Um dia estava na redação e recebi um telefonema de um jovem a oferecer-se para escrever textos de opinião. Achei piada ao atrevimento e pedi-lhe para me enviar um artigo. Mandou-me um que tinha já feito, e pedi-lhe para escrever um atual. Duas horas depois mandou outro. Assim começou a vida de Sebastião Bugalho nos jornais. Depois convidámo-lo a fazer um estágio de jornalismo e, no primeiro dia de trabalho, fez vários artigos, desde internacional a política e penso que até de desporto. Um jovem cheio de si, com uma confiança superior à de Jorge Jesus. Passado pouco tempo ficou com fama de jovem prodígio na TVI e passou a ser convidado para fazer comentário político com José Miguel Júdice e Constança Cunha e Sá, tornando-se uma personagem mediática – nessa altura andaria na casa dos 22 anos. Chegou mesmo a ter um programa na TVI com António Rolo Duarte, Novos Fora Nada. Depois de abandonar o i e o SOL foi trabalhar para um escritório de advogados, além de ter aceite o convite para concorrer como deputado independente do CDS à Assembleia da República. O banho eleitoral retirou-o dos holofotes, mas Marcelo Rebelo de Sousa não prescinde de o ouvir, tendo-o convidado recentemente para almoçar, juntamente com José Manuel Fernandes, António Carrapatoso, Duarte Schmidt e João Carlos Espada, para sentir as preocupações da direita. Quando questionado por que razão foi convidado, Sebastião Bugalho é rápido na resposta: “Marcelo quis ouvir-me porque sou muito bom”. É assim o jovem de 24 anos que, no íntimo, acredita que terá um grande futuro político.
O que o levou a ir para a política e a ser candidato do CDS, quinto da lista por Lisboa?
Como independente. Ao contrário do que o meu perfil assumidamente politizado poderia dar a entender, não era nenhum plano, não havia nenhuma estratégia. Não estava à espera de ser convidado para nada por uma razão simples: fartava-me de escrever e de criticar as lideranças da oposição na altura. Portanto, não estava à espera de ser convidado por pessoas que tanto tinha criticado com tanta veemência. Aquilo que me levou a dizer que sim ao convite da Assunção, de quem fiquei amigo, foi um bocadinho pensar que há oportunidades que não surgem duas vezes e a minha consciência cívica de que havia uma série de coisas no país que estavam mal e de achar que tinha um contributo a dar. Mas era um interesse puramente cívico e acho que muitos comentadores políticos em Portugal, na sua maioria, diria eu, passam a carreira inteira no sofá a dizer mal de tudo e todos e nunca se sujeitam ao escrutínio de ninguém. Estão sujeitos aos cliques nos sites e podem dizer as maiores baboseiras para os terem. Acho que aquilo que decidi fazer foi descer um bocadinho do pedestal de crítico e ir ver como era o outro lado. Acho que isso me fez bem.
Há quem diga que não desceu mas que subiu ao pedestal… e que achava que ia ser o novo Paulo Portas do CDS…
A comparação com o Paulo Portas, apesar de ter estima pessoal por ele e admiração política e intelectual, porque é um homem que mudou a direita em Portugal – e não há muita gente que possa dizer isso –, é uma comparação que não aceito por uma razão simples: Paulo Portas tem uma vocação empresarial que eu não tenho. É um homem das grandes empresas, que conhece o tecido empresarial português e olha para o mundo de uma perspetiva de conhecedor dessas economias, nacional e internacionais. Não tenho essa vocação empresarial. Dito de outro modo, o meu interesse na política era quase romântico, literário. Não foi um interesse premeditado, pensado. Foi quase instintivo.
Leia o artigo completo na edição impressa do jornal i. Agora também pode receber o jornal em casa ou subscrever a nossa assinatura digital.