam agora naquele armário os sapatos que trazem de casa e calçam outros para estar no interior das instalações. Em 1915, as sapatilhas eram todas iguais, tendo como objetivo a indiferenciação entre ricos e pobres. Hoje, as sapatilhas são todas diferentes e o objetivo é mesmo diminuir a probabilidade de circulação do vírus. Esta é, aliás, uma das orientações dadas pela Direção-Geral da Saúde(DGS). As crianças do pré-escolar são obrigadas a trocar de calçado, assim como as das creches, mas, por exemplo, os alunos do 1.o ciclo não precisam de o fazer.
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