“Um médico, hoje, não é só formado para Portugal nem para medicina”

“Um médico, hoje, não é só formado para Portugal nem para medicina”


Pergunta e Resposta com António Almeida, diretor do novo curso de Medicina da Universidade Católica Portuguesa.


Quando preveem a abertura do curso e quantas vagas vão ter? Temos tudo preparado em termos de corpo docente e currículo. Falta fazer as obras de adaptação do edifício que era a Faculdade de Engenharia do campus de Sintra da Universidade Católica (ao pé do Tagus Park). O plano é abrir em setembro de 2021. Provavelmente vamos ter um arranque mais leve, mas em velocidade de cruzeiro vamos receber 100 alunos por ano, o que vai contribuir para a qualidade do ensino: vamos ter um rácio baixo de alunos por docente, vão poder participar no dia-a-dia das equipas, e não serem apenas observadores durante os estágios clínicos.

Como vai ser o acesso? As notas vão ser mais baixas? Cumprindo a legislação, as notas do 12.o e exames vão contar 85% e 15% vamos poder usar com outros critérios de seleção. Vamos ter entrevistas vocacionais e de resolução de problemas. Vão ser sempre notas bastante elevadas, possivelmente, inicialmente mais baixas do que no Estado – é natural que os alunos escolham universidades já mais estabelecidas no país –, mas esperamos captar os melhores alunos do país.

Como vê a crítica do CEMP de que este curso é um capricho e não faz sentido no país? Percebo e partilho a preocupação do conselho de escolas médicas: tem a preocupação legítima de que todos os médicos formados no país tenham emprego e a possibilidade de ensino pós-graduado. Dito isto, é importante ter consciência de que o ensino pós-graduado não é determinado pelas faculdades, mas pela ordem e pelo Ministério da Saúde, não está nas nossas mãos. O que está nas nossas mãos é dar a melhor formação possível aos alunos e ferramentas para prosseguirem as carreiras que desejarem.

As saídas não devem pesar na limitação do acesso? Penso que não. Deve pesar tanto como o número de escritórios pesa no número de advogados que são formados. Um médico, hoje em dia, não é só formado para Portugal, mas para o mundo, e não é só formado para medicina, há muitas outras carreiras associadas, da indústria farmacêutica à gestão. É essencial dar liberdade de escolha aos alunos para poderem estudar o quiserem. Se não houver lugar de internato em Portugal, poderão fazê-lo noutros países. E temos 400 médicos recém-formados noutros países que se candidatam às vagas de internato em Portugal. Se cem ficarem a fazer o curso na Católica, não mudamos muito a dinâmica.

Como vê a leitura de que houve pressão política para abrir o curso? Não sei se se pode dizer que houve pressão porque, mesmo aumentando o número de vagas hoje, só vamos ter médicos daqui a dez anos. É sempre um investimento de longo prazo. Tudo o que seja uma preocupação com qualidade é legítima e também a temos. Tudo o que a ordem e o conselho nos apontarem nesse sentido são preocupações que vamos acautelar. A ordem aponta como principal reserva o futuro da PPP de Loures.

O curso tem um plano B caso o hospital deixe de ser gerido pela Luz? A nossa parceria é com a Luz Saúde e com o Hospital Beatriz Ângelo (HBA), em que asseguramos a continuidade caso a administração do hospital deixe de ser do grupo. Se o HBA deixar de ser ser administrado pelo grupo Luz, manterá a ligação à faculdade de Medicina. Além disso o Hospital da Luz tem condições para ser hospital universitário. Existe um decreto-lei de 2018 e o Hospital da Luz cumpre todos os critérios. 

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